Maria João Almeida: “Os medical writers são profissionais com uma ambivalência enorme”

03/27/2022
Com a profissão a ganhar cada vez mais reconhecimento e notoriedade a nível internacional, um grupo de medical writers portugueses decidiu juntar-se e dar origem à Associação Portuguesa de Medical Writers. Em entrevista ao HealthNews, a dirigente da associação destacou o contributo destes profissionais na divulgação de informação científica. Segundo Maria João Almeida, os principais objetivos da APMW passam por "apoiar e dar alguma formação a futuros medical writers". 

HealthNews (HN)- A profissão de Medical Writer tem vindo a ganhar força a nível internacional. No entanto, a nível nacional pouco se fala e conhece esta profissão. O que destacaria sobre o papel deste profissionais?

Maria João Almeida (MJA)- Os medical writers são profissionais com uma ambivalência enorme cuja importância é crescente devido ao desenvolvimento da ciência e às novas formas de comunicação. Cada vez mais é feito o reconhecimento da profissão. Se no passado era pedido a estas pessoas para escreverem um artigo e o acabavam por não o identificar, hoje em dia os medical writers já são reconhecidos pelo seu trabalho. É algo muito gratificante.

Nestes últimos dois anos, a comunicação e a ciência mudou… Fomos obrigados a permanecer em casa, a comunicação envolveu muito mais os canais digitais e, portanto, toda a divulgação de informação científica mudou.

HN- O trabalho dos medical writers não se limita unicamente à redação de artigos, correto?

MJA- Não. Estes profissionais também fazem outro tipo de trabalhos, como por exemplo preparar apresentações para congressos ou inclusive conteúdos para os meios digitais. Também trabalham com a parte regulamentar de autorização de medicamentos, de relatórios de avaliação, de ensaios clínicos, entre outros.

HN- É uma das fundadoras e dirige a nova Associação Portuguesa de Medical Writers. Como surge esta iniciativa e quem a integra?

MJA- Começou como um pequeno grupo. Pensamos que seria bom ter uma associação que nos representasse a nível nacional. No meu caso, essa vontade surgiu devido ao facto de ser Public Relations Officer da Associação Europeia de Medical Writers. Já tenho este cargo há cinco anos. A associação oferece um conjunto alargado de oportunidades, seja de networking, formação ou como desenvolvimento da carreira. Aos poucos foram aparecendo outros profissionais portugueses e isso foi muito engraçado. Houve uma altura, mais ou menos, em 2018 que decidimos fazer um encontro de medical writers portugueses e éramos quase trinta pessoas. A partir desse momento formamos laços de amizade e hoje em dia somos nove os que integramos a Associação Portuguesa de Medical Writers.

HN- A associação inicia atividades já este ano. Quais serão os vossos principais objetivos?

MJA- Os nossos objetivos muito iniciais, e ainda muito embrionários, consistem em apoiar e dar alguma formação a futuros medical writers. No fundo queremos reforçar a profissão e criarmos uma comunidade para apoiar as pessoas com interesse na profissão.

Na associação temos profissionais de diversas áreas: farmacêuticos, veterinários, biólogos, bioquímicos. Temos pessoas formadas em Ciência e com gosto pela escrita.

HN- Consegue prever e identificar alguns desafios que possam vir a enfrentar?

MJA- Temos tido desafios desde que criamos a associação… Estamos ainda numa fase muito inicial. Vamos tentar encontrar parcerias, seja com instituições universitárias ou com a indústria farmacêutica. Tudo isto será um desafio porque todos os membros temos os nossos empregos e a associação acaba por ser um trabalho voluntário.

HN- Acredita que a criação da associação irá permitir com que a profissão seja reconhecida em Portugal?

MJA- Gostaríamos muito que assim fosse. Acredito que seja. Como referi há pouco já estamos a contactar instituições… Vamos tentando, aos poucos, construir um caminho para que isso aconteça.

Sabemos que há muitos internos que precisam de ter publicações para poderem concorrer à escolha de especialidade e, portanto, podemos ter um forte contributo neste âmbito.

Entrevista de Vaishaly Camões

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