Cimeira UE/África deveria ter sido “obviamente” adiada por causa da Ucrânia e pandemia

16 de Fevereiro 2022

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) português António Martins da Cruz defendeu esta quarta-feira que a Cimeira União Europeia/África, que começa quinta-feira em Bruxelas, deveria “obviamente” ter sido adiada, por causa da pandemia e da crise na Ucrânia.

Para Martins da Cruz, a cimeira, marcada para 17 e 18 de fevereiro vai decorrer numa “má altura”, o que pode limitar o seu sucesso.

“Eu acho que os calendários nem sempre são controláveis, mas é uma má altura para realizar esta cimeira”, afirmou o antigo MNE em declarações à Lusa, considerando que a crise na Ucrânia “faz divergir as atenções dos meios de comunicação sociais internacionais e europeus e seguramente também africanos” para “o diálogo entre Europa e a África”.

Depois, “é uma má altura também por causa da pandemia. A pandemia não está resolvida nem na Europa e, muito menos, em África e a conjunção destes dois fatores faz com que, provavelmente, haja vários líderes africanos que não irão a Bruxelas e, porventura, até primeiros-ministros europeus dos países para quem a África não é uma prioridade política externa”.

“É óbvio que poderia ser adiada”, afirmou, lembrando que esta era uma reunião que já se deveria ter realizado, porque a última foi em 2017.

Na opinião de Martins da Cruz, “não se pode levar a mal” que a cimeira se realize durante a presidência francesa do Conselho da Europa e não durante o período em que Portugal esteve naquele lugar.

Até porque a França é um dos países da Europa para os quais a África é um ativo político nas suas políticas externas e um ativo económico: “São os países que tiveram colónias, que tiveram impérios em África, ou seja, Portugal, França, Reino Unido e, em muito menor escala, a Bélgica e um bocadinho Itália”.

“Tirando isso, a África tem uma importância muito reduzida, por exemplo, para os países do centro e do Leste da Europa”, disse.

Agora, “os franceses não tiveram em conta foi a crise da Ucrânia, que ninguém sabia, e julgavam que a covid-19 estaria resolvida e não está, particularmente em França, onde a sociedade civil está ao que parece muito mais agastada com as medidas governamentais, do que em Portugal ou noutros países do sul da Europa”, considerou.

O “sucesso ou não desta reunião, apesar da conjuntura negativa, tem a ver muito com a assistência, sobretudo para os países africanos, em que a palavra do chefe é importante, porque as orientações são muito mais de cima para baixo do que para os lados, como os equilíbrios dos sistemas políticos europeus “, concluiu, algo que só se poderá ver no dia 17 de fevereiro, na cerimónia de abertura.

Fontes diplomáticas europeias adiantaram na terça-feira que para a primeira cimeira entre União Europeia (UE) e União Africana (UA) desde 2017 são esperados em Bruxelas os chefes de Estado e/ou de Governo da generalidade dos Estados-membros de ambas as organizações, com exceção dos quatro países atualmente suspensos pela UA devido a golpes de Estado (Burkina Faso, Mali, Sudão e Guiné-Conacri) e, eventualmente, uma ou outra ausência de última hora.

Os PALOP deverão estar todos representados ao mais alto nível, tendo as mesmas fontes indicado que são esperados os chefes de Estado de Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, e o vice-presidente da República de Angola.

Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que participará em duas das sete mesas-redondas temáticas que serão organizadas ao longo dos dois dias da cimeira, além das cerimónias de abertura e de encerramento, que contarão com o conjunto de líderes.

A VI cimeira UE-África estava originalmente marcada para 2020, mas foi sendo sucessivamente adiada devido à pandemia de Covid-19, que impediu designadamente que ocorresse durante a presidência portuguesa do Conselho da UE no primeiro semestre de 2021.

LUSA/HN

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