França acusa Rússia de impor insegurança alimentar a países em desenvolvimento

1 de Novembro 2022

O embaixador francês junto da ONU, Nicolas de Rivière, acusou na segunda-feira a Rússia impor aos países em desenvolvimento, intencionalmente, insegurança alimentar e desnutrição, após Moscovo ter suspendido a sua participação no acordo de exportação de cereais ucranianos.

As declarações de Rivière foram feitas numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) convocada pela Rússia, que citou um alegado ataque em 29 de outubro contra os seus navios no Mar Negro para suspender a sua participação na iniciativa.

O representante russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, alegou perante o Conselho de Segurança que a Ucrânia usou o corredor marítimo aberto pelo acordo de exportação “para propósitos militares”, tendo abandonado a reunião após a sua intervenção.

Contudo, Rivière ressaltou que a Rússia não apresentou provas das suas acusações e que quer “apenas distorcer a realidade”.

“Esta chantagem russa tem de acabar. (…) Esta reunião é mais um episódio da campanha de desinformação da Rússia, que usa o Conselho de Segurança como plataforma de propaganda”, declarou o embaixador francês.

“A Rússia está a escolher impor insegurança alimentar e desnutrição ao mundo inteiro e, em particular, aos países em desenvolvimento que dependem das exportações ucranianas”, acrescentou.

Já a representante do Reino Unido junto da ONU, Barbara Woodward, destacou que a iniciativa “é vital” para a segurança alimentar global e indicou que, tendo em conta a crise alimentar global, o seu país não impôs sanções às exportações de alimentos ou fertilizantes da Rússia para países terceiros.

“O que a Rússia deixou de mencionar é que a frota russa do Mar Negro está a ocupar ilegalmente as águas ucranianas e a bombardear cidades ucranianas. O impacto global da guerra da Rússia na Ucrânia já foi profundo. Acabar com a iniciativa desencadearia uma onda sem precedentes de fome e miséria”, disse.

A diplomata indicou ainda que “mais de 60% do trigo exportado ao abrigo do acordo foi para países em desenvolvimento e países de rendimento médio”, inclusive “através do Programa Mundial de Alimentos para a Etiópia, Iémen e Afeganistão”.

Dmitry Chumakov, diplomata russo que substituiu Vasily Nebenzya na reunião, contrariou as afirmações de Woodward, alegando que “mais de metade dos recetores dos cereais desta iniciativa foram países de rendimento alto, e uma vasta maioria são Estados da União Europeia”.

A maioria dos diplomatas presentes na reunião do Conselho de Segurança instaram a Rússia a manter-se no acordo, como é o caso da Turquia, com o embaixador, Feridun Sinirlioglu, a pedir que “a razão prevaleça e que o acordo tenha continuidade”.

Na reunião esteve ainda presente o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, que questionou os argumentos russos para suspender a sua participação no acordo.

Griffiths observou que não havia cargueiros no corredor na noite de 29 de outubro, quando o ataque supostamente ocorreu.

“O corredor é apenas um conjunto de linhas num mapa. Quando os navios da Iniciativa não estão na área, o corredor não tem estatuto especial. Não oferece cobertura nem proteção para ações militares ofensivas ou defensivas. Não pode ser usado como escudo ou esconderijo. Nem é uma zona proibida”, explicou ainda Martin Griffiths.

Além disso, nenhum navio cargueiro da iniciativa “estava no corredor na noite de 29 de outubro, quando ocorreram os ataques relatados” e “nenhum navio relatou um incidente no fim de semana”, frisou.

“O corredor tem funcionado tranquilamente. Os navios navegaram, a comida fluiu, os preços caíram”, refletiu o líder humanitário da ONU, pedindo que esta “linha de abastecimento permaneça aberta”.

Enquanto isso, os ministros da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, e da Turquia, Hulusi Akar, discutiram ontem o acordo sobre a exportação de cereais ucranianos.

“Foram discutidas questões relacionadas com a suspensão pela Rússia da implementação do acordo sobre a exportação de produtos agrícolas dos portos ucranianos”, diz um breve comunicado do departamento militar russo.

Pouco depois, um comunicado do Ministério da Defesa turco informou que Akar transmitiu ao seu homólogo russo a “grande importância de continuar a iniciativa dos cereais” para ajudar a mitigar a crise alimentar global.

Akar enfatizou que todos os problemas podem ser resolvidos com diálogo e cooperação e insistiu que o transporte de cereais é uma atividade puramente humanitária e disse esperar que o seu homólogo “avalie novamente” a decisão de suspender a iniciativa.

A Rússia anunciou, no sábado, a suspensão da sua participação no acordo sobre as exportações de cereais dos portos ucranianos após um ataque de ‘drones’ (aeronaves não tripuladas e controladas remotamente) que visou a frota russa estacionada na baía de Sebastopol, na Crimeia anexada.

O acordo, concluído em julho sob a égide da ONU e da Turquia, permitiu a exportação de vários milhões de toneladas de cereais retidos nos portos ucranianos desde a invasão russa em fevereiro, que fez com que os preços dos alimentos disparassem, aumentando o receio da fome.

LUSA/HN

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