Programa abem: permitiu poupar 15 milhões ao SNS ao garantir acesso a medicamentos

25 de Maio 2022

O Programa abem, que garante acesso aos medicamentos prescritos pelo médico a quem não tem capacidades financeiras, permitiu em cinco anos uma poupança estimada de 15 milhões de euros no Serviço Nacional de Saúde, segundo um estudo divulgado hoje.

O estudo, que avaliou o impacto da Programa abem: Rede Solidária do Medicamento, promovido pela Associação Dignitude, conclui também que, sem o contributo deste projeto, mais de 6.220 pessoas teriam de pedir dinheiro emprestado ou pedir ajuda a familiares.

O trabalho, que abrangeu o período entre maio de 2016 (quando arrancou o projeto) e junho de 2021, aponta para a melhoria da condição de saúde dos beneficiários do projeto devido ao cumprimento da terapêutica garantido pelo acesso aos medicamentos prescritos.

“O que suspeitávamos e que se concretizou foi que, ao nível dos beneficiários, o programa tem um impacto relevante na melhoria das condições de saúde nos mais de 22.000 beneficiários apoiados, pois conseguem, através do cartão abem, adquirir a sua medicação, cumprindo a sua terapêutica e, desta forma, melhorar a sua condição de saúde”, explicou à Lusa Maria João Toscano, diretora executiva da Associação Dignitude.

Exemplificando em números a mudança que o Programa abem: trouxe para estas pessoas, a responsável adianta: “A percentagem de beneficiários que nem sempre compra os medicamentos prescritos passa de 61% para 5% depois de terem o cartão abem, o que é, de facto, muito relevante”.

“Isto leva também a um impacto ao nível da sua qualidade de vida, pois evita cortes em despesas que são essenciais”, explica, acrescentando: “Aí, a percentagem de beneficiários que deixavam de pagar outras despesas para comprar medicamentos antes de terem o cartão passou de 85% para 14%”.

De acordo com o estudo, 10.902 beneficiários consideraram ter melhorado o seu estado de saúde desde que têm o cartão abem e 15.796 passaram a conseguir pagar outras despesas desde que são beneficiários deste programa.

“Cinquenta e três por cento dos beneficiários destaca o sentimento de inclusão, o tratamento digno, como sendo uma das coisas mais importantes associadas ao cartão, para além do acesso ao medicamento”, apontou Maria João Toscano, frisando: “Isto foi uma situação que nos agradou imenso pois nós sempre tivemos uma preocupação muito grande em manter o anonimato e a dignidade das pessoas”.

Com este programa – acrescentou – o que se está a tentar “é resolver um dos problemas que mais contribui para a não adesão à terapêutica, que é a falta de capacidade económica para a aquisição de medicamentos prescritos”.

“Há vários estudos publicados em Portugal que mostram que se verifica esta situação [não adesão à terapêutica por falta de recursos financeiros para comprar os medicamentos] em cerca de 22,8% dos doentes”, afirmou.

“Contribuindo para o cumprimento da terapêutica vai reduzir o risco de complicações, como sejam os episódios de urgência e internamentos”, explicou ainda a responsável, adiantando que as estimativas do estudo indicam que, entre maio de 2016 e dezembro de 2021, “apenas em episódios de urgência e internamentos evitados pelo cumprimento da terapêutica, foram poupados mais de 15 milhões de euros”.

Estes dados tiveram por base cerca de 22.000 beneficiários do cartão abem. Contudo, segundo o estudo, se o programa chegasse às cerca de 864 mil pessoas que todos os anos em Portugal deixam de comprar os medicamentos de que precisam por não os conseguirem pagar, “com um investimento de 147 milhões de euros seria possível uma poupança potencial superior a 600 milhões de euros em internamentos e episódios de urgência”.

A Associação Dignitude foi constituída em 2015, juntando entidades do setor social – Cáritas Portuguesa e Plataforma Saúde em Diálogo – e do setor da Saúde – através da Apifarma e da Associação Nacional de Farmácias (ANF). Mais tarde juntaram-se também a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a União das Misericórdias Portuguesas a Associação das Farmácias de Portugal e a Associação Nacional dos Municípios Portugueses.

O Programa abem: Rede Solidária do Medicamento arrancou em maio de 2016 e o financiamento é garantido pelas doações feitas para o fundo solidário constituído pelo programa, que recebe donativos da sociedade civil, de parceiros e de empresas. A verba desse fundo é usada na íntegra para cocomparticipar os medicamentos [paga a parte do utente].

Está presente em 175 concelhos a nível nacional, nos Açores e na Madeira e é através de uma rede de organizações locais (IPSS, Caritas, misericórdias, câmaras municipais e juntas de freguesia) que é feita a identificação das famílias a integrar no programa.

Esta rede social cruza-se com uma rede de mais de 1.000 farmácias onde os beneficiários do cartão abem podem ter acesso aos medicamentos de forma anónima.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Rafaela Rosário: “A literacia em saúde organizacional pode ser muito relevante para promover a saúde em crianças”

No II Encontro de Literacia em Saúde em Viana do Castelo, a investigadora Rafaela Rosário apresentou os resultados de um estudo pioneiro desenvolvido em escolas TEIP – Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, instituições localizadas em contextos socioeconomicamente vulneráveis que recebem apoio específico do governo para combater o insucesso escolar e a exclusão social. A investigação demonstrou como uma abordagem organizacional, envolvendo professores, famílias e a própria comunidade escolar, conseguiu reverter indicadores de obesidade infantil e melhorar hábitos de saúde através de intervenções estruturadas nestes contextos desfavorecidos

Coimbra intensifica campanha de vacinação com mais de 115 mil doses administradas

A Unidade Local de Saúde de Coimbra registou já 71.201 vacinas contra a gripe e 43.840 contra a COVID-19, num apelo renovado à população elegível. A diretora clínica hospitalar, Cláudia Nazareth, reforça a importância da imunização para prevenir casos graves e reduzir hospitalizações, com mais de 17 mil doses administradas apenas na última semana

Coimbra intensifica campanha de vacinação com mais de 115 mil doses administradas

A Unidade Local de Saúde de Coimbra registou já 71.201 vacinas contra a gripe e 43.840 contra a COVID-19, num apelo renovado à população elegível. A diretora clínica hospitalar, Cláudia Nazareth, reforça a importância da imunização para prevenir casos graves e reduzir hospitalizações, com mais de 17 mil doses administradas apenas na última semana.

Vírus respiratórios antecipam época de maior risco para grupos vulneráveis

Especialistas alertam para o aumento precoce de casos de rinovírus, adenovírus e VSR, que afetam sobretudo idosos e doentes crónicos. A antecipação da vacinação contra a gripe e a adoção de medidas preventivas simples surgem como estratégias determinantes para reduzir complicações e evitar a sobrecarga dos serviços de urgência durante o pico epidémico.

Sword Health assume liderança do consórcio de inteligência artificial do PRR

A Sword Health é a nova entidade coordenadora do Center for Responsible AI, um consórcio financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência, substituindo a Unbabel. A startup afirma ser atualmente a que mais investe no projeto, com uma taxa de execução de 76% a oito meses do prazo final. O cofundador, André Eiras, adianta que a transição, já aprovada pelo IAPMEI, confere à tecnológica portuguesa maior responsabilidade na liderança de projetos das Agendas Mobilizadoras

Consórcio de IA atinge 80% de execução com 19 produtos em desenvolvimento

O consórcio Center for Responsible AI, liderado pela Sword Health, revela que 80% do projeto financiado pelo PRR está executado, restando oito meses para concluir os 19 produtos em saúde, turismo e retalho. Investimento realizado supera os 60 milhões de euros, com expectativa de gerar mais de 50 milhões em receitas até 2027.

Montenegro confiante na ministra da Saúde apesar de partos em ambulâncias

O primeiro-ministro manifestou-se incomodado com a ocorrência de partos em ambulâncias, um problema que exige uma análise sistematizada. Luís Montenegro garantiu, no entanto, confiança total na ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e afastou qualquer ligação destes casos a ineficiências do SNS. O executivo promete empenho no reforço dos serviços de urgência e da acompanhamento obstétrico

INSA reclama atualização de estatutos para travar “disfuncionalidade organizacional”

O presidente do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, Fernando de Almeida, apelou hoje, na presença da ministra da Saúde, para uma revisão urgente dos estatutos e do modelo de financiamento da instituição. Considera que o quadro legal, inalterado desde 2012, está desatualizado e compromete a capacidade de resposta em saúde pública, uma situação apenas colmatada pelo “esforço coletivo” dos profissionais, como demonstrado durante a pandemia

Médicos do Amadora-Sintra descrevem colapso nas urgências

Trinta médicos do serviço de urgência geral do Hospital Amadora-Sintra enviaram uma carta ao bastonário da Ordem a relatar uma situação que classificam de insustentável. Denunciam o incumprimento crónico dos rácios de segurança nas escalas, com equipas reduzidas e pouco diferenciadas, um cenário que resulta em tempos de espera superiores a 24 horas e que compromete a dignidade da prática clínica e a segurança dos utentes

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights