Helder bate à porta de jovens moçambicanos que resistem à vacinação

12 de Dezembro 2021

Helder Amândio percorre diariamente as ruas do seu bairro na periferia de Maputo para sensibilizar os jovens a aderirem à vacinação contra a Covid-19, mas a desinformação e o receio são um obstáculo.

“A minha função é bater porta a porta e puxar as pessoas para a vacinação”, explica à Lusa Helder Amândio, 38 anos, a poucos metros do posto de vacinação no qual trabalha, no Bairro Ferroviário, local onde nasceu​​​​​​, ​nos subúrbios da capital moçambicana.

Helder faz parte das equipas de vacinação do Ministério da Saúde para se alcançar a meta de 17 milhões de moçambicanos imunizados até ao final de 2022, ou seja, os adultos do país de 30 milhões de habitantes.

Dados mais recentes do Ministério da Saúde indicam que, pelo menos, 6,8 milhões de pessoas tomaram uma dose de vacinas contra a Covid-19 em Moçambique e que 4,3 milhões já tomaram a segunda.

Apesar destes números, há focos de resistência, principalmente entre as camadas mais jovens, que são atualmente o grupo-alvo da campanha.

“Antes de começarmos a vacinar a camada jovem, nós recebíamos, em média, 300 pessoas por dia. Eram pessoas maiores de 50 anos e a adesão era muito alta. Mas a camada jovem é mais complicada e não está a aderir. Não sei se é pelo facto de ter mais acesso a notícias falsas”, declara Ducha Raul, chefe do posto de vacinação instalado no Bairro de Hulene, também na periferia de Maputo.

Bairros diferentes, a mesma luta.

É a resistência à vacinação que Helder Amândio quer reverter e, por isso, cruza os becos e ruelas do Bairro Ferroviário, alertando jovens com os quais cresceu para os riscos de uma eventual quarta vaga da pandemia em Moçambique.

“Vem aí a quarta vaga, que está quase na África do Sul. Muitos têm receio de tomar a vacina, mas os casos estão a subir”, alerta Helder Amândio, junto a um grupo.

Embora o número de mortes não esteja a crescer, Moçambique regista um ligeiro aumento de novas infeções, com mais 472 pelo coronavírus SARS-CoV-2 nos primeiros sete dias de dezembro, face a 36 na semana anterior.

Com o aproximar da quadra festiva, o receio de uma eventual quarta vaga é maior e, por isso, reforçam-se os apelos.

“Há certas casas onde encontramos cinco ou seis pessoas que ainda não se vacinaram e, por isso, adotámos este sistema de porta a porta para mobilizar as pessoas”, refere o chefe do posto de vacinação do Bairro Ferroviário, Manuel Malar.

Nassir Amade, 20 anos, é um dos jovens que no princípio teve dúvidas sobre a pertinência da vacina, mas hoje, depois de tomar a primeira dose no posto de vacinação do Bairro de Hulene, realça a importância da imunização.

“Como não podemos evitar isto, temos de tomar a vacina para nos prevenirmos e protegermos a nossa família”, declara à Lusa o jovem, que promete também “espalhar a mensagem entre os amigos”.

Olga Laurinda, outra jovem que se vacinou naquele posto, considera que o afastamento da juventude da campanha é causado pela desinformação, principalmente no que diz respeito aos efeitos colaterais da imunização.

“Muita gente diz que a vacina causa febres e dores”, declara a jovem, que agora admite que “não dói nada”.

Se a desinformação entre as camadas mais jovens na periferia de Maputo é um desafio para as metas do Plano de Vacinação em Moçambique, o trabalho de jovens como Helder Amândio, porta a porta, é fundamental para “salvar vidas”.

LUSA/HN

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