Pedro Barreira fala sobre melanoma: “Quando diagnosticado nos estadios iniciais cura-se em cerca de 95% dos casos”

07/07/2022
Pedro Barreira especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) na Clínica CUF Belém

O especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) na Clínica CUF Belém sublinha a importância do diagnóstico precoce de um dos tipos de cancros de pele mais agressivos. O aumento do número de casos de melanoma a nível nacional são vistos com “grande preocupação” por parte do especialista. Pedro Barreira frisa que é o tratamento atempado e precoce da doença aumenta a sobrevivência a médio e longo prazo”, defendendo por isso a colaboração entre a MGF e as equipas de especialidade.

Em Portugal são diagnosticados todos os anos cerca de 1.500 casos de melanoma. Como olha para o atual cenário e quais os principais fatores que podem explicar o aumento da incidência? 

É com grande preocupação que olho para o aumento do número de novos casos diagnosticados anualmente em Portugal. É preciso despertar para a prevenção dos cuidados diários da pele, auto responsabilizar o próprio utente a olhar para o espelho e adquirir hábitos dieteto-higiénicos saudáveis, não descurando a avaliação da pele, o maior órgão do nosso corpo, com o seu Médico de Família ou o Dermatologista assistente. A exposição solar abusiva, cumulativa ou episódica, principalmente em pessoas com pele, cabelos e olhos mais claros, ou com presença de vários nevos é responsável pela maior parte dos casos de cancro cutâneo. Ter em atenção as queimaduras solares (principalmente na infância), decorrentes da exposição intensa e curta, bem como a frequência de solários que podem também justificar o aumento da incidência. Não descurar a genética, pois somos feitos dela. A história familiar tem um papel a contar, contribuindo para a fisiopatologia do melanoma. Casos específicos de imunossupressão podem também contribuir para o aumento da incidência deste tipo específico de cancro.

 Qual a importância do diagnóstico precoce?

Prevenir é cuidar. Identificar precocemente dá-nos acesso a uma maior oportunidade de target terapêutico, com possibilidade de aumentar a sobrevivência a médio e longo prazo. O melanoma maligno cutâneo, quando diagnosticado nos estadios iniciais, cura-se em cerca de 95% dos casos, apenas com cirurgia, removendo as células cancerígenas e as suas margens. Falamos de um cancro cutâneo que, infelizmente, pode manifestar-se, não raras vezes, através de sintomas ou sinais de outros órgãos que não a pele. A Medicina avança ao longo dos anos para poder dotar os médicos e outros profissionais de saúde de melhores e mais eficazes armas terapêuticas. Cabe à população saber a importância da literacia em saúde, a verdadeira arma secreta para um diagnóstico mais precoce e um acesso a cuidados dirigidos e de proximidade.

Os especialistas alertam para a importância do autoexame e monitorização. Quais os sinais para os quais as pessoas devem estar alertas? 

Vigiar a pele na correria do dia a dia pode parecer uma tarefa supérflua, mas se feita de forma organizada, em pouco tempo podemos garantir um bom controlo e estarmos alerta para qualquer alteração e agendar consulta com o Médico de Família. Uma alteração do aspeto do nevo, como por exemplo, reforço da pigmentação ou aumento do tamanho, podem ser motivo de alerta. É importante relembrar sempre a regra ABCDE que nos permite realizar um diagnóstico precoce do melanoma, sendo que o A se refere a Assimetria do nevu, B ao Bordo irregular, C à Cor heterogénea, D ao Diâmetro (> 5 mm) e o E à evolução..

Nos estádios intermédios o risco de recorrência da doença ronda os 30 e 50%. Tratando-se uma percentagem bastante elevada, qual a importância do acompanhamento dos doentes por parte da Medicina Geral e Familiar? 

Sem dúvida que, nestes estadios, o Médico de Família pode ter um papel crucial com a referenciação direta para que o estadiamento e tratamento seja o mais célere possível. Sabemos que atualmente existem armas terapêuticas em contexto adjuvante, seja através de imunoterapia ou target therapy como por exemplo iBRAF e iMEK, que vieram mudar o paradigma destes estádios. Contudo, o grande fator para que estes doentes sejam sinalizados e orientados parte inicialmente do seu Médico de Família, dado a proximidade estabelecida.

 E qual a importância da colaboração entre a MGF e as equipas de especialidade para o sucesso do tratamento dos doentes? 

O sinergismo é sempre uma ótima maneira de elevar os cuidados de saúde. Despertar o saber e fazê-lo lado a lado com colegas de Dermatologia só ajuda a que os nossos utentes tenham acesso aos melhores cuidados de saúde e a uma maior eficiência de recursos. O Médico de Família é o gestor principal do doente, e no caso do Melanoma, é ele que pode auxiliar a família, pois nem só de doença física falamos quando se diagnostica Melanoma. É preciso ter em atenção a crise “não normativa” que a família (de qualquer tipo e forma) vai passar. Auxiliar, desmitificar, ajudar e responder
às dúvidas, fazendo o acompanhamento longitudinal e holístico da patologia são, sem dúvida, os elementos-chave e diferenciadores no que à Medicina Familiar diz respeito.

A MSD desenvolveu o projeto “Melanoma Talks” no qual participa. Quais os contributos deste tipo de iniciativas para a comunidade médica? 

Aumentar o alerta, elevar o foco, tornar o tema próximo das pessoas, em dias de calor ou de inverno, uma vez que o podcast & vídeos podem ser ouvidos e vistos em qualquer parte do mundo e a qualquer hora. Numa altura em que a globalização e o aquecimento global são tópicos do quotidiano, aumentando assim a probabilidade de exposição solar abusiva e errónea, a MSD destaca-se, mais uma vez, e contribuiu para melhorar a acessibilidade e abordagem dos temas que importam e dotar os profissionais de respostas essenciais aos nossos utentes. É um orgulho poder estar lado a lado com colegas que tanto admiro. Este desafio culminou numa aprendizagem diária e numa experiência enriquecedora, com troca de vivências e experiências profissionais.

Entrevista de Vaishaly Camões

1 Comment

  1. Henrique Macedo

    Tive a indicação de uma dermatologista para vigiar a evolução de 2 sinais nas costas. Numa consulta de dermatologia realizada 2 anos depois falei nisso ao médico que me sugeriu a realização de um exame que me custaria 200 €. Se a 1o médico fez uma observação direta por que motivo o 2o pediu a realização do exame? Nos privados, mais do que a saúde dos pacientes importa o resultado financeiro. É a saúde transformada num negócio.

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