Hipotiroidismo protege contra malária cerebral devido a proteína

7 de Abril 2022

Uma equipa espanhola de cientistas demonstrou que o hipotiroidismo protege contra a malária cerebral, a forma mais grave da doença, que afeta principalmente crianças com menos de cinco anos, tendo descoberto ainda uma possível nova terapia, foi conhecido quarta-feira.

As experiências foram realizadas em ratos e os resultados foram publicados na revista científica Science Advances. A equipa é liderada por cientistas do Instituto de Investigações Biomédicas “Alberto Sols” (IIBM) do Conselho Científico da Universidade Autónoma de Madrid.

A malária é uma doença contagiosa que é transmitida ao ser humano pela picada de um mosquito Anopheles infetado com o parasita Plasmodium e a forma cerebral é a complicação mais grave, podendo provocar a morte.

Ocorre quando as células sanguíneas infetadas com parasitas conseguem romper a barreira hematoencefálica do cérebro, causando uma entrada maciça no sistema nervoso central de glóbulos vermelhos infetados e células do sistema imunológico ativadas.

Em algumas populações das regiões com mais caso de malária, principalmente em África, há deficiência de iodo e, portanto, dá-se o hipotiroidismo endémico. Quando a ingestão de iodo é insuficiente, a glândula da tiroide não produz hormonas suficientes, explicam os cientistas.

A malária e o hipotiroidismo afetam milhões de pessoas, mas ainda não foi estudado se a deficiência de iodo pode agravar o desenvolvimento da malária cerebral ou, ao contrário, melhorar o seu prognóstico.

Para aprofundar a investigação, as equipas do IIBM de Ana Aranda e Susana Alemany, em colaboração com outros grupos da Universidade Autónoma de Madrid, da Universidade Complutense e do Centro Nacional de Pesquisa Cardiovascular, usaram modelos experimentais de ratos com malária cerebral. O objetivo era analisar o efeito do estado da tiroide sobre a doença.

Susana Alemany detalhou à agência de notícias EFE que as hormonas da tiroide modulam o metabolismo e há cada vez mais provas de que o estado metabólico do paciente infetado tem uma forte relação com a capacidade do organismo de combater infeções.

Nas suas experiências, os investigadores compararam a resposta à infeção por Plasmodium de ratos com uma dieta normal com outros com uma dieta pobre em iodo com medicamentos para tiroide durante um mês.

No total, 100% dos ratos estudados com uma dieta normal morreram em 6/7 dias após a infeção, enquanto mais de 40% daqueles que receberam uma dieta com baixo nível de iodo e medicamentos sobreviveram por mais de duas semanas.

O hipotiroidismo, dizem os autores, impediu a inflamação e a compressão do cérebro e o consequente bloqueio da circulação sanguínea cerebral, as principais causas de morte por malária cerebral.

Isso sugere que as crianças que vivem em áreas com deficiência de iodo podem ser protegidas da malária cerebral, e a administração de medicamentos para a tiroide pode ser uma nova abordagem para combater a doença.

Mas não é tão simples. Os cientistas descartaram essa opção, porque as hormonas da tiroide são necessárias para o desenvolvimento adequado do cérebro na infância, mas concentraram-se numa proteína chamada Situin 1 ou Sirt1, uma das principais enzimas que regulam o estado metabólico dentro das células.

Durante o estudo dos mecanismos pelos quais o hipotiroidismo protege contra a malária cerebral, foi possível mostrar que a ativação da proteína estava envolvida na proteção.

A administração de uma droga que ativa a Sirt1 foi capaz de copiar os efeitos do hipotiroidismo em animais normais, prevenindo o colapso da circulação cerebral, reduzindo os sintomas neurológicos e aumentando a sobrevida.

“A utilização de ativadores Sirt1, em combinação com as drogas usadas para inibir a replicação do parasita, pode ser útil para o tratamento da malária cerebral humana, que continua a representar um importante problema clínico em países endémicos”, resumiu Diego Rodríguez-Muñoz, do IIBM.

De acordo com Susana Alemany, há ensaios clínicos em andamento com medicamentos que ativam essa proteína para tratar diversas patologias e, caso se demonstre que não apresentam efeitos colaterais significativos, a sua administração, em conjunto com antimaláricos, pode significar um grande avanço no tratamento da malária cerebral em crianças.

O professor de Biologia Molecular da Universidade Complutense de Madrid e autor do artigo José Manuel Bautista destacou que se trata de um trabalho de investigação básica com “uma hipótese aplicada”.

Portanto, o próximo passo, referiu à EFE, vai ser realizar um ensaio clínico, sendo o objetivo futuro da equipa, que vai procurar cooperações clínicas em África.

LUSA/HN

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