Médicos Sem Fronteiras instam Moderna a partilhar tecnologia das vacinas mRNA

27 de Abril 2022

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) instou esta quarta-feira a farmacêutica norte-americana Moderna a partilhar "urgentemente" a tecnologia das vacinas mRNA com fabricantes de países em desenvolvimento por ter recebido fundos públicos para desenvolver a vacina contra a Covid-19.

O apelo surge na véspera da assembleia-geral de acionistas da farmacêutica norte-americana, prevista para quinta-feira e durante a qual se espera que a empresa apresente lucros milionários durante a pandemia graças à sua vacina, que em janeiro recebeu o apoio total da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês).

Até então, a vacina da Moderna contra a Covid-19 tinha apenas uma autorização para uso de emergência.

No comunicado hoje divulgado, a MSF lembra um estudo recente em que concluiu que mais de 100 fabricantes de medicamentos em países de baixo e médio rendimento poderiam produzir vacinas contra a Covid-19 e outras doenças, mas apenas se tiverem acesso à tecnologia.

A organização não-governamental internacional recorda que a Moderna recebeu um financiamento público de 10.000 milhões de dólares (9.500 milhões de euros), o que inclui quase todo o custo do desenvolvimento clínico e a compra de 500 milhões de doses – para desenvolver a vacina com recurso à tecnologia de RNA mensageiro.

“É inaceitável que a Moderna tenha beneficiado de dinheiro dos contribuintes para desenvolver essa vacina de grande êxito, mas se negue a partilhar a fórmula com os produtores do resto do mundo que têm capacidade para produzi-la”, disse Mihir Mankad, assessor de saúde global da MSF nos Estados Unidos, citado no comunicado.

A organização afirmou que a transferência dessa tecnologia poderia facilitar a produção de vacinas contra a Covid-19 e outras doenças e permitiria aos países preparar-se para futuras pandemias, o que salvaria vidas.

“Tendo em conta o apoio dos contribuintes e o facto de a Moderna ter faturado 17.700 milhões de dólares [16,7 milhões de euros] com a vacina até ao fim de 2021, a empresa tem a obrigação de deixar de bloquear a transferência de tecnologia mRNA”, insistiu a organização.

Segundo os médicos, a curto prazo esta tecnologia poderá ser adaptada com relativa rapidez para responder a novas variantes do SARS-CoV-2 e, a médio prazo, poderá ser uma opção prometedora para desenvolver vacinas contra outras doenças como o VIH, a tuberculose ou a malária.

“Devemos rejeitar permitir novamente uma situação em que metade do mundo se serve primeiro enquanto o resto do mundo fica a olhar de mãos vazias”, disse Alain Alsalhani, da campanha da MSF para o acesso a vacinas, citado no comunicado.

Embora reconheça que a Moderna assinou um memorando de entendimento com o Quénia para construir no país a sua primeira fábrica de vacinas mRNA em África – do qual diz haver pouca informação -, a MSF defende que há maneiras mais eficazes de tornar a tecnologia mais acessível no continente.

A Moderna deve partilhar a sua tecnologia com fabricantes que têm a capacidade de produzir e não impedir os esforços em andamento para desenvolver vacinas de mRNA no Centro de Transferência de Tecnologia de mRNA da Organização Mundial da Saúde na África do Sul, defende a organização, que apela também à empresa para que se comprometa a não aplicar patentes em países de baixo e médio rendimento.

A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de seis milhões de mortos e infetou quase 512 milhões de pessoas em todo o mundo.

LUSA/HN

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