100 decisões diárias sobre o seu tratamento: o peso da diabetes para quem vive sem bombas automáticas

27 de Dezembro 2022

A APDP reforça a importância do alargamento rápido do programa de colocação de bombas de insulina para as pessoas com diabetes tipo 1, e o seu presidente alerta que os diabéticos chegam a ter de tomar mais de 100 decisões por dia.

Esta questão foi ponto central de debate na reunião extraordinária da Comissão de Saúde da Assembleia da República no dia 22 de dezembro, a propósito da petição pelo acesso aos sistemas híbridos de perfusão subcutânea contínua de insulina (bombas de insulina) e pela qualidade de vida das pessoas com diabetes tipo 1 em Portugal. No que diz respeito a pessoas com diabetes tipo 1 acompanhadas na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), cerca de 600 aguardam por este sistema.

“As pessoas com diabetes chegam a ter de tomar mais de 100 decisões por dia para poderem manter o controlo da sua diabetes”, explica José Manuel Boavida, acrescentando: “A situação que vivemos hoje é a de que o SNS ainda funciona na base daquilo que foi o estudo inicial para a colocação das primeiras bombas. Temos de avançar para conseguirmos garantir um acesso generalizado a bombas que vão revolucionar o tratamento e se atingir uma melhor qualidade de vida para todos os que vivem com diabetes tipo 1. Só na APDP temos 600 pessoas com diabetes tipo 1 à espera para colocação destes sistemas”.

“Existem estudos clínicos que mostram a grande eficácia destas bombas e estudos económicos que mostram o benefício económico a elas associado”, defende, apelando a uma decisão para se ir além e “aproveitar a experiência adquirida através da utilização das bombas anteriores (não automáticas) para colocar rapidamente cinco mil bombas por ano”. “A nossa proposta passa por introduzir estas bombas nos sistemas normais de funcionamento do Serviço Nacional de Saúde, bastando a prescrição de médico especialista do centro de colocação de bombas de insulina”, avança.

Os vários pais presentes nesta sessão partilharam a sua experiência e a melhoria que estas bombas podem proporcionar à vida dos seus filhos. Uma das mães, cuja filha foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 7 anos e utiliza bomba de insulina híbrida há cerca de um ano, desde os 12, descreveu o esforço que tem feito para garantir que a sua filha tem acesso ao melhor tratamento: “Neste momento, vivo sozinha com as minhas duas filhas, uma delas com diabetes, e sou administrativa num hospital, com ordenado mínimo. Achei que valia o esforço e investi numa bomba [automática], porque lhe dá qualidade de vida e, a longo prazo, lhe vai dar mais saúde. E eu não consigo suportar a bomba de insulina com o ordenado que tenho. Arranjei um part-time – entro no trabalho às 9 da manhã, chego a casa às 16 horas, entro no outro trabalho às 17 horas e chego a casa às 22h30”, altura a partir da qual tem tempo para as suas filhas, lamenta.

A petição da APDP, que juntou mais de 27 mil assinaturas, foi entregue na Assembleia da República a propósito do Dia Mundial da Diabetes, que se assinalou no dia 14 de novembro. A APDP propôs aos grupos parlamentares um aditamento ao Orçamento de Estado de 2023 para a comparticipação de 100% dos dispositivos automáticos de insulina para pessoas com diabetes tipo 1 (DT1), que foi apoiado pelo Bloco de Esquerda. O pedido foi chumbado, tendo sido aprovada uma norma para a criação de um grupo de trabalho para avaliar as condições do alargamento do acesso aos sistemas.

Em Portugal, calcula-se que serão mais de 30.000 as pessoas que vivem com DT1, 5.000 das quais serão crianças e jovens, sendo que este número tem vindo a aumentar consideravelmente nos últimos anos.

PR/HN/RA

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