Grupo Luz Saúde reuniu especialistas para debater desafios e inovações na área do cancro do pâncreas

25 de Novembro 2021

O Hospital da Luz fez questão de assinalar o Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, na passada quinta-feira, promovendo a discussão de vários temas relacionados com a prática clínica e a investigação, dois campos de trabalho do Grupo Luz Saúde.

A reunião decorreu no Hospital da Luz Lisboa e arrancou com uma reflexão sobre os 10 anos de atividade do Grupo Luz Saúde, que se dedica ao tratamento do cancro do pâncreas no Hospital da Luz e no Hospital Beatriz Ângelo, desenvolvendo também investigação nesta área.

“Somos um grupo sólido, um grupo que trata um número bastante significativo de doentes de acordo com o estado da arte”, disse ao HealthNews o cirurgião e diretor clínico do Hospital da Luz Lisboa, Rui Maio, que organizou o evento. O médico frisou a importância de separar a investigação do tratamento dos doentes, que “têm de ser tratados da melhor forma, de acordo com a melhor evidência científica”, o que não implica que não possam integrar ensaios clínicos, ressalvou.

Segundo o diretor clínico, “apesar de todos os avanços”, “esta é uma patologia muito ingrata”, “um pouco negligenciada, uma vez que continua subdiagnosticada”, e “com um prognóstico muito reservado”. Esta realidade é agravada pelo facto de a incidência estar a aumentar e de a doença aparecer recentemente em populações mais jovens, a partir dos 50 anos.

O seu diagnóstico é frequentemente tardio, já que “as manifestações clínicas são muitas vezes pobres”, o que condiciona a “única solução curativa”, a cirurgia. “Só 20% dos casos são operáveis”, referiu o cirurgião.

Portanto, fazer um diagnóstico mais precoce é um dos grandes desafios no combate ao cancro do pâncreas, por isso “devem-se identificar as populações em risco”. Rui Maio acrescentou que os outros grandes desafios são a prevenção – “há uma série de fatores que podem ser corrigidos”, como a obesidade, o tabagismo e a diabetes – e o tratamento, nomeadamente encontrar terapêuticas dirigidas eficazes.

Estas e outras questões foram discutidas ao longo da tarde do dia 18 de novembro. Rui Oliveira – médico anatomopatologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – esclareceu, em declarações ao HealthNews, que a sua apresentação, intitulada “Predisposição genética e papel dos rastreios”, “prende-se essencialmente com o papel do rastreio na deteção precoce dos carcinomas do pâncreas. Sabemos de várias fontes da literatura que o carcinoma do pâncreas tem uma mortalidade elevadíssima e com custos muito elevados em termos de cuidados de saúde. Então, a ideia seria detetar os cancros de forma precoce”.

Esta é uma questão premente, mas só é possível fazer rastreio a doentes de alto risco, que são sobretudo aqueles que têm “uma história individual de episódio de pancreatite prévio ou em idade muito precoce” ou uma “história familiar” de cancro do pâncreas em pelo menos dois familiares próximos, em primeiro ou segundo grau, explicou o especialista.

Depois, segundo Rui Oliveira, os desafios continuam: “Temos que saber bem o que fazer com estes doentes, porque a cirurgia pancreática, não sendo desprovida de riscos, apresenta complicações obviamente importantes em termos de morbimortalidade”. Ou seja, também é difícil decidir quando e como atuar.

Sandra Faias, gastrenterologista do Hospital da Luz, falou sobre “a abordagem terapêutica das neoplasias quísticas do pâncreas, que são lesões importantes, porque são cada vez mais frequentes, não sabemos ainda muito sobre elas e sobre a sua história natural e percebemos que elas estão a ser subtratadas”, declarou ao HealthNews. “Temos que as selecionar melhor e há muita investigação a ser feita nesta área”, acrescentou.

“O que foi muito interessante nesta sessão foi que houve investigação clínica e investigação básica. As questões importantes para os doentes surgem geralmente na nossa prática clínica, de ver os doentes, de ver os problemas, mas sozinhos não os conseguimos resolver. Cada vez mais se verifica que são necessárias técnicas laboratoriais muito avançadas para melhorarmos o manejo e a orientação clínica dos nossos doentes”, contou-nos Sandra Faias, no final de uma tarde em que os intervenientes e a audiência ouviram falar tanto de problemas como de inovações que dão esperança. “Podemos vislumbrar as capacidades que teremos no futuro de diagnosticar melhor e tratar melhor. Nesta sessão, vimos inovação técnica cirúrgica, inovação em termos de terapêutica personalizada, inovação em termos de diagnóstico. Portanto, são as chaves para o futuro”, concluiu a médica.

HN/Rita Antunes

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