Especialistas manifestam-se contra aumento de enfartes de miocárdio na população portuguesa

3 de Março 2023

Um conjunto de médicos especialistas denunciou, em carta aberta, o aumento de enfartes de miocárdio na população portuguesa em 2022, exigindo a investigação e análise do "retrocesso" verificado na saúde cardiovascular em Portugal. 

Na carta, os signatários alertaram para o aumento do número de doentes, cada vez mais jovens, com enfarte de miocárdio e os atrasos verificados no tempo de ativação da emergência médica no ano de 2022.

No documento a que o nosso jornal teve acesso são citados os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) relativos ao transporte de doentes com enfarte agudo de miocárdio (EAM) para unidades hospitalares em Portugal durante o ano de 2022.

No ano passado foram encaminhados 1556 casos através da Via Verde Coronária, o que corresponde a um aumento de 73% face ao número de doentes transportados em 2021. Face ao número médico de doentes transportados entre 2018 e 2020 houve um aumento de 122%.

Relativamente à idade, os especialistas denunciaram que há cada vez mais doentes jovens a sofrer de um EAM.

“Tendo como referência os dados constantes no Registo Nacional de Síndromes Coronários Agudos da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, verifica-se que a idade média de 63 anos dos pacientes transportados pelo INEM em 2022 é bastante inferior à idade média de 68 anos dos doentes admitidos por EAM nos hospitais participantes nesse Registo que desde 2002 incluiu mais de 70 mil doentes. Também a proporção de homens com enfarte agudo de miocárdio transportados pelo INEM foi superior ao encontrado nesse Registo Nacional, 81% versus 71%”, lê-se na carta.

Os atrasos verificados no tempo de ativação da emergência médica no ano de 2022 são um outro assunto que preocupa os especialistas, pois houve um agravamento significativo do tempo entre o início dos sintomas e a ativação do INEM.

Segundo, os signatários no ano passado, o tempo passou “a ser até seis horas em 63% dos doentes, contra um histórico de menos de duas horas para 73% das vítimas em 2021, 72% em 2020, 74% em 2019 e 71% em 2018.”

Perante estes dados, os especialistas solicitam com carácter de urgência “a investigação e análise comparativa dos números detidos pelo INEM, bem como dos números detidos pelo Ministério da Saúde referentes às chamadas de urgência, transporte e internamento hospitalar, morte súbita e morte hospitalar e extra-hospitalar, por enfarte agudo de miocárdio, nos anos de 2018 a 2022”.

Pedem ainda a “colaboração da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) e do seu Centro Nacional de Coleção de Dados em Cardiologia (CNCDC), da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) e de outras entidades, associações e sociedades científicas por forma a realizar-se, em tempo útil, uma análise técnica dos dados referentes ao transporte, internamento e intervenção cardiovascular em doentes vítimas de enfarte de miocárdio e morte súbita nos anos de 2018 a 2022”.

Os signatários lembram que em 2022 foi registado pelo CODU (INEM) “o maior número de sempre de chamadas de emergência (mais de um milhão e meio) e que existe um excesso de mortalidade em Portugal, para o qual os acidentes coronários agudos poderão estar a dar um contributo particular, situação que importa caracterizar, conhecer e debelar”.

Entre os signatários encontra-se nome de notáveis na área como Jacinto Gonçalves, Jorge Torgal, José Fernandes e Fernandes e Lino Patrício.

HN/Vaishaly Camões

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