Ricardo Lima: Novas terapêuticas biológicas “ajudarão a mudar o panorama dos doentes com asma grave”

04/26/2022
No 29.º Congresso de Pneumologia do Norte, que decorreu entre 24 e 26 de março, Ricardo Lima – pneumologista responsável pela consulta de asma do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho – abordou "Os desafios no tratamento da Asma – da Eficácia à Efetividade". Em entrevista exclusiva ao HealthNews, o médico expôs esses desafios e disse que novas terapêuticas biológicas “ajudarão a mudar o panorama dos doentes com asma grave”.

HealthNews (HN)- Quais os principais desafios no tratamento da asma em Portugal?

Ricardo Lima (RL)- A asma é uma doença respiratória crónica comum, que afeta entre 1-18% da população em diferentes países, estimando-se que afete mais de 300 milhões de pessoas a nível mundial e aproximadamente 10% das pessoas em Portugal. A asma é considerada uma doença heterogénea, geralmente caraterizada por uma inflamação crónica das vias aéreas, com participação de várias células inflamatórias e respetivos mediadores. A apresentação clínica da asma é diversa e pode variar ao longo do tempo e na intensidade, juntamente com limitação variável ao nível da função pulmonar.

Os desafios no tratamento da asma são inúmeros, no entanto podemos destacar a híper-reatividade brônquica (caraterística cardinal na asma) como sendo um alvo terapêutico essencial para o controlo da inflamação e, consequentemente, da doença.

HN- Qual é o tratamento padrão para a asma moderada a grave?

RL- O objetivo do tratamento da asma é controlar a doença, permitindo à maioria dos doentes ter uma vida completamente normal, minimizando o risco de exacerbações ou limitações nas suas atividades diárias.

No tratamento da asma, e em particular da asma moderada a grave, a compreensão por parte do doente da sua patologia com o apoio do seu médico, criando uma relação médico-doente baseada na confiança, é essencial para o cumprimento do tratamento proposto. O tratamento farmacológico de primeira linha para o controlo da asma são os corticosteroides inalados (ICS). Nos estádios mais avançados da doença, a associação de um corticosteroide inalado com um β2 agonista de longa duração (LABA) é o tratamento recomendado. A escolha da associação ICS/LABA deve ser realizada de acordo com a evidência científica atual e tendo em consideração os efeitos adversos dos fármacos, bem como a preferência do doente.

É fundamental o médico conhecer pormenorizadamente as caraterísticas dos diferentes ICS, particularmente no que diz respeito à potência e efeitos adversos, uma vez que hoje temos à disposição fármacos inovadores que nos permitem atingir o controlo da doença de forma eficaz.

HN- Durante a sua apresentação, falou de inovações que surgiram com a pandemia de Covid-19 ou do impacto que esta teve nos asmáticos?

RL- Durante a pandemia de Covid-19, surgiu uma preocupação especial com os doentes asmáticos, no entanto verificou-se que os doentes com asma bem controlada não tinham um risco acrescido de morte por Covid-19. Contudo, estudos mostraram que, nos doentes com asma mal controlada e com necessidade recente de ciclos de corticosteroides orais ou internamentos, o risco de morte por Covid-19 foi superior. Estas constatações vieram relembrar a importância do controlo da patologia e do cumprimento rigoroso do tratamento por parte dos doentes.

HN- Nos próximos anos, que inovações poderão revolucionar o tratamento dos doentes asmáticos? Existem novidades em pipeline para a asma moderada a grave?

RL- A evolução científica no tratamento da asma moderada a grave a nível das moléculas e dos respetivos dispositivos inalatórios, com o foco na simplificação dos regimes terapêuticos, potência e efeitos adversos, tem-se revelado uma estratégia fundamental no controlo da asma.

Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento de inúmeros fármacos e moléculas que nos têm permitido tratar um grande número de doentes com asma grave de forma individualizada, em função das suas caraterísticas clínicas e biológicas. Encontram-se atualmente em desenvolvimento novas terapêuticas biológicas que brevemente estarão disponíveis e que ajudarão a mudar o panorama dos doentes com asma grave.

Entrevista de Rita Antunes

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