Milhares gritam “meu corpo, minhas regras” em protesto pró-aborto nos EUA

15 de Maio 2022

Dezenas de milhares de pessoas entoaram hoje, um uníssono, o lema "o meu corpo, as minhas regras" em Nova Iorque, numa marcha de protesto contra a possível revogação do direito constitucional à interrupção voluntária da gravidez no país.

Apesar da indignação manifestada através de gritos de protestos, o ambiente foi também de festa, muito devido à união e solidariedade que este movimento gerou.

“Estamos cansados que tentem mandar nos nossos corpos”, disse uma jovem manifestante à Lusa.

Abraços, sorrisos e olhares de cumplicidade trocados entre mulheres soaram tão alto como o som dos tambores tocados ao longo de toda a marcha, que partiu da Cadman Plaza, em Brooklyn, e seguiu para a Foley Square, em Manhattan, no centro de Nova Iorque.

Antes da marcha ter início, fontes da organização disseram à Lusa que esperavam cerca de 37 mil pessoas, mas que o número final poderá ser superior.

Praticamente todas os manifestantes, desde crianças até idosos, vestiram-se com camisolas ou acessórios com mensagens pró-aborto, e exibiram mensagens como “Aborto seguro e legal para todos”, “Estamos em 2022 e ainda tenho de estar a protestar por isto?”, “Apoiem os direitos das mulheres”, “Abaixo o patriarcado” ou “Aborto é cuidado de saúde”.

Apesar da maioria estar redigida em inglês, muitos cartazes continham mensagens em espanhol, devido à grande comunidade hispânica residente em Nova Iorque.

Cartazes com os rostos dos juízes conservadores do Supremo Tribunal norte-americano que pretendem revogar o direito ao aborto também foram exibidos.

A marcha foi organizada por algumas das maiores organizações pró-aborto dos Estados Unidos, como a Planned Parenthood, National Institute for Reproductive Health, Abortion Access Front, National Institute for Reproductive Health, entre outras.

Apesar de Nova Iorque não ser um dos estados em risco de reverter o acesso ao aborto, a organização quis mostrar aos nova-iorquinos o “privilégio” que têm e mostrar apoio aos estados que estão em risco de ter esse direito revertido já em junho, para quando está previsto o anúncio da decisão final do Supremo.

“Aborto é saúde. Nova Iorque tem a oportunidade de dar um exemplo nacional (…) e temos a oportunidade agora de começar a construir um movimento verdadeiramente interseccional em todo o espetro dos nossos problemas”, disseram as organizações numa carta aberta divulgada alguns dias antes desta manifestação.

As manifestações pró-aborto agendadas um pouco por todo o país foram convocadas após uma fuga de informação sobre uma iniciativa do Supremo Tribunal norte-americano para revogar o direito constitucional à interrupção voluntária da gravidez.

Se anulada a decisão conhecida como “Roe v. Wade”, que protege como constitucional o direito das mulheres ao aborto, os Estados Unidos voltarão à situação que existia antes de 1973, quando cada estado era livre de proibir ou autorizar a realização de abortos.

Dada a grande divisão geográfica e política sobre a questão, espera-se que metade dos estados, especialmente no sul e no centro, mais conservadores, proíbam rapidamente o procedimento, entre Texas, Arizona, Missouri, Geórgia, Ohio, Indiana ou Wisconsin.

Antes da sentença, em 1973, 30 estados dos 50 que compõem os Estados Unidos tinham leis que proibiam o aborto em qualquer momento da gravidez.

O resultado da decisão do Supremo, de maioria conservadora, está previsto para junho e terá também repercussões na campanha eleitoral antes das eleições intercalares de novembro, que determinarão que partido controlará o Congresso.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

RALS promove II Encontro de Literacia em Saúde

Viana do Castelo acolhe o II Encontro de Literacia em Saúde, organizado pela Rede Académica de Literacia em Saúde. O evento reúne especialistas e profissionais para debater estratégias de capacitação da população na gestão da sua saúde. A sessão de abertura contou com a presença de representantes da academia, do poder local e de instituições de saúde, realçando a importância do trabalho colaborativo nesta área

Estudantes veem curso de Medicina na UTAD como alívio para escolas sobrelotadas

A Associação Nacional de Estudantes de Medicina considerou hoje que a abertura do curso de Medicina na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro representa uma oportunidade para aliviar a sobrelotação nas restantes escolas médicas. O presidente da ANEM, Paulo Simões Peres, sugeriu que a nova oferta poderá permitir uma redução de vagas noutros estabelecimentos, transferindo-as para Vila Real, após a acreditação condicional do mestrado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior.

Curso de Medicina da UTAD recebe luz verde condicional

A A3ES aprovou o mestrado em Medicina na UTAD, uma resposta à saturação das escolas médicas. A ANEM vê a medida com esperança, mas exige garantias de qualidade e investimento na formação prática.

Gouveia e Melo repudia uso político da crise na saúde

O candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo criticou a tentativa de capitalizar politicamente os problemas na saúde, defendendo que o Presidente não deve interferir na governação. Falou durante uma ação de campanha em Viseu

Ventura convoca rivais para debate presidencial sobre saúde

O candidato André Ventura desafiou Gouveia e Melo, Marques Mendes e António José Seguro para um debate sobre saúde, em qualquer formato. Defende um novo modelo para o setor, criticando os consensos anteriores por apenas “despejar dinheiro” sem resolver problemas

São José consolida liderança na cirurgia robótica

A Unidade Local de Saúde São José realizou mais de 2800 intervenções com robôs cirúrgicos desde 2019. O volume anual quintuplicou, afirmando-se como referência nacional na tecnologia

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights