Especialista alerta que solidão tem tantos riscos como fumar e é a nova epidemia de saúde pública nos EUA

3 de Maio 2023

A solidão generalizada nos Estados Unidos representa riscos para a saúde tão mortais como fumar uma dúzia de cigarros por dia e é a mais recente epidemia de saúde pública.

O alerta foi feito pelo cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, a principal autoridade em saúde pública, que, ao declarar a solidão como a mais recente epidemia de saúde pública, referiu que ela custa ao setor da saúde milhares de milhões de dólares por ano.

Cerca de metade dos adultos norte-americanos dizem já ter sentido solidão, afirmou Vivek Murthy, num relatório de 81 páginas do seu gabinete.

“Sabemos agora que a solidão é um sentimento comum que muitas pessoas experimentam. É como a fome ou a sede. É um sentimento que o corpo nos envia quando algo que precisamos para sobreviver está a faltar”, disse Vivek Murthy numa entrevista à agência de notícias “Associated Press”.

E acrescentou: “Milhões de pessoas na América estão a lutar na sombra, e isso não está certo. Foi por isso que emiti este aviso, para tirar a cortina de uma luta que demasiadas pessoas estão a viver”.

A declaração destina-se a aumentar a consciencialização sobre a solidão, mas não desbloqueia o financiamento federal ou a programação dedicada a combater o problema.

A investigação mostra que os americanos, que nas últimas décadas têm vindo a envolver-se menos com os locais de culto, organizações comunitárias e até com os seus próprios familiares, têm vindo a registar um aumento constante de sentimentos de solidão. O número de agregados familiares solteiros também duplicou nos últimos 60 anos.

Mas a crise agravou-se profundamente quando a epidemia de Covid-19 se espalhou, levando escolas e locais de trabalho a fechar as portas e fazendo com que milhões de americanos se isolassem em casa, longe de familiares ou amigos.

As pessoas reduziram os seus grupos de amigos durante a pandemia do coronavírus e diminuíram o tempo passado com esses amigos, segundo o relatório do cirurgião-geral. Em 2020, os americanos passavam cerca de 20 minutos por dia, pessoalmente, com amigos, quando era cerca de uma hora duas décadas antes.

A epidemia de solidão está a atingir especialmente os jovens, com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos. O grupo etário registou uma quebra de 70% no tempo passado com os amigos durante o mesmo período.

A solidão aumenta o risco de morte prematura em cerca de 30%, tendo o relatório revelado que as pessoas com fracas relações sociais apresentam também um maior risco de acidente vascular cerebral e de doença cardíaca.

O isolamento também aumenta a probabilidade de uma pessoa sofrer de depressão, ansiedade e demência, de acordo com a investigação. Vivek Murthy não forneceu dados que ilustrem o número de pessoas que morrem diretamente devido à solidão ou ao isolamento.

O cirurgião-geral está a apelar aos locais de trabalho, às escolas, às empresas de tecnologia, às organizações comunitárias, aos pais e a outras pessoas para que façam mudanças que aumentem a conectividade do país.

Aconselha as pessoas a juntarem-se a grupos comunitários e a largarem os telemóveis quando estão a falar com os amigos; os empregadores a pensarem cuidadosamente nas suas políticas de trabalho à distância; e os sistemas de saúde a darem formação aos médicos para que reconheçam os riscos da solidão para a saúde.

A tecnologia exacerbou rapidamente o problema da solidão, tendo um estudo citado no relatório concluído que as pessoas que utilizavam as redes sociais durante duas horas ou mais por dia tinham mais do dobro da probabilidade de se sentirem socialmente isoladas do que as que utilizavam essas aplicações durante menos de 30 minutos por dia.

Vivek Murthy afirmou que as redes sociais estão a impulsionar o aumento da solidão em particular. O relatório sugere que as empresas de tecnologia implementem proteções para as crianças, especialmente em relação ao seu comportamento nas redes sociais.

“Não há realmente nenhum substituto para a interação pessoal”, disse, questionando: “À medida que passámos a utilizar cada vez mais a tecnologia para a nossa comunicação, perdemos muito dessa interação pessoal. Como é que concebemos uma tecnologia que fortaleça as nossas relações em vez de as enfraquecer?”.

LUSA/HN

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