Recursos humanos: SNS “tem que desenvolver um modelo de gestão estratégica de pessoas”

25 de Novembro 2022

Para reter profissionais, o Serviço Nacional de Saúde precisa de desenvolver um modelo de gestão estratégica de pessoas e deixar de isolar os fatores que condicionam as carreiras, foi hoje defendido no Congresso Internacional dos Hospitais.

“Conforme discutimos nesta sessão, não podemos continuar a olhar para pontos separados. A remuneração, a carreira e as condições tecnológicas, todas são fundamentais. É um todo. E há profissionais que valorizam mais umas do que outras. Em primeiro lugar, é preciso olhar sempre para todas as dimensões e, percebendo que há um denominador comum – que não pode ser totalmente personalizado –, procurar conciliar e perceber as ligações das coisas. É complexo, mas possível”, disse ao HealthNews Victor Ramos, depois de participar na mesa “Capital humano da saúde: como reter os profissionais no SNS”, no segundo dia do congresso “Tempo para Agir”, organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, a decorrer até sexta-feira no edifício sede da Altice Portugal, em Picoas (Lisboa).

“A questão da recompensa justa é um fator para não desmotivar, porque as pessoas entusiasmam-se com outras coisas desde que essa parte básica esteja assegurada”, completou o presidente da Fundação para a Saúde – SNS, que apresentou algumas conclusões de um estudo da Ordem dos Médico ainda por divulgar, que indica “claramente” porque é que as pessoas decidem sair ou manter-se no Serviço Nacional de Saúde.

Quem valoriza a componente financeira, a flexibilidade de horários e a possibilidade de estar menos vinculado a uma organização, “vai preferir uma opção privada” – “e sempre será assim” –, e “aqueles que gostam de trabalhar em equipa e de sentir que o seu papel faz diferença no mundo (…) vão querer ficar num local em que esses valores são dominantes”.

“Agora, se as recompensas que eles recebem forem insuficientes para a sua vida, diária, de família, ou injustas comparativamente com esse serviço noutras organizações, essas pessoas começam a sofrer” e escolhem, eventualmente, abandonar a sua instituição.

Para Victor Ramos, as condições de trabalho têm de ser “completamente revistas”; é preciso dar autonomia às equipas, para que estas distribuam as tarefas levando em consideração competências e perfis; e os profissionais do SNS têm de passar a usufruir dos sistemas de informação sem entraves.

A direção executiva “é uma boa oportunidade” para coordenar e “pilotar” o Serviço Nacional de Saúde. “O que faz a diferença é o sentido e o rumo – e isso é possível e está-nos a fazer falta”, concluiu Victor Ramos.

“O SNS, para reter profissionais de saúde, tem que desenvolver um modelo de gestão estratégica de pessoas”, afirmou Generosa do Nascimento, professora auxiliar do Departamento de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional do ISCTE, presente na mesma mesa do congresso, também em declarações ao HealthNews.

A professora explicou que o SNS, “para ter um modelo de gestão estratégica de pessoas, tem que ter um sistema integrado e possuir líderes transformacionais”, “onde os gestores de pessoas, isto é, aqueles que hoje ocupam a direção de recursos humanos, sejam coaches de gestão estratégica de pessoas”. “Quem é que vai fazer a gestão de pessoas? São os próprios líderes.”

Em termos de commitment (compromisso) com a organização, que poderá ser, por exemplo, “afetivo”, “calculativo” ou “normativo”, “o ideal era termos os nossos colaboradores com um commitment afetivo”, referiu Generosa do Nascimento.

E prosseguiu: “Segunda questão: será que todos os seus estados psicológicos estão perfeitamente assegurados? A variedade de competências, o significado da função, a identidade da função, a autonomia e o feedback foram assegurados? Então, sim. Mas não basta. Agora, tenho de perceber como é que este profissional vê que a sua organização lhe promove ligações, assim como a comunidade. O mesmo em termos de ajustamento, se ele é reconhecido, e, finalmente, se ele sente que é ganhador naquela organização. Um colaborador nestas condições fica lá dentro.”

O debate foi moderado pela enfermeira Maria Augusta de Sousa.

HN/Rita Antunes

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