Bruxelas admite que surto de casos de hepatite aguda em crianças é “preocupante”

27 de Abril 2022

A comissária europeia da Saúde admitiu esta quarta-feira, em Bruxelas, que o surto de casos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças “é uma situação preocupante”, que “a União Europeia está a seguir de muito perto”.

Durante uma conferência de imprensa consagrada à pandemia de covid-19, Stella Kyriakides, questionada sobre os casos de hepatite aguda, aproveitou a “oportunidade para reiterar o apelo já deixado pelo ECDC [Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças] no sentido de os Estados-membros partilharem toda a informação”, para que Bruxelas possa “realmente monitorizar a situação de muito perto”.

Apontando que, à data de 25 de abril, a UE tinha já “cerca de 40 casos confirmados em 12 Estados-membros”, a que se juntam mais de uma centena no Reino Unido, a comissária disse que também é responsabilidade da Comissão, em matérias relacionadas com saúde pública, “estar em contacto com todas as autoridades”, e sublinhou que “o ECDC está a trabalhar em conjunto com a OMS [Organização Mundial de Saúde] e os Estados-membros para reunirem toda a informação”.

De acordo com a comissária europeia da Saúde, “os casos parecem afetar crianças entre um mês e 16 anos”, sendo que nalguns casos houve necessidade de transplante de fígado.

“Pelo que temos visto, e tal é corroborado pelo Reino Unido, a mais provável origem parece ser viral, provavelmente algum tipo de adenovírus, mas, tal como disse o ECDC é necessária mais informação, e o ECDC está a trabalhar numa avaliação de risco que será publicada amanhã [quinta-feira]”, apontou.

Na terça-feira, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças indicou que está a analisar os casos notificados em vários países de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças e que contava publicar na quinta-feira uma avaliação rápida de risco.

Numa conferência de imprensa durante a qual forneceu uma atualização sobre os últimos desenvolvimentos em matéria de doenças infecciosas na União Europeia, a diretora do ECDC, Andrea Ammon começou precisamente por abordar os recentes casos de “hepatite aguda de origem desconhecida em crianças até então saudáveis”.

Apontando que “o Reino Unido foi o primeiro país a lançar um alerta, no início de abril, tendo desde então reportado mais de 100 casos”, e que, “depois desse alerta, mais países têm relatado casos, entre os quais 10 países da UE, mas também Israel e Estados Unidos”, Ammon sublinhou que muitos dos casos foram de hepatite grave e vários evoluíram para insuficiência hepática aguda, que exigiram transplantes de fígado, “o que mostra bem a gravidade da condição”.

“As investigações prosseguem em todos os países, mas, de momento, a causa desta hepatite permanece desconhecida. A hepatite habitual, de A a E, está excluída, e as autoridades nacionais de saúde estão a olhar para possíveis causas”, disse, escusando-se a especular sobre a origem destes casos até haver mais dados.

No domingo, a OMS anunciou que uma criança morreu vítima do misterioso surto de doença hepática que está a afetar crianças na Europa e nos Estados Unidos, sem revelar em que país ocorreu a morte.

Os especialistas dizem que os casos podem estar ligados a um vírus geralmente associado a constipações (adenovírus), mas estão em curso investigações.

“Embora o adenovírus seja uma hipótese possível, estão em curso investigações para o agente causal”, refere a OMS, notando que o vírus foi detetado em pelo menos 74 dos casos.

O surto “de origem desconhecido”, que foi anunciado pela OMS a 15 de abril, causa inflamação do fígado e “em muitos casos”, sintomas gastrointestinais como dores abdominais, diarreia e vómitos, e elevação das enzimas do fígado.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Álvaro Santos Almeida: “Desafios globais da saúde na próxima década”

Álvaro Santos Almeida, Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde, destacou hoje, no Cascais International Health Forum 2025 os principais desafios globais da saúde para a próxima década, com ênfase no envelhecimento populacional, escassez de profissionais e a necessidade de maior eficiência no setor.

Boletim Polínico: um guia essencial para os doentes alérgicos

Elaborado pela Rede Portuguesa de Aerobiologia (RPA) – um serviço da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) para a comunidade – “o Boletim Polínico pode ajudar os doentes alérgicos a estarem mais atentos e alerta sobre as épocas de polinização das plantas a que são alérgicos e, como tal, tomarem as devidas precauções e seguirem os conselhos dos imunoalergologistas que os acompanham na gestão da doença”, refere Cláudia Penedos, da SPAIC.

Giovanni Viganò: “Itália como laboratório para inovar e implementar reformas no envelhecimento populacional”

Giovanni Viganó, consultor sénior e perito em políticas públicas no Programma Mattone Internazionale Salute (ProMIS), destacou no Cascais International Health Forum 2025 os desafios do envelhecimento populacional e a gestão de doenças crónicas, sublinhando a necessidade de políticas inovadoras e sustentáveis para garantir a viabilidade dos sistemas de saúde em países como Itália e Portugal.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights