Ordem dos Psicólogos elabora documento com recomendações para cobertura mediática da guerra

19 de Março 2022

A Ordem dos Psicólogos recomenda aos media que nas notícias sobe a guerra na Ucrânia evitem imagens chocantes, humanizem todos os envolvidos na guerra, dando-lhes rosto e voz, evitem a polarização e ajudem a travar a desinformação.

aceda ao documento aqui

Num documento que reúne diversas recomendações para que as notícias não tenham um impacto negativo na população e que a transmissão de informação não fomente medo, ansiedade ou preocupação, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) sublinha a importância do equilíbrio, evitando uma cobertura “excessiva, repetitiva e sensacionalista”.

“Por exemplo, as imagens têm impacto e, se têm impacto, é evidente que não se deve apostar em imagens chocantes porque isso não vai ajudar a diminuir o impacto negativo nas pessoas. Para informar não precisamos de chocar”, disse à Lusa o presidente do Conselho de Especialidade – Psicologia Clínica e da Saúde da OPP, Miguel Riçou.

O especialista destaca ainda a necessidade de se manter o equilíbrio, evitando perspetivas dicotómicas: “Não compete aos media falar de bons e maus, de fortes e fracos. Todas as perspetivas em que só há duas dimensões contribuem para a polarização e, sobretudo, o mundo não é a preto e branco, há muitos cinzentos no meio”.

No documento “Dar notícias sobre a guerra”, a OPP lembra que a forma como as notícias são construídas “pode impactar não apenas as vítimas diretas e as pessoas que se encontram no cenário de guerra, mas toda a população”.

O conjunto de recomendações, que pretendem ajudar “a que as notícias estimulem comportamentos pró-sociais e pró-saúde”, os psicólogos destacam igualmente a importância da linguagem, aconselhando a que seja clara, simples, factual e imparcial para “evitar gerar alarmismo, stress e medo”.

A humanização é outra das vertentes sublinhadas pela OPP, que recomenda a dar “rosto e voz a todos os envolvidos na guerra, procurando humanizá-los”.

Focar os danos invisíveis e subtis da violência, a médio e a longo prazo, por exemplo, pobreza e exclusão, migração forçada, desemprego ou problemas de saúde psicológica é outro dos conselhos da Ordem.

Os psicólogos recomendam ainda aos media que “verifiquem cuidadosamente e junto das fontes competentes” informações sobre pessoas mortas, feridas, desaparecidas ou feitas prisioneiras, para garantir “não só a veracidade da informação, mas também tempo para que as famílias possam ser avisadas pelas autoridades competentes”.

Aconselha igualmente a combater o estigma e a discriminação, por exemplo, “verificando se referências culturais, religiosas, de idade ou de orientação sexual são, de facto, relevantes para a notícia em causa”.

Quanto ao uso de imagens e vídeos, apela a que seja verificada a sua autenticidade quando são recolhidos em zona de conflito, a indicar claramente as fontes e a “evitar a exibição e repetição de violência gráfica explícita, nomeadamente em horários nos quais é provável que possam existir crianças a assistir”.

No conjunto de recomendações para a cobertura mediática da guerra, a OPP pede ainda que os media valorizem “uma perspetiva orientada para a resolução não-violenta do conflito e para a construção da paz, tornando relevante aquilo que é comum e objetivos que possam ser partilhados”.

Nesta área, aconselha a incentivar a empatia, compaixão e comportamentos pró-sociais, focando a transmissão de informação sobre os apoios disponíveis, as diferentes formas de contribuir e instruções sobre como proceder em situações de risco.

Destacar depoimentos e iniciativas orientadas para a promoção da sensibilidade à diversidade cultural, por exemplo, “dando voz a protagonistas de ambos os lados do conflito que reclamam por uma solução pacífica” é outras das recomendações.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

ULS de Braga celebra protocolo com Fundação Infantil Ronald McDonald

A ULS de Braga e a Fundação Infantil Ronald McDonald assinaram ontem um protocolo de colaboração com o objetivo dar início à oferta de Kits de Acolhimento Hospitalar da Fundação Infantil Ronald McDonald aos pais e acompanhantes de crianças internadas nos serviços do Hospital de Braga.

DE-SNS mantém silêncio perante ultimato da ministra

Após o Jornal Expresso ter noticiado que Ana Paula Martins deu 60 dias à Direção Executiva do SNS (DE-SNS) para entregar um relatório sobre as mudanças em curso, o HealthNews esclareceu junto do Ministério da Saúde algumas dúvidas sobre o despacho emitido esta semana. A Direção Executiva, para já, não faz comentários.

FNAM lança aviso a tutela: “Não queremos jogos de bastidores nem negociatas obscuras”

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) disse esta sexta-feira esperar que, na próxima reunião com o Ministério da Saúde, “haja abertura para celebrar um protocolo negocial”. Em declarações ao HealthNews, Joana Bordalo e Sá deixou um alerta à ministra: ” Não queremos jogos de bastidores na mesa negocial. Não queremos negociatas obscuras.”

SNE saúda pedido de relatório sobre mudanças implementadas na Saúde

O Sindicato Nacional dos Enfermeiros (SNE) afirmou, esta sexta-feira, que vê com “bons olhos” o despacho, emitido pela ministra da Saúde, que solicita à Direção-Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) um relatório do estado atual das mudanças implementadas desde o início de atividade da entidade.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights