Ex-ministro britânico diz-se traído após divulgação de mensagens WhatsApp sobre pandemia

3 de Março 2023

A publicação não-autorizada de mensagens comprometedoras do antigo ministro da Saúde britânico Matt Hancock, considerada por este um “enorme abuso de confiança”, reabriram a discussão sobre a gestão da pandemia covid-19 pelo Governo conservador britânico.

As notícias publicadas no jornal Daily Telegraph têm por base mensagens trocadas na rede social WhatsApp entre membros do Governo e altos funcionários públicos, que Hancock cedeu à jornalista Isabel Oakeshott quando escreveram em conjunto o livro “Diários da Pandemia”.

As notícias até agora publicadas usam mensagens seletivamente para transmitir a ideia de que Hancock influenciou o Governo, incluindo o antigo primeiro-ministro Boris Johnson, relativamente à necessidade de restrições.

O Telegraph noticiou hoje que o Johnson quis acelerar o levantamento das restrições em 2020, mas que foi desencorajado por Hancock, e que resistiu a um segundo confinamento em 2020 por questionar os dados científicos.

Nos últimos dias, ficou-se também a saber que um assessor de Hancock enviou por mensageiro um teste de covid-19 ao filho do antigo ministro Jacob Rees-Mogg e que o antigo ministro da Educação queria garantir o acesso a máscaras para evitar que não dar aos professores fosse uma “desculpa para não terem de ensinar”.

Hancock, atualmente deputado, disse hoje num comunicado estar “muitíssimo desapontado e triste com a enorme traição e abuso de confiança” por parte da jornalista, pedindo desculpa pelo impacto nos colegas e funcionários públicos.

“Não há absolutamente nenhum caso de interesse público para esta enorme violação”, afirmou, alegando que o escrutínio da forma como o executivo geriu a pandemia deve ser o inquérito público já aberto, para o qual já cedeu as mensagens.

Mas a jornalista invocou hoje o “interesse nacional esmagador” e rejeitou que o tenha feito por dinheiro.

“Isto tem a ver com os milhões de pessoas, todos nós neste país, que foram adversamente afetadas pela decisão catastrófica de confinar o país repetidamente com base em dados inconsistentes, muitas vezes por razões políticas”, justificou-se, em declarações à BBC.

O Reino Unido foi um dos países com maior número de mortes durante a pandemia, mais de 182.000, estando em curso um inquérito público sobre se tal poderia ter sido evitado.

Ao mesmo tempo, muitos políticos, sobretudo de direita, continuam a argumentar que as restrições foram excessivas tendo em conta o impacto na economia e sociedade em geral.

Isabel Oakeshott é uma conhecida crítica dos confinamentos, que apelidou de “desastre”, e é companheira do político Richard Tice, líder do Partido Reform, anteriormente conhecido como Partido do Brexit.

A jornalista tem também um historial de contar segredos e violar as regras da confidencialidade das fontes.

Em 2019, publicou no Daily Mail telegramas confidenciais em que o embaixador do Reino Unido em Washington, Kim Darroch, chamava à administração Trump disfuncional e inepta.

A Casa Branca cortou o contacto com o diplomata britânico e Darroch teve de se demitir.

Em 2011, escreveu uma história revelando que Vicky Pryce, uma economista casada com um deputado, tinha mentido à polícia para deixar o marido escapar a uma multa por excesso de velocidade.

A jornalista entregou mais tarde a correspondência que teve com Pryce aos procuradores, o que levou a que ela e o agora ex-marido fossem condenados a uma pena prisão.

As revelações são um novo revés para Hancock, que foi forçado a demitir-se do governo conservador em junho de 2021, depois de violar as regras de bloqueio do coronavírus, ao ter um caso com uma assistente quando eram proibidos contactos fora do círculo familiar.

O antigo ministro foi suspenso pelo Partido Conservador em novembro por se ausentar do Parlamento sem avisar para participar durante várias semanas num ‘reality show’ na Austrália – “Sou uma Celebridade… Tirem-me daqui”.

LUSA/HN

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