Consulta aberta de HTA no Hospital da Covilhã: “Perante esta doença todos somos poucos”

7 de Dezembro 2021

A consulta aberta de hipertensão arterial do Hospital da Covilhã teve início em junho de 2020. Desde então, recebeu mais de 350 doentes. Sem marcações ou outras complicações. O cardiologista Manuel de Carvalho Rodrigues defende que face à prevalência e à mortalidade associada a esta doença, “todos somos poucos”.

HealthNews (HN) – Como surgiu a “consulta aberta de hipertensão” no Hospital da Covilhã, pioneira a nível nacional?

Manuel de Carvalho Rodrigues (MCR) – Na zona da Covilhã, de acordo com os números oficiais, o controlo da hipertensão arterial é dos mais baixos do país. Pareceu-nos necessário criar uma estrutura mais facilitadora, com um melhor e mais rápido acesso, que pudesse dar uma resposta adequada a esta situação. 

Abrimos a consulta com este intuito e tentámos promovê-la através das estruturas locais da sociedade civil. Desde os centros de saúde, às farmácias e ao próprio hospital. Começou lentamente e hoje é uma realidade de que nos orgulhamos muito.

HN Quem integra a equipa?

MCR – A equipa é constituída pelo Prof. Miguel Castelo Branco, internista e atual diretor dos Cuidados Intensivos do Hospital da Covilhã, pela enfermeira Cláudia Mingote e por mim próprio. Contamos com a Enfermeira Cláudia para a vigilância, durante o tempo que consideramos necessário, até o doente atingir níveis aceitáveis, estabilizar e poder regressar então à comunidade, isto sem esquecer toda a parte relativa ao ensino, conhecimento da doença e riscos cardiovasculares associados.

HN – Como funciona?

MCR – É uma atividade que está, por definição, “aberta”, ou seja, não necessita de marcação. Permite aliviar os Serviços de Urgência de doentes que a eles recorriam devido a crises hipertensivas e, ao mesmo tempo, criar uma atuação protocolada e uma estratégia comum para todos os doentes com hipertensão não controlada.

HN – Não será fácil de gerir…

MCR – Não é fácil mas é um projeto em que nos empenhamos muito. 

HN Teve início em junho de 2020. Quantas pessoas recorreram à consulta até agora?

MCR – Ao longo de um ano atendemos mais de 350 pessoas. A esmagadora maioria são doentes hipertensos em que não existe um controlo da sua pressão arterial. Desde o grau 1 ao grau 3, são doentes não controlados a precisar de uma estratégia de atuação que reverta os seus valores para níveis normais. 

HN – O que revelam os inquéritos de satisfação, eficácia e qualidade, dirigidos aos doentes?

MCR – O feedback é muito bom. Quero acreditar que os doentes se sentem bem, percebem a ideia e estão mais conscientes dos riscos e da possibilidade, que achavam que não existia, de poderem controlar a sua tensão arterial. 

Há muita gente que se resigna àquela ideia de que “já o meu avô era hipertenso; o meu pai também…”. Mas não se tem de ser, por resignação, hipertenso. Quando percebem que, depois de implementar uma determinada estratégia, com apoios bem mais próximos e bem mais curtos na avaliação, conseguem chegar a valores que pensavam serem impossíveis, ficam muito agradados com a resposta dada na consulta.

HN – Os doentes têm a possibilidade de aceder a outras especialidades? Por exemplo, consultas de nutrição?

MCR – Temos tido uma resposta fantástica por parte dos nutricionistas do hospital relativamente aos doentes com mau controlo ponderal. Isso é algo que muito nos agrada porque estão muito atentos e percebem que a nossa resposta é a mais adequada. Fazemos uma pré-triagem e referenciamos os doentes que precisam, efetivamente, de um controlo ponderal mais especializado e vigilante. 

HN – A “consulta aberta da hipertensão” funciona, assim, numa lógica de multidisciplinaridade?

MCR – O controlo da hipertensão, que é por definição uma doença multidisciplinar, depende de uma resposta multidisciplinar. Para além da Nutrição, temos também uma ajuda muito importante para as pessoas com Doença Obstrutiva do Sono. 

HN – A “consulta aberta de hipertensão” pode ser entendida como um complemento às consultas dos médicos de família?

MCR – Sim, certamente. Não nos queremos substituir à Medicina Geral e Familiar. Sabemos que estão assoberbados de trabalho e especialmente neste período difícil de pandemia, em que muitos doentes ficaram mais desprotegidos. 

Logo que o doente está orientado, controlado e estratificado, volta para a comunidade, para manter a vigilância que já tinha na farmácia e que foi motivo de referência, ou para o seu médico de família. Dito de outra forma, volta para o seu seio comunitário nas suas diversas vertentes, sabendo que continua a ter na “consulta aberta de hipertensão” uma possibilidade de ajuda e de apoio.

Se alguns colegas, especialmente da área de influência do Hospital da Cocilhã, não conhecerem ainda a consulta e tiverem algum doente mais difícil de controlar, podem contar com esta ajuda de complementaridade. Estamos totalmente disponíveis para o receber.

A todos aqueles que nos referenciam doentes e que, estou certo, estão agradados com a ajuda que lhes damos, desejo endereçar, em nome da equipa da “consulta aberta de hipertensão”, o nosso obrigado por acreditarem em nós    e também porque, no seguimento e monitorização dos doentes, nos ajudam a melhorar o controlo da hipertensão na nossa região. 

Considero que, para controlar uma doença destas, com a prevalência e a mortalidade que tem, todos somos poucos. 

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