“Temos no ACES [Agrupamento de Centros de Saúde] Pinhal Litoral 39.526 utentes sem médico de família. Isto é absolutamente vergonhoso, lastimável e preocupa-nos a todos”, afirmou Maria Felício, médica interna de Medicina Geral e Familiar numa Unidade de Saúde Familiar na Marinha Grande, uma das promotoras da vigília.
A Marinha Grande, assim como os concelhos da Batalha, Leiria, Pombal e Porto de Mós, integram o ACES Pinhal Litoral.
“O ACES solicitou 30 vagas, foram atribuídas oito. Portanto, como é que é possível que se espere que os portugueses tenham um atendimento e um acompanhamento adequado a nível do SNS [Serviço Nacional de Saúde]?”, questionou Maria Felício, sustentando “não ser suficiente” e que deixa os clínicos “profundamente desagrados e desiludidos”.
Referindo que “faz todo o sentido este tipo de iniciativas, porque houve um concurso para colocação de novos médicos a trabalhar no SNS e este concurso é absolutamente vergonhoso a nível daquilo que são as vagas atribuídas”, a médica destacou que a iniciativa é “um grito de socorro”.
“Neste momento temos listas de profissionais de médicos de família que estão absolutamente repletas. Todos os profissionais têm entre 1.700, 1.800 1.900 utentes a seu cargo. Isto já é um desafio quase sobre-humano de conseguir dar a resposta adequada”, declarou.
Segundo a médica, “os diagnósticos estão feitos” e as soluções apresentadas, “mas não são ouvidas”.
“E isto é mais uma manifestação desse desagrado e desse descontentamento que sentimos”, declarou.
Já Helder Balouta, também médico interno numa Unidade de Saúde Familiar em Pombal, alertou que, “abrindo só oito vagas”, face às “reformas [de clínicos] que vai haver nos próximos anos”, aquelas são “manifestamente insuficientes”.
Na vigília, marcaram presença cerca de 40 pessoas, a maioria médicos, que exibiram folhas e uma faixa nas quais se lia “ACES Pinhal Litoral pedidas 30 vagas no concurso. Atribuídas 8 vagas no concurso” ou “39.526 utentes sem médico de família”.
Admitindo pouca adesão dos utentes, Maria Felício frisou que “não é uma vigília pelo emprego médico”.
“Estamos a pedir para os nossos utentes, porque todos os dias nos deparamos com as dificuldades de servir bem os nossos utentes”, declarou, notando que aqueles que “não têm um seguimento adequado nos cuidados de saúde primários estão a perder oportunidades de prevenção, de rastreio, de diagnóstico de problemas, de tratamento precoce, de seguimento adequado e de referenciação aos cuidados de saúde hospitalares”.
Presente na vigília, Rui Passadouro, vogal do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Pinhal Litoral, destacou, referindo-se aos quase 40 mil utentes sem médico de família, que “há mais de 10 anos” que a região não tinha “esta situação assim tão desequilibrada”.
“[São] 1.700 pessoas vezes 22 lugares que vão ficar em falta mais os médicos que se vão reformar entretanto. Estamos numa situação crítica”, garantiu Rui Passadouro.
LUSA/HN
0 Comments