MAAT quer atrair novos públicos ao museu e promover inclusão

12 de Março 2022

O novo diretor artístico do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, João Pinharanda, afirmou hoje que a programação deste ano foi desenhada para atrair novos públicos e trabalhar em programas de inclusão social, física e mental.

O historiador de arte e curador falava à agência Lusa à margem da visita guiada para a imprensa, hoje realizada, de apresentação da primeira exposição da nova temporada do MAAT para este ano, já com a assinatura de Pinharanda, intitulada “Traverser la Nuit/Atravessar a Noite”, com uma seleção de mais de cem obras da Coleção Antoine de Galbert.

Além desta mostra, que assenta numa coleção com um caráter histórico das artes visuais, com mais de 2.600 obras, está ainda prevista a inauguração de mais três exposições a 29 de março, sendo uma delas de Alexandre Farto ‘aka’ Vhils sobre nove cidades, intitulado “Cityscape”, outra sobre o projeto “Comunidades”, e ainda “Visual Natures”, que prossegue a abordagem das questões climáticas.

“Todo este caminho vai no sentido de tentar abrir o museu a novos públicos”, disse João Pinharanda, questionado pela Lusa sobre as opções da filosofia programática por detrás da atividade do MAAT deste ano.

E acrescentou: “É um bocado pretensioso falar em democratizar, mas, no fundo, o sentido é esse. Nós vamos ter colaborações com bairros, com associações culturais da zona de Marvila e das periferias de Lisboa, fazer ‘workshops’; haverá muita agitação em torno desta programação”, avançou.

Com a inauguração da exposição baseada na coleção privada de Antoine de Galbert, colecionador francês que veio à capital portuguesa para a inauguração da mostra nas instalações da Central Tejo, a área mais antiga do MAAT, no âmbito da Temporada Cruzada Portugal-França, e as três exposições previstas para o final de março, fica lançada uma programação que o diretor diz ter pensado “de forma muito abrangente”.

O objetivo foi, “por um lado, neste caso, recuperar uma linha de trabalho tradicional [no MAAT], que era a relação com as artes visuais no sentido mais amplo, porque há [nesta exposição] instalações, vídeo, pintura e fotografia, portanto vai além das artes plásticas, e com nomes de artistas que pudessem ser reconhecidos pela sua grande qualidade histórica e estética”.

Para isso – disse – pensou de imediato numa coleção, e que “fosse acessível e não conhecida em Portugal, mas, apenas de memória, porque as pessoas sabem que Antoine de Galbert é um grande colecionador francês que teve durante uma década uma casa de exposições, uma fundação, a La Maison Rouge, que fez exposições extraordinárias, fora dos esquemas previsíveis”.

É a segunda vez que a exposição “Traverser la Nuit/Atravessar a Noite” é apresentada no estrangeiro, e, relatou o diretor artístico, havia a circunstância de a poder integrar na Temporada Cruzada Portugal-França, projeto no qual começou a trabalhar inicialmente, mas do qual teve de se afastar para dirigir o MAAT.

No entanto, continua a manter uma relação bastante forte, “porque tem muita qualidade nas iniciativas que estão a ser feitas, e precisa de muita visibilidade”, defendeu João Pinharanda, que, entre 2016 e 2021, foi adido cultural da Embaixada de Portugal em Paris, e diretor do Centro Cultural Português em Paris – Camões.

Além deste eixo de trabalho, na Central Tejo, desenvolveu outro, para o edifício novo do MAAT, com três exposições, a inaugurar a 29 de março, uma delas ainda traçada pela antiga diretora, Beatrice Leanza, a “Earth Bits II. Visual Natures: The Politics and Culture of Environmentalism in the XX and XXI Centuries”, resultado da continuação da pesquisa iniciada com “Earth Bits – Sentir o Planeta”, em 2021.

“Na zona central do museu estará uma visão muito inesperada do trabalho de Vhils, em vídeo e som. É uma imensa instalação desenvolvida em nove cidades do mundo inteiro, antes da pandemia, mas pela maneira como tratou a imagem, faz-nos refletir sobre a cidade, a velocidade e a travagem que fomos obrigados a fazer perante as circunstâncias atuais”, descreveu o curador e crítico de arte, de 64 anos.

Quanto à exposição “Comunidades”, com curadoria de Alexandre Farto, António Brito Guterres e Carla Cardoso, terá a participação de artistas de múltiplas disciplinas, em particular da ‘street art’ e da arte urbana, “protagonistas de diferentes áreas da cultura contemporânea, que desenvolvem narrativas reveladoras das várias transformações e tensões da sociedade democrática”.

“Tem como objetivo dar-nos uma ideia das novas culturas urbanas que se têm desenvolvido a partir dos anos 1980 e 1990, e que continuam a ter uma expressão imensa a nível das artes visuais, ‘grafitti’, música e dança”, apontou.

Estas opções – no entender de João Pinharanda – visam satisfazer um certo perfil de público: “O mais clássico e tradicional, que está ansioso por ver exposições, sendo que há um défice espaços para isso, porque o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian está encerrado para obras, e terá ainda algum tempo de adaptação, e talvez possamos colmatar essa falha”, opinou.

O curador defende ainda que “é preciso cortar um pouco com o elitismo”, e apostar na “grande capacidade de diversificação” que os espaços do MAAT conjugam: “De um lado, a parte histórica que tem uma importância muito grande, dos serviços educativos, das mensagens sobre transição energética, didática, para criar consciência cívica, por outro, o lado artístico, de trabalhar com outros públicos”.

Uma área que João Pinharanda diz estar a trabalhar para o MAAT, no serviço educativo e nas artes visuais, plásticas, de música e dança, é o da “inclusão social, física e mental”.

“Vamos dar atenção a pessoas com deficiência, mobilidade e outro tipo de problemas no acesso à arte e à criatividade. Vai ser um trabalho lento, porque são questões que é preciso discutir com fundações, associações e artistas, e que só deverá notar-se no final do ano”, prevê.

João Pinharanda foi programador da Fundação EDP entre 2000 e 2015, tendo sido criador e organizador dos Prémios de Arte dinamizados pela instituição, nomeadamente o Prémio Novos Artistas Fundação EDP e o Grande Prémio Fundação EDP, tendo também participado na constituição da Coleção de Arte da Fundação EDP.

Inaugurado em 2016 com projeto da arquiteta britânica Amanda Levete, o MAAT é um dos espaços museológicos da Fundação EDP, em Lisboa, juntamente com a Central Tejo – Museu da Eletricidade, num conjunto designado por ‘campus’ cultural da entidade.

LUSA/HN

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