Especialistas apontam que baixa taxa de vacinação entre idosos na China obriga a manter bloqueios

29 de Março 2022

A campanha de vacinação da China contra a Covid-19 deixou metade da sua população idosa suscetível a maiores riscos de doença grave, forçando o país a manter uma política rígida de prevenção, apontam analistas.

Mais de 130 milhões de chineses com 60 anos ou mais não foram vacinados, ou receberam menos de três doses, colocando-os em maior risco de desenvolver sintomas graves ou morrer, em caso de infeção, segundo um estudo da Universidade de Hong Kong (HKU).

O mesmo estudo apurou que a vacina da Sinovac, desenvolvida pela China, é menos eficaz na prevenção da morte por Covid-19 entre os idosos do que a inoculação com a vacina da BioNTech/Pfizer, a menos que sejam dadas três doses.

A grande maioria da população chinesa foi vacinada com as inoculações da Sinovac ou Sinopharm, que também requer três doses para manter um alto nível de eficácia.

O estudo da HKU, publicado na semana passada, apurou que três doses da Sinovac são 98% eficazes na prevenção de doenças graves em pessoas com mais de 60 anos – uma taxa semelhante à vacina da BioNTech. Mas duas doses revelaram apenas 72% e 77% de eficácia, na prevenção de casos graves e morte, respetivamente.

A vasta escala da população idosa suscetível de doença grave ou morte na China força as autoridades a aplicar medidas de bloqueio, para acabar com surtos que se alastraram a várias cidades. Apenas 20% da população com 80 anos ou mais receberam três doses.

Xangai, a ‘capital’ económica da China, iniciou na segunda-feira um bloqueio, organizado em duas fases, e que abrangerá todos os seus 26 milhões de moradores, para combater uma vaga de casos que rapidamente se multiplicou na comunidade.

Na província de Jilin, no nordeste do país, todos os seus 24 milhões de habitantes estão sob quarentena há quase um mês. Foi a primeira vez que a China restringiu uma província inteira desde o bloqueio de Hubei, cuja capital, Wuhan, foi o epicentro original do novo coronavírus.

Noutras partes do país, dezenas de milhões de pessoas enfrentam medidas de confinamento, mais ou menos rígidas.

Pequim aumentou os esforços para administrar uma terceira de inoculação aos idosos, no final de 2021.

Mas especialistas consideram que o sucesso do país em conter o vírus, em conjunto com a desconfiança da população mais velha em relação à vacina, prejudicou a campanha de inoculação.

“O sucesso inicial da política de ‘zero casos’ criou uma falsa sensação de segurança entre os idosos”, escreveu Yanzhong Huang, especialista em políticas de saúde pública do Conselho de Relações Externas, um ‘think tank’ com sede em Nova Iorque.

“Muitas pessoas mais velhas pensaram: ‘não há vírus, por que devemos preocupar em vacinar-nos e correr o risco de sofrer os efeitos colaterais”, acrescentou.

Huang considerou que a hesitação face às vacinas é ainda mais prevalente nas áreas rurais, que são as mais vulneráveis no caso de um surto descontrolado, devido à escassez de hospitais e médicos.

A taxa de vacinação na China continental é melhor do que em Hong Kong, onde 69% dos residentes com 80 anos ou mais não estavam vacinados no início de fevereiro.

Desde então, a variante Ómicron dilacerou a população idosa não vacinada, deixando o território com o maior número de mortes do mundo por milhão de habitantes.

A China registou mais de 65.900 casos nas últimas semanas, forçando várias cidades a implementar bloqueios localizados. Estas medidas parecem ter protegido os mais vulneráveis: o país teve apenas duas mortes por Covid-19 este mês, segundo estatísticas oficiais.

“Até que os custos excedam os benefícios, o Governo [chinês] não tem escolha a não ser manter a política de ‘zero casos’”, frisou Huang.

LUSA/HN

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