Portugal é o primeiro país a sequenciar genoma do vírus Monkeypox

23 de Maio 2022

Portugal foi o primeiro país a sequenciar o genoma do vírus Monkeypox, parente do vírus que causa a varíola e na origem de um recente surto que afeta vários países onde a infeção não é endémica.

A informação foi hoje divulgada em comunicado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), onde uma equipa de investigadores “foi a primeira a identificar a sequência genética do vírus Monkeypox” em circulação desde maio em vários países, incluindo Portugal, onde foram detetados 37 casos.

Segundo o INSA, a sequenciação genética do vírus, endémico na África Ocidental e Central, “poderá ser fundamental para compreender a origem do surto e as causas para a rápida disseminação da doença”, que é rara.

O vírus foi sequenciado “alguns dias” após a confirmação dos primeiros casos de infeção humana em Portugal por especialistas do Núcleo de Genómica e Bioinformática do INSA, que partilharam a informação com a comunidade científica internacional.

A sequência foi obtida a partir de uma amostra recolhida em 04 de maio de lesões na pele de um homem doente.

De acordo com os especialistas do INSA que conduziram o trabalho, “uma primeira análise filogenética rápida” do genoma indica que o vírus em circulação em 2022 pertence ao grupo taxonómico da África Ocidental e “está mais intimamente relacionado com vírus associados à exportação do vírus Monkeypox da Nigéria para vários países em 2018 e 2019, nomeadamente Reino Unido, Israel e Singapura”.

“Os dados e análises preliminares serão atualizados em breve com a divulgação de novos dados do genoma, que serão importantes para elucidar a origem e a disseminação internacional do vírus atualmente em circulação”, ressalvam.

Citado no comunicado do INSA, o microbiologista João Paulo Gomes, responsável do Núcleo de Genómica e Bioinformática do Departamento de Doenças Infecciosas, refere que “a rápida identificação da sequência genética do vírus em circulação, e a sua imediata divulgação à comunidade científica, constitui um primeiro passo de colaboração internacional para a caracterização deste surto”.

Segundo João Paulo Gomes, “a comparação das sequências genéticas do vírus Monkeypox obtidas nos vários países poderá ser fundamental para a compreensão da origem do surto, bem como da forma como se deu rapidamente a disseminação da doença”.

“Uma boa caracterização deste tipo de surtos permite retirar ensinamentos que podem ser-nos úteis para a adoção de medidas de saúde pública com vista a uma melhor monitorização e controlo do problema”, acrescentou.

O INSA realça que “os esforços dos especialistas” do instituto “tinham já permitido a Portugal ser dos primeiros países a confirmar laboratorialmente casos suspeitos desta doença, tendo o rápido diagnóstico sido efetuado através das metodologias já implementadas na Unidade de Biopreparação e Resposta a Emergências do Departamento de Doenças Infecciosas”.

O comunicado esclarece que a doença que tem o nome do vírus é zoonótica, em que roedores e primatas não-humanos, como macacos, podem ser portadores de Monkeypox e infetar pessoas.

O vírus é transmitido de uma pessoa para outra por contacto próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados.

A doença foi identificada pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo, depois de o vírus ter sido detetado em 1958 no seguimento de dois surtos de uma doença semelhante à varíola que ocorreram em colónias de macacos mantidos em cativeiro para investigação – daí o nome “Monkeypox” (“monkey” significa macaco e “pox” varíola).

Não sendo os macacos o reservatório natural do vírus, que permanece desconhecido, especialistas consideram que é incorreto designar a doença ou a infeção como “varíola dos macacos”.

O Monkeypox pertence ao género ‘Orthopoxvirus’, que inclui o vírus da varíola, o vírus ‘Vaccinia’ (usado na vacina contra a varíola) e o vírus da varíola bovina.

Em humanos, os sintomas da infeção com o vírus Monkeypox são semelhantes, mas mais leves, aos da varíola. No entanto, ao contrário da varíola, a Monkeypox faz com que os gânglios linfáticos inchem.

O período de incubação (tempo desde a infeção até ao aparecimento dos sintomas) do vírus Monkeypox é geralmente de 7 a 14 dias. A doença dura, em média, duas a quatro semanas.

Apesar de a doença não requerer uma terapêutica específica, a vacina contra a varíola, antivirais e a imunoglobulina ‘vaccinia’ (VIG) podem ser usados como prevenção e tratamento para a Monkeypox.

A Direção-Geral da Saúde recomenda às pessoas que apresentem lesões ulcerativas, erupção cutânea, gânglios palpáveis, eventualmente acompanhados de febre, arrepios, dores de cabeça, dores musculares e cansaço, a procurarem aconselhamento médico. Perante sintomas suspeitos, as pessoas devem abster-se de contactos físicos diretos.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças aconselhou hoje os países a atualizarem os meios de rastreio e diagnóstico para o vírus Monkeypox, quando já existem 67 casos em nove Estados-Membros da União Europeia.

Fora da Europa, o vírus já foi detetado nomeadamente nos Estados Unidos, Israel, Canadá e Austrália.

PR/HN/RA

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