Escolas ainda não reabriram totalmente em 23 países do mundo

30 de Março 2022

Quase 147 milhões de crianças perderam mais de metade da sua escolaridade presencial nos últimos dois anos devido à pandemia e, dois anos depois, as escolas ainda não reabriram totalmente em 23 países do mundo, alerta hoje a Unicef.

Intitulado “Are children really learning?” (“As crianças estão realmente a aprender?”), no relatório da agência das Nações Unidas para as crianças alerta-se que a perturbação que a pandemia provocou na educação agravou uma “crise educativa global que já ameaçava o futuro de milhões de crianças em todo o mundo”, segundo escreve a diretora executiva da Unicef, Catherine Russell, na introdução do documento.

Segundo a organização, o número de alunos fora da escola aumentou, pela primeira vez desde que há dados, em 5,9 milhões entre 2018 e 2020.

Com a pandemia, revelam os números da Unicef, a situação agravou-se ainda mais: na África do Sul o número de alunos fora da escola triplicou de 250.000 para 750.000 entre março de 2020 e julho 2021, enquanto no Maláui, a taxa de abandono escolar entre raparigas no ensino secundário aumentou 48%, de 6,4% para 9,5% entre 2020 e 2021.

Além disso, a organização apresenta evidências de que uma percentagem substancial de crianças não voltou à escola após a reabertura, nomeadamente na Libéria (43%), no Uganda (10%) e no Quénia (16%).

Ainda hoje, alerta-se no relatório, as escolas continuam total ou parcialmente encerradas em 23 países, agravando o risco de mais abandono escolar.

Segundo a análise, as crianças que não frequentam escolas são as menos capazes de ler, escrever ou fazer contas básicas, e estão isoladas da rede de segurança que as escolas oferecem, o que as coloca num risco acrescido de exploração e numa vida inteira de pobreza e privação.

Numa análise de dados recolhidos entre 2017 e 2021 em 32 países e territórios de baixo e médio rendimento, a Unicef conclui que mesmo antes da pandemia era questionável se os alunos estavam realmente a aprender.

A manter-se o ritmo atual de aprendizagem, a maioria das crianças em idade escolar levaria sete anos a aprender competências de leitura fundamentais que deveriam ter sido apreendidas em dois anos, e demoraria 11 anos a aprender competências de numeracia fundamentais.

Mesmo antes da pandemia, nos 32 países e territórios estudados, um quarto das crianças do 8.º ano de escolaridade – cerca de 14 anos de idade – não tinha competências de leitura básica e mais de metade não tinha competências de numeracia esperadas de um aluno da 2.ª classe, cerca de 7 anos de idade.

Na maioria dos países da África subsaariana analisados, menos de uma em cada dez crianças tinha as competências fundamentais esperadas para a sua idade.

Para a diretora-executiva na Unicef, “em vez de ser o grande equalizador, a educação corre o risco de ser o grande divisor”.

“Não podemos continuar a falhar a uma geração inteira de estudantes”, escreve Russel, pedindo um esforço global, urgente e concertado, para fazer da educação uma prioridade de topo nos planos de recuperação pós-Covid-19.

“À medida que a pandemia entra no seu terceiro ano, não podemos dar-nos ao luxo de voltar ao ‘normal’. Precisamos de um novo normal: colocar as crianças nas salas de aula, avaliar onde estão na sua aprendizagem, fornecer-lhes o apoio intensivo de que necessitam para recuperar o que perderam, e assegurar que os professores tenham a formação e os recursos de aprendizagem de que necessitam. Os riscos são demasiado elevados para fazer algo menos”, avisa Russell.

LUSA/HN

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