Cátia Rodrigues: “A higiene íntima adequada é fundamental na prevenção de problemas de pele e de infeções vulvovaginais”.

03/20/2023
“Alguns sabonetes ou produtos utilizados na higiene íntima podem irritar a pele vulvar e a mucosa vaginal e provocar ou exacerbar dermatites ou infeções vulvovaginais”, alerta Cátia Rodrigues, especialista em Ginecologia-Obstetrícia do Hospital da Luz Arrábida.  “Os produtos de limpeza devem reunir algumas características essenciais, como serem hipoalergénicos, sem sabão, pH adequado, sem irritantes e com propriedades hidratantes”.

HealthNews –  Por que motivo é importante respeitar o pH da pele vaginal no momento de realizar a higiene correta?

Cátia Rodrigues (CR) – A vagina é um canal que faz a comunicação entre o exterior e o trato genital superior. Em grande parte, o que permite este equilíbrio entre o ambiente interno e externo é a flora vaginal. A presença de uma flora vaginal normal depende de vários componentes, um dos mais importantes é o pH. Com base em vários artigos publicados, o pH vaginal normal para mulheres em idade fértil varia de 3.8 a 5.0, o que é moderadamente ácido.

HN – Qual deve ser então o objetivo do produto de limpeza?

CR – Alguns sabonetes ou produtos utilizados na higiene íntima podem irritar a pele vulvar e a mucosa vaginal e provocar ou exacerbar dermatites ou infeções vulvovaginais. Assim, os produtos de higiene feminina devem ser formulados e testados especificamente para a área vulvar e vaginal para garantir que não causem danos. Os produtos de limpeza devem reunir algumas características essenciais, como serem hipoalergénicos, sem sabão, pH adequado, sem irritantes, com propriedades hidratantes, entre outros.

HN – Na infância são necessários cuidados especiais?

CR – Sim. O pH das mulheres em idade fértil difere do pH das mais jovens e das mulheres na pós-menopausa. Além disso, a anatomia da zona genital também é diferente, há menor quantidade de pelos púbicos, não estão completamente desenvolvidos os grandes lábios, a distância entre o ânus e a vagina é menor, entre outros. Todos estes fatores contribuem para um maior risco de agressão da vulva e, consequentemente, aparecimento de infeções vulvovaginais. Portanto, é fundamental uma higiene cuidada e os produtos utilizados devem ser adaptados.

HN – Qual a importância de fomentar a adoção de bons hábitos de higiene desde a infância?

CR – Naturalmente, o senso comum diz-nos que devemos ter cuidados de higiene íntima diários. E é dever dos pais/educadores/profissionais de saúde envolvidos na vida da criança transmitir essa informação. A falta de higiene pode ter consequências graves como dermatites, vulvovaginites ou doença inflamatória pélvica.

HN – E na adolescência, quais são os cuidados essenciais?

CR – A adolescência sempre foi encarada como um período especial de transição entre a infância e a vida adulta. Os órgãos genitais também passam por essa transformação. Um dos aspetos mais relevantes no contexto de higiene íntima é a menarca, ou seja, a primeira menstruação. Boas práticas de higiene, como o uso de pensos higiénicos e lavagem adequada da área genital, são essenciais. Assim, deve haver esta preocupação redobrada com a higiene íntima e uma adequação dos produtos de higiene conforme o desenvolvimento pubertário e início da atividade sexual.

HN – Na idade fértil, qual a importância de manter uma boa higiene vaginal? Quais são as rotinas corretas?

CR – A higiene íntima adequada é fundamental na prevenção de problemas de pele e de infeções vulvovaginais. Algumas das rotinas adequadas de higiene íntima são: evitar a lavagem apenas com água porque pode agravar a secura e a comichão; devem ser utilizados produtos de limpeza hipoalergénicos e com pH adequado (pH entre 4.2 e 5.6); lavar apenas uma vez por dia e evitar os banhos de assento, a menos que tenham indicação médica para tal; não utilizar esponjas ou luvas, apenas a mão; usar roupa interior larga de seda ou algodão; dormir sem roupa interior; evitar sabonete, gel de banho, esfoliantes, banho de espuma, ou lenços humedecidos; evitar o uso de produtos antissépticos, exceto se recomendados pelo médico e evitar o uso regular de pensos diários.

HN – Que fatores podem alterar o pH vaginal? Como evitá-lo?

CR – Muitos fatores podem levar a alterações ou desequilíbrios no valor do pH vaginal, incluindo infeções vaginais, envelhecimento, atividade sexual e a higiene íntima. A manutenção de um pH adequado é possível com cuidados adequados de higiene íntima, como já referimos atrás, utilização de probióticos em caso de infeção vulvovaginal, cuidado com a hidratação da vulva após a menopausa e utilização de preservativo (o esperma é uma substância alcalina que vai interferir com o ambiente naturalmente ácido da vagina).

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