Morte de segunda criança em quarentena na China renova críticas à estratégia zero casos

17 de Novembro 2022

A morte de uma segunda criança na China, devido ao excesso de zelo na aplicação das medidas de prevenção epidémica, renovaram o descontentamento popular no país com a estratégia ‘zero casos’ de Covid-19.

Uma menina de 4 meses morreu após sofrer vómitos e diarreia, quando cumpria quarentena num hotel na cidade de Zhengzhou, centro da China, de acordo com informação difundida pela imprensa local e publicações nas redes sociais.

O pai da criança levou 11 horas até conseguir ajuda, depois de os serviços de emergência terem recusado atender a criança, que foi finalmente enviada para um hospital a 100 quilómetros de distância do local onde cumpria quarentena.

A morte ocorreu depois de o Partido Comunista Chinês (PCC) ter prometido, na semana passada, que pessoas em quarentena não seriam impedidas de ter acesso aos serviços de emergência, na sequência da morte de um menino de três anos, por envenenamento causado por uma fuga de monóxido de carbono em casa, no noroeste do país.

O seu pai culpou os profissionais de saúde da cidade de Lanzhou, que, segundo ele, tentaram impedi-lo de levar o filho para o hospital.

Nas redes socais, internautas expressaram raiva com a estratégia de ‘zero casos’ de covid-19 e exigiram que as autoridades em Zhengzhou fossem punidas por negligência.

“Mais uma vez, alguém morreu por causa de medidas excessivas de prevenção epidémica”, escreveu um internauta, na rede social Sina Weibo. “Eles colocam o seu posto oficial acima de tudo”, observou.

Directrizes nacionais publicadas na semana passada pediram aos governos locais que sigam uma abordagem científica e direcionada, e que evitem medidas desnecessárias. As autoridades querem evitar bloqueios de cidades inteiras, para tentar minimizar o impacto na atividade económica, mas sem abdicar da estratégia que visa eliminar surtos do novo coronavírus.

A estratégia chinesa manteve os números de infeção da China muito abaixo do registado no resto do mundo, mas os moradores de algumas áreas reclamaram da escassez de alimentos e outros bens de primeira necessidade.

A China registou 23.276 novos casos, nas últimas 24 horas. Isto incluiu um total de 9.680 em Cantão, uma das maiores cidades da China e um importante centro industrial.

No início desta semana, grupos de moradores em Cantão escaparam ao bloqueio dos seus bairros e entraram em confrontos com a polícia. As tensões ocorreram no distrito de Haizhu, que está sob um bloqueio altamente restritivo. A área é o lar de muitos trabalhadores migrantes, oriundos de zonas rurais pobres. Reclamaram por não estarem a ser pagos por não puderem comparecer ao trabalho e da escassez de alimentos e do aumento dos preços, devido às medidas de prevenção epidémica.

Um total de 1.659 casos foram diagnosticados na província de Henan, da qual Zhengzhou é a capital.

A menina de 4 meses e o seu pai foram colocados em quarentena no sábado.

Uma conta na rede social Weibo de um utilizador que se identifica como sendo o pai da criança, Li Baoliang, disse que começou a ligar para a linha direta de emergência ao meio-dia de segunda-feira, depois de a menina ter sofrido vómitos e diarreia. A linha direta respondeu que a menina não estava doente o suficiente para precisar de atendimento de emergência.

Os profissionais de saúde no local da quarentena chamaram uma ambulância, mas a equipa recusou-se a lidar com o caso porque o pai testou positivo para o novo coronavírus.

A menina finalmente chegou ao hospital às 23:00, mas acabou por morrer, apesar dos esforços para reanimá-la.

A conta atribuída ao pai reclamou que a linha direta de emergência agiu de forma inadequada, os hospitais próximos recusaram ajudar e o hospital para onde foram enviados não forneceu “tratamento em tempo útil” e deu informações “seriamente falsas”.

“Funcionários para a prevenção e controlo da epidemia, vocês não têm coração”, questionou um internauta.

O governo da cidade de Zhengzhou disse que o incidente está sob investigação, de acordo com a imprensa.

LUSA/HN

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