Envolvimento do setor privado é o grande desafio da investigação e da inovação em Portugal

8 de Outubro 2022

O limitado envolvimento do setor empresarial na investigação continua a ser um desafio para Portugal, bem como as condições de trabalho precárias dos investigadores e a falta de oportunidades de emprego nas empresas, conclui um estudo que analisou também o país vizinho.

As conclusões são do estudo “Recursos humanos para investigação em Portugal e Espanha”, levado a cabo pelos investigadores Tiago Santos Pereira (Universidade de Coimbra), Cláudia Sarrico (Universidade do Minho), Laura Cruz Castro e Luis Sanz Menéndez (IPP-CSIC). Este trabalho faz parte do Dossier “Investigação e inovação em Portugal e Espanha” do Observatório Social da Fundação “la Caixa” e conta com a colaboração do BPI.

De acordo com este relatório sobre recursos humanos para a investigação, apesar da melhoria registada no número total de investigadores no país, a participação de Portugal no total de investigadores da EU-27 diminuiu nos últimos dez anos.

O principal desafio consiste em aumentar o número de investigadores que trabalham no setor privado, porque a I&D nas empresas promove a inovação. As despesas do setor privado em I&D e a contratação de investigadores por parte das empresas estão interrelacionadas e dependem das estruturas industriais de cada país. Assim, Portugal está a ficar para trás em comparação com os seus parceiros europeus, uma vez que a maioria dos investigadores está concentrada no setor do ensino superior, de acordo com a informação enviada aos jornalistas.

Um relatório recente da OCDE sobre autores científicos destaca a precariedade que caracteriza as carreiras académicas em todo o mundo e a necessidade de diversificar tanto as oportunidades de formação como as de emprego. Neste aspeto, Espanha regista melhores resultados do que Portugal. Enquanto em Espanha a maioria dos autores principais desfrutava da estabilidade conferida por um contrato sem termo, em Portugal mais de metade tinha um contrato a termo certo, com a consequente insegurança no emprego.

O comunicado de imprensa destaca ainda que o desafio de aumentar o número de investigadores no setor empresarial se torna evidente quando se constata que a despesa empresarial em I&D (BERD) em percentagem do PIB em Portugal é cerca de metade da média da EU-27. E a média da EU-27, de 1,46% do PIB, está aquém da média dos principais concorrentes da Europa, como os Estados Unidos (2,05%) e o Japão (2,60%).

“Tudo isto revela a importância do reforço das políticas centradas na procura para melhorar a base de conhecimento da economia. Este aspeto assume particular importância quando considerado em paralelo com os resultados da formação avançada, em que Portugal registou melhorias significativas, estando em alguns casos acima da média da UE”, de acordo com o comunicado. Contudo, fica o alerta para o risco de o desequilíbrio na oferta e procura de investigadores poder levar à emigração de trabalhadores altamente qualificados, se estes não conseguirem encontrar oportunidades de desenvolvimento de carreira no seu país.

“Isto já ocorreu, em certa medida, após a crise financeira global de 2008. As políticas de recuperação implementadas para o período pós-pandemia de Covid-19, que também afetou o sistema de investigação e inovação, oferecem uma excelente oportunidade para melhorar a procura de recursos humanos em Ciência e Tecnologia. Estas políticas são fundamentais para garantir que Portugal não enfrenta continuamente uma fuga de cérebros”, pode ler-se na nota.

O Dossier “Investigação e inovação em Espanha e Portugal” inclui um segundo estudo com o título “Ligações Ciência-empresas em Portugal e Espanha: um potencial de inovação inexplorado?”, realizado por Manuel Mira Godinho e Joana Mendonça (ambos da Universidade de Lisboa), José Guimón (Universidade Autónoma de Madrid) e Catalina Martínez (IPP-CSIC). Este relatório evidencia que as ligações entre a ciência e as empresas em Portugal são mais fracas do que noutras economias da União Europeia.

Além disso, Portugal tem de enfrentar o desafio da limitada empregabilidade dos doutorados no setor privado, uma vez que apenas cerca de 6% trabalham em empresas privadas.

A modo de conclusão, o estudo destaca que, nos próximos anos, a cooperação ciência-empresas e as parcerias público-privadas serão cruciais para Portugal conseguir absorver eficazmente os novos fluxos de financiamento europeus disponíveis no contexto do Plano de Recuperação Next Generation EU da Comissão Europeia.

PR/HN/RA

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