Investigadores do i3S descobrem novo subtipo de células do timo

16 de Junho 2022

Descoberta pode ajudar a desenvolver terapias capazes de reconstruir o timo ou regenerar a função tímica em idosos e indivíduos imunossuprimidos.

Nuno Alves, Rúben Pinheiro e Pedro Ferreirinha são os investigadores envolvidos na descoberta.

 

Uma equipa de investigadores liderada por Nuno Alves, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), identificou uma nova população de células progenitoras dos fibroblastos que contribuem para a formação e atividade do timo, um órgão fundamental do sistema imunológico onde são geradas as designadas células T.

Neste estudo, publicado na revista Development, os autores mostram também que este novo subtipo de fibroblastos progenitores esgota-se com o avançar da idade. Estes resultados são importantes para o desenvolvimento de terapias capazes de reconstruir o timo ou regenerar a função tímica nos idosos e nos indivíduos imunossuprimidos.

O timo perde muito cedo a sua capacidade de produzir células T, as quais são fundamentais na resposta a patogénios e tumores ou na prevenção de doenças autoimunes. Existe, por isso, um grande interesse terapêutico em conseguir reativar a produção de células T em indivíduos com o sistema imunitário debilitado. Para que isso aconteça, é fulcral compreender a origem das diferentes células que compõem o complexo microambiente do timo: células epiteliais, fibroblastos e células endoteliais.

Neste estudo, a equipa do i3S identificou pela primeira vez os progenitores que dão origem aos fibroblastos tímicos, e que funcionam como uma rede de suporte essencial onde as células T ‘navegam’ e ‘crescem’.

“Descobrimos que, no timo fetal, predomina uma população com caraterísticas estaminais, e, em fases posteriores do desenvolvimento embrionário do modelo animal (murganho) que utilizámos, esta população de fibroblastos é progressivamente substituída por uma outra mais madura e funcional, processo este que nunca tinha sido descrito”, explica Pedro Ferreirinha, um dos primeiros autores do artigo.

“Percebemos também que estas populações partilham uma relação de proximidade em termos do seu desenvolvimento, ou seja, os fibroblastos progenitores desaparecem e dão origem a fibroblastos mais diferenciados. E isto acontece precisamente quando a função tímica começa a atingir o seu máximo de produção de células T», sublinha Rúben Pinheiro, outro dos primeiros autores.

Estes resultados, que também mereceram destaque por parte da equipa editorial da revista, “reforçam a ideia de que, ao longo da vida, a produção de células T esgota a funcionalidade do microambiente tímico”, acrescenta o investigador.

Novos passos para a regeneração e reconstrução do timo
Os autores mostram também que quando a diferenciação das células T no timo é perturbada, a população de fibroblastos progenitoras é mantida, sugerindo que os sinais das células T em desenvolvimento promovem a maturação dos fibroblastos. Estes dados contribuem para um quadro crescente em que a sinalização bidirecional entre as populações do microambiente tímico e das células T é essencial para o desenvolvimento e função deste órgão.

“Agora que conhecemos estes dois subtipos de fibroblastos”, sublinham Pedro Ferreirinha e Rúben Pinheiro, “o próximo passo é perceber se em pessoas imunodeprimidas estes subtipos estão alterados ou não funcionais”.

A nível de estratégias terapêuticas, adianta Nuno Alves, que liderou a investigação, “uma das soluções para corrigir a função tímica passa por regenerar o timo envelhecido e a outra passa por reconstruir artificialmente este órgão. Para se avançar para a segunda opção é fundamental compreender a origem das diferentes células que compõe o complexo e intrigante microambiente tímico”.

NR/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

APEF e Ordem dos Farmacêuticos apresentam Livro Branco da formação

A Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF) promove a 22 de novembro, em Lisboa, o Fórum do Ensino Farmacêutico. O ponto alto do evento será o lançamento oficial do Livro Branco do Ensino Farmacêutico, um documento estratégico que resulta de um amplo trabalho colaborativo e que traça um novo rumo para a formação na área. O debate reunirá figuras de topo do setor.

Convenções de Medicina Geral e Familiar: APMF prevê fracasso à imagem das USF Tipo C

A Associação Portuguesa de Médicos de Família Independentes considera que as convenções para Medicina Geral e Familiar, cujas condições foram divulgadas pela ACSS, estão condenadas ao insucesso. Num comunicado, a APMF aponta remunerações insuficientes, obrigações excessivas e a replicação do mesmo modelo financeiro que levou ao falhanço das USF Tipo C. A associação alerta que a medida, parte da promessa eleitoral de garantir médico de família a todos os cidadãos até final de 2025, se revelará irrealizável, deixando um milhão e meio de utentes sem a resposta necessária.

II Conferência RALS: Inês Morais Vilaça defende que “os projetos não são nossos” e apela a esforços conjuntos

No segundo dia da II Conferência de Literacia em Saúde, organizada pela Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS) em Viana do Castelo, Inês Morais Vilaça, da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, sublinhou a necessidade de unir sinergias e evitar repetições, defendendo que a sustentabilidade dos projetos passa pela sua capacidade de replicação.

Bragança acolhe fórum regional dos Estados Gerais da Bioética organizado pela Ordem dos Farmacêuticos

A Ordem dos Farmacêuticos organiza esta terça-feira, 11 de novembro, em Bragança, um fórum regional no âmbito dos Estados Gerais da Bioética. A sessão, que decorrerá na ESTIG, contará com a presença do Bastonário Helder Mota Filipe e integra um esforço nacional do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida para reforçar o diálogo com a sociedade e os profissionais, recolhendo contributos para uma eventual revisão do seu regime jurídico e refletindo sobre o seu papel no contexto tecnológico e social contemporâneo.

II Conferência RALS: Daniel Gonçalves defende que “o palco pode ser um bom ponto de partida” para a saúde psicológica

No âmbito do II Encontro da Rede Académica de Literacia em Saúde, realizado em Viana do Castelo, foi apresentado o projeto “Dramaticamente: Saúde Psicológica em Cena”. Desenvolvido com uma turma do 6.º ano num território socialmente vulnerável, a iniciativa recorreu ao teatro para promover competências emocionais e de comunicação. Daniel Gonçalves, responsável pela intervenção, partilhou os contornos de um trabalho que, apesar da sua curta duração, revelou potencial para criar espaços seguros de expressão entre os alunos.

RALS 2025: Rita Rodrigues, “Literacia em saúde não se limita a transmitir informação”

Na II Conferência da Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS), em Viana do Castelo, Rita Rodrigues partilhou como o projeto IMPEC+ está a transformar espaços académicos. “A literacia em saúde não se limita a transmitir informação”, afirmou a coordenadora do projeto, defendendo uma abordagem que parte das reais necessidades dos estudantes. Da humanização de corredores à criação de casas de banho sem género, o trabalho apresentado no painel “Ambientes Promotores de Literacia em Saúde” mostrou como pequenas mudanças criam ambientes mais inclusivos e capacitantes.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights