Médico angolano diz que exigência de teste pré-embarque para entradas em Angola “não garante eficácia”

22 de Fevereiro 2023

O médico angolano Jeremias Agostinho disse hoje que a obrigatoriedade de apresentar um teste negativo à covid-19 para quem viaja para Angola “nesta fase, não garante eficácia” e pode dissuadir as pessoas de se vacinarem

“Na prática não garante nenhum efeito, principalmente para aquelas pessoas que já estão vacinadas. Aliás, este tem sido um dos motivos que tem levado a que muita gente não faça a vacina”, disse hoje o médico em declarações à Lusa.

Se vacinados e não vacinados forem obrigados a fazerem o teste para viajar, argumentou, “então, nesta altura de nada vale fazer a vacina quando todos somos obrigados a fazer o teste”.

“Então, é uma medida de saúde pública que nesta fase não garante eficácia, até porque temos uma situação de covid-19 controlada, nunca esteve descontrolada”, frisou.

Angola mantém até hoje a exigência de teste covid-19 pré-embarque com resultado negativo para entradas no país, realizado até 48 horas antes da partida, segundo o decreto presidencial n.º 241/22, divulgado em outubro de 2022.

Comentando hoje a referida exigência, Jeremias Agostinho, especialista em saúde pública, insistiu que a mesma “deve ser evitada” por onerar, sobretudo, a viagem de quem pretende voltar para Angola ou queira desembarcar para turismo ou negócios.

Apontou ainda para a necessidade de se abrir “uma exceção”, para a realização do teste, particularmente às pessoas que não tenham tomado a vacina da covid-19.

“Para os que já têm a vacina, dispensam a realização de um teste da covid-19 e quem não tem a vacina tem de necessariamente fazer o teste. Isto iria fazer com que as pessoas optassem mais por fazer a vacina e menos por não fazer”, defendeu.

De acordo com Jeremias Agostinho, a obrigatoriedade do teste pré-embarque da covid-19 pode também dar azo a algum esquema de contrapartida, como a “gasosa” (pequena corrupção), sobretudo, por parte de quem “tem a responsabilidade de fiscalizar a entrada de cidadãos”.

“São medidas a serem evitadas e, do ponto de vista de saúde pública, elas não têm eficácia necessária. Mesmo a nível de muitos países europeus e americanos, por exemplo, estes testes já foram suspensos”, notou.

Os testes “voltaram a ser exigidos para países que tiveram uma situação de covid um pouco mais complicada, como por exemplo a China, mas para os demais países, como Portugal, por exemplo, não se precisa apresentar testes ou certificado de vacina”, rematou o médico angolano.

Desde 07 de janeiro, Portugal voltou a exigir, para passageiros de voos provenientes da China, a apresentação no momento do embarque de um teste negativo realizado no máximo até 48 horas antes da viagem.

Em 16 de novembro do ano passado, altura em que o Ministério da Saúde anunciou que iria iniciar a administração da quarta dose da vacina, o secretário de Estado para a Saúde Pública de Angola, Pinto de Sousa, informou que tinham sido registados até à data 104.424 casos de covid-19, 102.297 recuperados, 1.922 óbitos e 215 ativos, dos quais 53 sintomáticos e 162 assintomáticos.

Angola publica um boletim diário sobre a vacinação contra a covid-19, mas deixou de divulgar as estatísticas sobre as infeções.

Segundo a base de dados do centro de pesquisa da universidade Johns Hopkins, até 21 de fevereiro Angola somou 105.184 casos, dos quais 1.931 mortes.

Até 21 de fevereiro foram administradas 24,5 milhões de doses de vacinas, com uma taxa de cobertura (uma dose) da população alvo (com idade igual ou superior a 12 anos) de 80,8% e esquema básico (dose única ou duas doses) de 44,92%.

O último decreto presidencial sobre o tema extinguiu a comissão multissetorial responsável pela gestão da pandemia e deixou cair a obrigatoriedade do uso de máscara facial (exceto em unidades sanitárias e farmácias), bem como do teste à chegada ao aeroporto de Luanda.

NR/HN/LUSA

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