PM britânico pressionado a esclarecer alegações de festa imprópria

8 de Dezembro 2021

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi pressionado a esclarecer hoje no Parlamento novos indícios de uma alegada festa de Natal entre assessores no ano passado que terá violado as regras para conter a pandemia covid-19. 

Um vídeo interno obtido e divulgado pela estação ITV mostra a então porta-voz, Alegra Stratton, o assessor Ed Oldfield e outro colaborador a gracejarem sobre uma “festa imaginária” durante os ensaios para uma conferência de imprensa.

No vídeo, datado de 22 de dezembro, Stratton é intimada a responder a perguntas sobre uma festa de Natal em Downing Street na sexta-feira anterior.

“Esta festa imaginária foi uma reunião de trabalho e não teve distanciamento social”, brinca, entre risos e a piada de outro assessor de que “não foi uma festa, foi vinho e queijo”.

O vídeo vem alimentar as alegações de que uma festa terá ocorrido na residência oficial do primeiro-ministro, em Downing Street, a 18 de dezembro, quando Londres estava sob restrições apertadas devido à crise de saúde e encontros sociais em espaços fechados entre duas ou mais pessoas eram proibidos.

A notícia, inicialmente avançada pelo tablóide Daily Mirror na semana passada, foi, entretanto, confirmada por fontes do Governo a outros meios de comunicação britânicos, que adiantaram detalhes como a participação de dezenas de pessoas que consumiram álcool e fizeram jogos.

A resposta de Boris Johnson, dos atuais porta-vozes e de outros ministros tem alternado invariavelmente entre “não houve nenhuma festa de Natal” e “as regras sempre foram respeitadas”.

Porém, alguns deputados do Partido Conservador começaram a mostrar desconforto com a polémica, agravada com a divulgação do vídeo interno onde os assessores gozam aparentemente com a situação.

“As pessoas deveriam poder rir de vez em quando, mas isto não é um assunto para rir, tem de haver respostas”, afirmou hoje o deputado Roger Gale à BBC.

Aproveitando o debate semanal no Parlamento que se realiza à quarta-feira, Gale urgiu o primeiro-ministro a dizer “ou que estava errado, que houve uma festa e peça desculpas, ou que diga definitivamente que não houve qualquer festa em Downing Street no Natal passado”.

“Se ele disser isso, eu vou acreditar nele, e a razão pela qual vou acreditar é que ficará registado e mentir deliberadamente na Câmara dos Comuns seria um motivo de demissão”, vincou.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, condenou o governo pelo comportamento “vergonhoso”.

“Pessoas em todo o país estavam a respeitar as diretrizes mesmo quando estavam separadas dos seus entes queridos. Elas têm o direito de esperar que o Governo faça o mesmo”, escreveu na rede social Twitter.

Para o líder do principal partido da oposição, “mentir e brincar sobre essas mentiras é vergonhoso”, descrevendo Johnson como “um primeiro-ministro que se distanciou socialmente da verdade”.

O líder do Partido Nacional Escocês, Ian Blackford, vai mais longe e pediu a “demissão” do chefe do Executivo.

“Boris Johnson tem de se demitir. Todos seguiram as regras covid no ano passado. As pessoas ouviram do Governo, de Boris Johnson, o que era suposto fazerem”, afirmou à estação Sky News.

Milhares de pessoas no Reino Unido foram multadas desde o início de 2020 por desrespeitar as restrições ao realizar festas ilegais.

A Polícia Metropolitana de Londres disse que o vídeo divulgado pela ITV iria ser analisado em relação a “supostas violações” das regras, apesar de antes indicado que não iria investigar as alegações.

“É nossa política não investigar sistematicamente violações retroativas das regras covid-19, no entanto, o vídeo fará parte de nossas avaliações”, adiantou.

Hoje, o Daily Mirror noticiou uma outra alegada infração, desta vez do ex-ministro da Educação Gavin Williamson, que também terá participado numa festa de Natal onde fez um breve discurso a 10 de dezembro.

Um porta-voz do Ministério da Educação respondeu ao jornal que “embora fosse relacionado com trabalho, olhando para trás, aceitamos que teria sido melhor não ter sido feita uma reunião daquela forma naquele momento específico.”

LUSA/HN

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