Rita Boaventura Pneumologista do Hospital de São João, Porto

Asma: a importância de adesão à terapêutica para controlo da doença

09/25/2022

A asma é uma das doenças respiratórias mais comuns e apresenta variabilidade no tipo de apresentação, intensidade e impacto que tem na vida dos doentes. É uma doença crónica, e por isso não curável, mas que tem tratamento.

Para existir um controlo da asma é crucial que os doentes adiram à terapêutica e assumam esse compromisso diariamente, a fim de prevenir sintomas e evitar as exacerbações. Contudo, este compromisso ainda é frequentemente, consciente ou inconscientemente, ignorado pelos doentes.

Atualmente, existem 334 milhões de pessoas em todo o mundo e cerca de 700 mil no nosso país que sofrem de asma. Apesar de impactar um grande número de doentes, continua a existir um subdiagnóstico e subcontrolo da asma devido à desvalorização dos sintomas e ao desafio de adesão à terapêutica.

Mesmo em doentes já diagnosticados, estes têm uma perceção errada do seu estado clínico e não estão consciencializados das consequências nefastas que a ausência de tratamento acarreta na sua saúde. Para mudar este cenário é fundamental educar os doentes sobre asma e os objetivos terapêuticos no momento da consulta médica.

Em contexto de consulta, é importante empoderar o doente para que este tenha capacidade de gerir a sua doença. Numa era em que o empoderamento e autocuidado são chave para melhorar a qualidade de vida do doente, enquanto profissionais de saúde, está nas nossas mãos informar sobre a doença e fornecer todas as ferramentas necessárias para reconhecer os sinais precoces de agravamento da asma e saber como agir perante os mesmos.

Por ser uma doença crónica, a adesão à terapêutica é uma questão multidimensional, que requer um tratamento contínuo e um acompanhamento médico regular com vários momentos de avaliação e partilha. O tratamento da asma é feito preferencialmente através de medicação por via inalada, que é um aspeto fulcral na adequação da terapêutica ao doente. Importa esclarecer bem este pilar do tratamento e educar o doente para uma correta utilização do seu inalador, transmitindo-lhe confiança na terapêutica e segurança na sua eficácia de atuação.

Uma das grandes ambições nesta área passa pelo controlo da asma e eliminação de crises agudas. As crises ou exacerbações da asma apresentam-se como um episódio agudo ou subagudo de agravamento dos sintomas, que conforme a gravidade, pode constituir um fator de risco de mortalidade para o doente.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstraram que, em 2019, a asma causou a morte de 455 mil pessoas em todo o mundo. Sendo a asma, uma doença com tratamento seguro e eficaz, não pode continuar a ser uma causa de mortalidade para os doentes. Por isso, devemos apostar na prevenção dos sintomas, no diagnóstico e no tratamento precoces. Paralelamente a isto, devemos desmistificar as crenças no que diz respeito à medicação inalada e explicar as diferenças do tratamento de manutenção e de medicação de alívio.

O clínico tem uma responsabilidade acrescida e um papel fundamental na criação de mecanismos de alerta para detetar e ajudar os doentes com asma, cuja perceção de doença controlada não corresponde à realidade, de forma a evitar os riscos associados ao descontrolo da doença e às crises.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Carina de Sousa Raposo: “Tratar a dor é investir em dignidade humana, produtividade e economia social”

No Dia Nacional de Luta contra a Dor, a Health News conversou em exclusivo com Carina de Sousa Raposo, do Comité Executivo da SIP PT. Com 37% da população adulta a viver com dor crónica, o balanço do seu reconhecimento em Portugal é ambíguo: fomos pioneiros, mas a resposta atual permanece fragmentada. A campanha “Juntos pela Mudança” exige um Plano Nacional com metas, financiamento e uma visão interministerial. O principal obstáculo? A invisibilidade institucional da dor. Tratá-la é investir em dignidade humana, produtividade e economia social

Genéricos Facilitam Acesso e Economizam 62 Milhões ao SNS em 2025

A utilização de medicamentos genéricos orais para o tratamento da diabetes permitiu uma poupança de 1,4 mil milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos últimos 15 anos. Só em 2025, a poupança ultrapassou os 62 milhões de euros, segundo dados divulgados pela Associação Portuguesa de Medicamentos pela Equidade em Saúde (Equalmed) no Dia Mundial da Diabetes.

APDP denuncia falhas na aplicação do direito ao esquecimento para pessoas com diabetes

No Dia Mundial da Diabetes, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal alerta que a Lei do Direito ao Esquecimento não está a ser cumprida na prática. A associação recebe queixas de discriminação no acesso a seguros e crédito, defendendo que a condição clínica não pode ser um obstáculo à realização pessoal e profissional. A regulamentação da lei está em fase de auscultação pública, mas persiste o receio de que não garanta plena equidade.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights