Os dados não são claros, mas o mais apontado são cerca de 700 mil doentes com asma em Portugal1, dos quais 35 mil podem ter a forma mais grave da doença2. Mas como estamos hoje, no que a prevalência da asma diz respeito? A resposta será conhecida em breve, já que o “Epi-asthma – Prevalência e caracterização das pessoas com asma, de acordo com a gravidade da doença, em Portugal” está a entrar na sua fase final de recolha de dados.
Este estudo tem como grande objetivo determinar a prevalência da asma, assim como caracterizar o perfil do doente asmático, “fator muito importante na hora de tratar”, refere João Fonseca, imunoalergologista e um dos coordenadores científicos do estudo, “porque, por exemplo, a influência que a asma grave tem no dia-a-dia do doente é totalmente diferente da asma ligeira ou moderada, já que a frequência e intensidade dos sintomas e das crises é muito maior, assim como maior é também a dificuldade de controlar a doença”.
Iniciado em 2021, o Epi-asthma, uma iniciativa do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), da Universidade do Minho (UMinho), do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e da AstraZeneca, decorre em todo o território continental, em articulação com médicos de 38 unidades de saúde dos Cuidados de Saúde Primários. Jaime Correia de Sousa, médico de Medicina Geral e Familiar e também ele coordenador científico do estudo, explica que “existem três fases de avaliação: uma primeira, na qual se prevê a participação de 7500 pessoas, escolhidas aleatoriamente, de ambos os sexos, com 18 ou mais anos, e que respondem a um questionário telefónico, fazendo-se, assim, uma primeira triagem, mediante a existência de alguns sintomas respiratórios ‘suspeitos’. Na segunda fase, na qual se estima que sejam avaliadas 1818 pessoas, é realizado um conjunto de avaliações clínicas e de função respiratória, determinando, assim, a existência, ou não, da doença. Na última fase, onde se prevê que cheguem 460 pessoas diagnosticadas, é feita a caracterização da doença – se grave ou ligeira a moderada”.
Até ao momento, já foram contactadas perto de 5400 pessoas, das quais 1319 chegaram à fase de avaliação na unidade móvel, que já percorreu 17 municípios. Os resultados do estudo deverão ser conhecidos no início de 2024, mas, segundo Jaime Correia de Sousa, “é possível perceber, através da avaliação dos resultados do estudo piloto na ULS de Matosinhos, que este estudo é altamente importante, na medida em que a natureza e qualidade dos dados recolhidos irá permitir uma caracterização compreensiva dos doentes e um melhor apoio à gestão clínica da doença”.
Gestão clínica, essa, que passará também por aumentar a adesão à terapêutica por parte do doente e pela garantia que este a faz de forma correta. João Fonseca afirma que, “para o cumprimento da medicação, é necessário um esquema terapêutico simples e fácil de se adaptar ao quotidiano do doente. Por outro lado, é importante que o tratamento não seja demasiado oneroso, porque isso acaba por, muitas vezes, resultar no seu abandono”. Por fim, outro aspecto muito relevante na opinião do especialista, é a relação médico-doente: “é fundamental que o doente conheça bem a sua doença e tenha uma boa relação com o médico, de forma a sentir-se apoiado”. É que, para garantir uma terapêutica correta, “quanto mais bem informado o doente estiver, maior será a garantia de que faz a sua medicação corretamente”.
Este aspeto é particularmente importante se tivermos em atenção dados do estudo Characteristics of Reliever Inhaler Users and Asthma Control: A Cross-Sectional Multicenter Study in Portuguese Community Pharmacies, que confirma um uso frequente e excessivo dos inaladores de alívio, o que faz aumentar o risco de problemas cardiovasculares, depressão, agudizações graves ou até morte, bem como uma elevada taxa de asma mal controlada entre os utentes das farmácias comunitárias nacionais que utilizam este tipo de inalador3. Neste seguimento, e para alertar os doentes para esta problemática, a Associação Portuguesa de Asmáticos (APA), o projeto CAPA – Cuidados Adequados à Pessoa com Asma, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP), a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e a Associação Nacional das Farmácias (ANF) em parceria com a AstraZeneca, tem divulgado, nas redes sociais, a campanha “Quebra o Ciclo – Deixa a asma sem fôlego”.
NR/PR/HN35
0 Comments