Mais de 700 enfermeiros de Lisboa entregam abaixo assinado contra “injustiça” laboral

14 de Janeiro 2022

 Daniela Santos é enfermeira há 25 anos e ganha mil euros por mês, “injustiça” que a levou a assinar uma carta de protesto que esta sexta-feira será entregue à administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC).

Especialista desde 2009, Daniela Santos só começou a receber o subsídio correspondente a partir de 2018 – mas, um ano depois, com a integração na nova carreira de enfermagem, perdeu pontos de desempenho.

Atualmente existem enfermeiros de formação base, que entraram no mesmo dia do que ela, mas ganham mais. “Há aqui uma inversão da tabela salarial”, denuncia, em frente ao Hospital de São José, para acompanhar o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que hoje entregará ao conselho de administração do CHULC um abaixo-assinado com “mais de 700 assinaturas” dos enfermeiros da instituição.

“O meu salário, ao final de 25 anos de trabalho, é 1.060 euros. Isto é lamentável, sinto-me humilhada, maltratada e desprezada”, desabafa. “Já não consigo aguentar isto”, confessa.

O salário de Daniela Santos é “a média” de um enfermeiro que não faça turnos, indica Isabel Barbosa, dirigente do SEP.

Entre as principais reivindicações destes profissionais de saúde estão a contagem de pontos para efeitos de progressão na carreira para todos os enfermeiros, a “correção de injustiças” como a inversão da tabela remuneratória de “inúmeros enfermeiros especialistas”, em resultado da Carreira de Enfermagem adotada em 2019, e a “descategorização dos enfermeiros supervisores”.

Abrangendo seis hospitais, o CHULC conta com um universo de 2.800 enfermeiros, mas a “injustiça” denunciada é “uma realidade generalizada” a outras instituições de saúde, frisa Isabel Barbosa, notando a “desvalorização da profissão”, que “está a empurrar os enfermeiros” para a saída do país.

Maria José Birrento, enfermeira especialista há 26 anos, fala num “acumular de injustiças” e corrobora que a “decisão difícil” de emigrar “só se deve, excetuando alguns casos (…), à situação de necessidade e a um profundo descontentamento com a profissão”, que resulta de “opções políticas”.

A enfermeira especialista sabe que a administração do CHULC não pode mudar a lei, mas “pode dar um contributo” e acompanhar as reivindicações dos enfermeiros, desde logo porque tem “autonomia para avançar com propostas”.

“A atribuição de relevante a todos na avaliação de desemprenho já resolveria” alguma coisa, disse Maria José Birrento.

“Os enfermeiros estarão sempre na linha da frente e a responder às necessidades da população. Não podemos é ignorar a citação e o sentido de injustiça (…) e temos que lutar pelos nossos direitos”, vincou.

“Para chegar ao final da carreira, com onze posições remuneratórias, seriam necessários 110 anos de serviço efetivo, logo aí se vê como (…) é mesmo para desmotivar”, critica Isabel Barbosa.

“Os enfermeiros sentem-se altamente revoltados com tudo isto, ainda mais ouvindo (…) o candidato António Costa [às eleições legislativas deste mês] dizer que quer resolver os problemas dos pontos”, quando é primeiro-ministro em funções e “pode resolver a situação de imediato”, recorda.

O SEP exige “que sejam considerados todos os anos de serviço para efeitos de progressão” na carreira, recordando que estes profissionais “se sentem exaustos”.

LUSA/HN

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