Uma das grandes dificuldades da ciência está em tonar-se acessível para a comunidade, fazer com que de fato seja implementada e gere impacto positivo, desde a gestão dos processos até a qualidade do atendimento das necessidades das pessoas. Na área da saúde isso não é diferente. São muitos os estudos em desenvolvimento, com geração de inovações e uso de tecnologias, principalmente nas universidades, e muitos entraves que atrasam a chegada dos resultados aos serviços e ao quotidiano das pessoas.
Este problema é mais grave nos países menos desenvolvidos, onde a falta da transferência de conhecimento aumenta o risco de a pessoa desenvolver doença e de ter pior prognóstico. Os obstáculos para acessar aos serviços de saúde, seja pela alta procura e pouca oferta de serviços, ou pelas possíveis dificuldades dos cuidados de saúde primários ainda fragilizados, bem como pela situação pandémica, podem resultar em atrasos nos diagnósticos. E no caso das doenças crónicas, como o cancro, isso é muito grave, pois interfere na evolução da doença, diminui a esperança média de vida e piora a qualidade de vida das pessoas.
Com base nisso, no contexto da saúde global, têm emergido alguns projetos e parcerias institucionais com a finalidade que o conhecimento chegue ao cidadão com maior equidade, priorizando formas para solucionar os problemas, de maneira adaptada às diferentes realidades, principalmente nas desfavorecidas de recursos tecnológicos. Tais estratégias contribuem para a diminuição das desigualdades de acesso à saúde, e devem considerar a saúde como uma situação de completo bem-estar.
Transferir conhecimento teórico para a prática deve ser objeto de interesse da comunidade científica nas universidades e nos cenários em todos os níveis de atenção à saúde, seja na iniciativa pública ou privada, a partir do compromisso de devolver para a sociedade o conhecimento. Além de conhecimento novo, é preciso aplicar tecnologia e inovar para implementar o conhecimento já sabido, a partir de estratégias de implementação baseadas nas evidências, para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Pautadas no valor da força transformadora do conhecimento, as instituições de ensino preocupam-se em educar profissionais para que desenvolvam uma visão empreendedora, crítica, reflexiva, competências e habilidades para identificar e pensar o uso das tecnologias para abordar de forma sistemática os problemas. Por estarem em maior número e sempre presentes nos diferentes cenários, os enfermeiros destacam-se como observadores dos problemas e agentes de mudanças. A partir deste potencial, muitas instituições investem na formação científica de enfermeiros investigadores.
O Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), da Universidade Federal do Rio de Janeiro/Brasil, instituiu, em 2021, a Política de Inovação, Tecnologia e Transferência de Conhecimento. Em parceria com a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL), e com o também recente Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), tem-se desenvolvido ações para instrumentalizar o corpo social de ambas as instituições e alertar sobre a importância deste tópico. Esperamos continuar a avançar com a enfermagem cada vez mais científica, com compromisso social e que valoriza a saúde e a vida humana.
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