Cabo-verdianos consideram subidas de preços exagerados e pedem regulação

18 de Abril 2022

Do milho ao azeite, do óleo ao arroz, passando pelos combustíveis, pão, açúcar, farinha, carnes, são alguns dos produtos cujas subidas de preços os cabo-verdianos consideram exageradas e pedem intervenção do Governo e das autoridades reguladoras.

Maria da Luz, 50 anos, é natural do concelho de Santa Catarina, norte da ilha de Santiago, mas é na Praia que faz a maioria das suas compras, e saiu de uma loja em Achada de Santo António com apenas duas garrafas de óleo, cada uma a 265 escudos (2,4 euros), mas queria mais.

“Nem comprei milho para as galinhas, que põem ovos para remédio. Compro arroz e comemos juntos”, descreveu a dona de casa, pedindo, por isso, intervenção do Governo em relação à escalada de preços em Cabo Verde.

“O Governo está a lutar para nos ajudar, mas peço mais força e coragem, para nossa dignidade”, desabafou Maria da Luz à Lusa, sugerindo um “limite” nos preços para os “coitados” poderem comprar, bem como a todos que rezem pelo fim da guerra na Ucrânia.

Em frente à mesma loja, Denilsse Tavares, 26 anos e residente em Eugénio Lima, montou a sua banca de venda de frutas, e à primeira pergunta dá logo sugestões. “Ou baixa-se os preços ou sobe-se os salários”.

Vendedora de frutas, mas também compradora de outros géneros alimentícios essenciais, esta praiense garantiu que não teve alternativa senão limitar as compras.

“Normalmente, comprava um saco de arroz [de 25 quilogramas], mas agora compro 10 quilos”, deu conta Denilsse Tavares, denunciando que há lojas na Praia a exagerar nos preços, pelo que pediu intervenção do Governo e da Inspeção Geral das Atividades Económicas (IGAE).

“Têm de andar para verem”, exigiu a vendedora de frutas, concordando com a subida de preços em Cabo Verde, tal como em muitos outros países, mas insistindo na necessidade de ser acompanhada com aumentos salariais e outras medidas de atenuação.

Virgínia Dias, mais conhecida por Zizi, é auxiliar de Ação Médica em Portugal, onde os preços também estão a aumentar, o que diz ser normal na atual conjuntura, mas considerou que em Cabo Verde as subidas são muito exageradas para o nível de vida e de compra dos residentes.

“Acho que deve haver uma intervenção do Governo porque os vendedores estão a aproveitar a crise da covid-19 para subir tudo de forma exagerada”, denunciou a emigrante cabo-verdiana à Lusa, após fazer algumas compras no mercado do Plateau, centro histórico da Praia.

“Em Portugal os preços também aumentaram, mas a diferença é pouca e as pessoas têm mais condições, ao contrário daqui [em Cabo Verde] em que muita gente não consegue comprar algo para beber ou para comer, porque está tudo caro”, afirmou.

A emigrante cabo-verdiana referiu que o aumento salarial, principalmente para os vencimentos mais baixos, como das empregadas domésticas e funcionárias das cantinas escolares, seria uma das soluções para a situação atual.

O empresário praiense Lenine Mendes, 35 anos, disse estar ciente da conjuntura internacional e dos seus efeitos em Cabo Verde, país que importa cerca de 80% do que consome, mas criticou os comerciantes e produtores por aproveitarem as crises para “subir por subir” os preços.

“Não temos uma lei que limita os preços, não há fiscalização e controlo. Coitado dos chefes de famílias cujo poder de compra está muito limitado, o que é muito preocupante”, lamentou, pedindo uma “fiscalização séria” para as subidas “exorbitantes” dos preços de vários produtos.

Lenine Mendes deu como exemplo o pão, consumido por todos e praticamente todos os dias, que, ou ficou mais caro, ou reduziu o tamanho. Neste sentido, é de opinião que há produtos básicos que devem ser subsidiados pelo Estado cabo-verdiano.

Ao mesmo tempo, pediu “contenção” às famílias, entendendo que a conjuntura não está fácil nem para o Estado nem para os empregadores e consumidores. “Por isso, é necessária uma união de esforços para conseguirmos melhorar esta situação”.

Os preços em Cabo Verde aumentaram 0,7% no mês de fevereiro e acumulam uma subida de 7,1% face ao mesmo mês de 2021, indicam os dados mais recentes do INE cabo-verdiano.

Já os preços dos combustíveis aumentaram 5% em abril, o teto máximo estipulado pelo Governo, mas acumulam no último ano um aumento médio de 42,6%, bem como uma subida de 7% desde janeiro último.

O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, afastou anteriormente a possibilidade de um aumento do salário mínimo nacional devido à crise económica.

“Em situação de crise aumentar o salário mínimo estaríamos a transferir para o setor privado problemas acrescidos, que podem afetar até os postos de trabalho existentes”, afirmou Correia e Silva, durante um debate mensal no final do ano passado na Assembleia Nacional, antes da escalada dos preços dos alimentos e dos combustíveis provocada pela guerra na Ucrânia.

Atualmente, Cabo Verde tem definido um salário mínimo nacional de 13.000 escudos (117 euros) no setor privado e de 15.000 escudos (135 euros) na função pública.

O primeiro-ministro tinha anunciado em janeiro de 2020, antes da pandemia de covid-19, que o salário mínimo para o setor privado em Cabo Verde iria aumentar para 15.000 escudos (135 euros) em 2021, um crescimento superior a 35% numa legislatura, tendo em conta o aumento anterior, face aos 11.000 escudos (99 euros) em 2016.

Segundo Ulisses Correia e Silva, “havia uma previsão” para esse aumento, mas admite que “as condições do país não permitem” atualmente essa atualização.

“É algo sempre em cima da mesa, desde que haja condições para o fazer, não só por parte do Estado, o maior pagador de salários é o setor privado”, enfatizou o primeiro-ministro.

LUSA/HN

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