João Gomes Consultor da Innovair (Eng. e Doutor Engª Química IST); Delegado nacional à Cost Action 17136 – Indoor Air Pollution Network, Prof. Coordenador com Agregação, ISEL.

Qualidade do ar interior: um imperativo de saúde pública e ambiental

11/25/2021

O ar que respiramos é uma substância indispensável à vida, sendo composto por ar seco normal, quantidades variáveis de vapor de água e de diversos produtos gasosos, líquidos ou sólidos, naturais ou antropogénicos, inertes ou radioativos. O ar considera-se poluído quando contém um ou mais dos produtos considerados como “poluentes” em quantidades tais, e durante um tempo suficientemente longo para que se manifestem efeitos nocivos ao nível do conforto e variedade dos seres vivos ou ao nível da conservação dos materiais, do clima, das culturas, etc. Nesta base, é fundamental conhecer as concentrações dos diversos constituintes do ar interior, a partir dos quais é possível observar os efeitos da poluição, definir normas de qualidade e verificar o respeito pela mesmas, através de uma monitorização eficiente.

O ar que se respira no interior dos edifícios é muito diferente do ar ambiente exterior. É certo que os poluentes exteriores mais comuns podem infiltrar-se nos edifícios. Contudo, um dos maiores problemas relativamente à qualidade do ar interior é a emissão de poluentes no interior dos edifícios e a sua acumulação devida a ventilação deficiente e baixas renovações do ar.

Estudos recentes realizados sobre a natureza e extensão da poluição do ar revelaram que a qualidade do ar interior é a parte mais significativa da exposição pública à poluição do ar. Em geral, em meios urbanos, esta exposição excede 90% (60% no local de residência, 30% no local de trabalho e 5% no tráfego urbano).

Estas razões levaram ao aparecimento do Síndroma do Edifício Doente que, também em Portugal, afeta cada vez mais indivíduos e que ocorrem frequentemente em edifícios com sistema central de ventilação em que o tipo de sistema de humidificação resulta em fonte de contaminação por micróbios e fungos.

Este síndrome apresenta várias vertentes como sejam a exposição dos indivíduos a níveis elevados de poeiras no ar e de compostos orgânicos voláteis libertados pelos materiais de construção e infiltrados a partir do exterior, além das doenças provocadas por vírus e bactérias resultantes de manutenção e limpeza deficiente dos sistemas de ar condicionado, que pode vir a resultar em consequências tão graves como sejam as infecções pulmonares e as pneumonias. Por todas estas razões urge realizar, sistematicamente, a verificação do projecto do sistema de ventilação e condicionamento térmico em edifícios, assim como a monitorização dessas mesmas condições nos edifícios.

Assim, tal como para o ar exterior, têm vindo a ser estabelecidos valores-limite para as concentrações de diversos compostos considerados nocivos para os seres humanos expostos, para o ar interior e, em particular, para atmosferas de trabalho. Estes valores baseiam-se em critérios toxicológicos que tem vindo a evoluir à medida que o conhecimento sobre a toxicidade das substâncias vai sendo mais fundamentada, o que origina que os valores-limite sejam revistos periodicamente.

A acrescer a esta preocupação com os poluentes típicos do ar interior, o ar interior é ainda um meio propício para a transmissão de vírus, entre os quais o coronavírus SARS-Cov-2, responsável pela COVID-19. Na verdade, a propagação deste vírus pode ocorrer a partir de pessoas infetadas e através de gotículas respiratórias, aerossóis (partículas aéreas de muito pequena dimensão) que podem viajar até dezenas de metros nos espaços fechados, o que levou à tomada de medidas de prevenção como o uso de máscaras respiratórias e observação de distâncias de segurança em espaços interiores.

Por todas estas razões, é de importância primordial, efetuar-se uma regular monitorização dos parâmetros que definem a boa qualidade do ar interior, ou seja, da concentração dos poluentes atmosféricos, por forma a definir condições adequadas de ventilação e renovação do ar interior e, assim garantir a existência de meios salubres para os seus ocupantes.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Carina de Sousa Raposo: “Tratar a dor é investir em dignidade humana, produtividade e economia social”

No Dia Nacional de Luta contra a Dor, a Health News conversou em exclusivo com Carina de Sousa Raposo, do Comité Executivo da SIP PT. Com 37% da população adulta a viver com dor crónica, o balanço do seu reconhecimento em Portugal é ambíguo: fomos pioneiros, mas a resposta atual permanece fragmentada. A campanha “Juntos pela Mudança” exige um Plano Nacional com metas, financiamento e uma visão interministerial. O principal obstáculo? A invisibilidade institucional da dor. Tratá-la é investir em dignidade humana, produtividade e economia social

Genéricos Facilitam Acesso e Economizam 62 Milhões ao SNS em 2025

A utilização de medicamentos genéricos orais para o tratamento da diabetes permitiu uma poupança de 1,4 mil milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos últimos 15 anos. Só em 2025, a poupança ultrapassou os 62 milhões de euros, segundo dados divulgados pela Associação Portuguesa de Medicamentos pela Equidade em Saúde (Equalmed) no Dia Mundial da Diabetes.

APDP denuncia falhas na aplicação do direito ao esquecimento para pessoas com diabetes

No Dia Mundial da Diabetes, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal alerta que a Lei do Direito ao Esquecimento não está a ser cumprida na prática. A associação recebe queixas de discriminação no acesso a seguros e crédito, defendendo que a condição clínica não pode ser um obstáculo à realização pessoal e profissional. A regulamentação da lei está em fase de auscultação pública, mas persiste o receio de que não garanta plena equidade.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights