Assaltos e raptos de comerciantes aumentam na Venezuela

30 de Dezembro 2022

Os crimes de roubo de viaturas, extorsão, assaltos e raptos de comerciantes estão a aumentar na Venezuela, apesar de nos últimos anos terem registado uma redução significativa.

O alerta foi dado pelo Observatório Venezuelano de Violência (OVV), que atribui a situação à dolarização local da economia que permitiu fazer transações em moeda estrangeira, sem que os comerciantes tenham onde depositar o dinheiro recebido.

“No ano 2022 pode-se observar um aumento geral das atividades de extorsão contra os fatores económicos ou indivíduos que tiveram acesso a dólares ou outras moedas estrangeiras”, alertou o presidente do OVV durante a apresentação do relatório “Violência na Venezuela – 2022”.

Sem revelar dados, Roberto Briceño León explicou que esse aumento afeta significativamente “o comércio de bens importados, cujas transações são efetuadas em moeda estrangeira” e que “estão continuamente sujeitas a ameaças verbais diretas, com áudios e vídeos, inclusive de agressões, como a explosão de granadas em instalações comerciais”.

“Nos primeiros nove meses deste ano, já tinha sido ultrapassado o número total de assaltos e roubos de veículos reportados em 2021”, frisou.

Segundo Briceño León, “a situação de empobrecimento, a destruição ou paralisação generalizada da atividade económica” levaram à redução da atividade criminosa, mas “a dolarização do comércio e do trabalho, as atividades de extração mineira, o branqueamento de capitais, (o tráfico de) drogas, bem como as remessas familiares” explicam “o ressurgimento de crimes e violência que tinham sido significativamente reduzidos”.

“O facto que impulsionou o roubo predatório e os homicídios ou lesões associadas, tem sido a posse contínua de ‘efetivo’ (dinheiro em cash) por indivíduos e comércios, uma vez que recebem os pagamentos em dólares e não têm qualquer possibilidade prática de fazer operações bancárias, de depositar o dinheiro resultante das transações, e devem mantê-lo na sua posse”, explicou.

O presidente do OVV insistiu que “o produto das vendas das empresas ou salários” torna-se uma oportunidade para criminosos isolados ou pequenos, enquanto “o crime organizado se concentrou na extorsão”.

Por outro lado, estão também a aumentar os assaltos a autocarros, porque há mais dólares nas algibeiras dos trabalhadores que conseguiram dolarizar os seus rendimentos.

“Embora se saiba que o crime de rapto raramente é denunciado, os números oficiais dos casos denunciados nos três primeiros trimestres de 2022 também excederam o número total de raptos registados em 2021”, disse.

Segundo Briceño León “os raptos tinham diminuído devido à perda de valor da moeda nacional, a falta de notas (de bolívares) e às restrições à mobilização” impostas pela quarentena da Covid-19, mas aumentaram com “a possibilidade de cobrar regate em moeda estrangeira”, atraindo novos criminosos à procura de lucros grandes e rápidos para se armarem e consolidarem.

“Assiste-se também a um aumento dos assaltos e extorsão de produtores rurais e transportadores de produtos alimentares (…) que são ameaçados por gangs ou guerrilhas, e pela própria polícia local ou oficiais militares, que umas vezes os protegem e outras lhes extorquem dinheiro”, frisou.

O presidente do OVV denunciou que a atuação de funcionários, contrária à lei, impondo sanções, multas e obrigando a entrega de dinheiro e bens para completar ou agilizar trâmites, continua a criar uma situação de desamparo na população e maior desconfiança nas autoridades.

“Em muitas partes do país, a ‘alcabala’ (ponto de controlo da polícia) é frequentemente visto pela população como o local emblemático da arbitrariedade e abuso policial”, frisou.

Por outro lado, explicou que nas regiões fronteiriças há migrantes que ficaram “à mercê de grupos armados irregulares” que “os obrigam a participar em atividades criminosas como o tráfico de droga, prostituição ou incorporação forçada em grupos de guerrilha ou paramilitares”.

Roberto Briceño León denunciou ainda que alguns indivíduos têm viajado a outros países para aprenderem novas táticas de atuação criminosa e que algumas organizações criminosas se têm aproveitado dos migrantes.

LUSA/HN

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