Tratamentos para a DII não devem ser interrompidos na gravidez nem no período pós-parto

28 de Maio 2023

O alerta é feito pela gastroenterologista do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, Joana Roseira. No webinar "Quando a cegonha chega e tenho DII - Mitos, Verdades e Dúvidas", promovido pela Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino (APDI), a especialista sublinhou a importância das mulheres grávidas com DII garantirem a continuação da terapêutica ao longo de todo o processo da maternidade.

No âmbito do Dia Mundial da Doença Inflamatória do Intestino, a APDI foi mais longe e quis dedicar o mês de maio à consciencialização para estas patologias. Para tal, a associação promoveu todas as semanas uma sessão online com especialistas e testemunhos de doentes.

O arranque desta iniciativa decorreu no passado dia 9 com o tema “Quando a cegonha chega e tenho DII – Mitos, Verdades e Dúvidas”. A sessão contou com a participação de Joana Roseira, gastroenterologista do Centro Hospitalar Universitário do Algarve; Jorge Ascensão, psicólogo clínico da APDI e Clara Pisco, doente com DII.

O impacto da doença na fertilidade, na mulher grávida, no pós-parto e na amamentação foram os tópicos “quentes” que marcaram este primeiro encontro.

A sessão contou com o testemunho de Clara Pisco, 41 anos, doente com colite ulcerose e mãe de dois filhos – Pedro e Simão. Na sua intervenção, Clara respondeu a perguntas como: “A ansiedade fez parte do seu dia-a-dia?”, “Viveu a fase da maternidade em pleno?”, “Sentiu-se apoiada?”, “Quais foram os principais medos?” e “Como foi o pós-parto e a amamentação?”.

No webinar, Clara disse ter tido “por sorte” duas gravidezes “muito boas”, períodos em que a DII se manteve estável. “Nunca tive o foco na doença até porque, daquilo que eu ia lendo e daquilo que a minha gastroenterologista me transmitia, sabia que a maioria das mulheres com DII passavam por um período de remissão da doença. Portanto, acreditei que não seria diferente comigo”.

Mas será que o caso da Clara é a realidade de todas mulheres com DII que engravidam? Em resposta, a gastroenterologista explicou que a “DII tem uma etiologia que vai para além da base autoimune. Sabemos que uma doença que está em remissão, no momento da conceção será, muito provavelmente, uma doença em remissão durante toda a gravidez.”

Sobre se a fertilidade é ou não afetada por esta doença, Joana Roseira alerta que a evidência científica sugere que sim, mas em “situações particulares”. “A inflamação que carateriza a DII não é um ambiente favorável a uma conceção de sucesso. Por outro lado, existem duas situações que também podem afetar a fertilidade e que têm a ver com os fármacos e com as cirurgias”. No entanto deixou claro que “a maioria das terapêuticas que temos não afetam a fertilidade”.

Segundo a especialista “a exceção é a salazopirina que pode afetar a contagem e motilidade dos espermatozoides no homem, mas sabemos que se trata de uma alteração reversível. Se o homem manifestar o desejo de ser pai mudamos o tratamento. Em relação às cirurgias, existe uma particular que se sabe que pode diminuir a fertilidade na mulher – quando existe uma remoção de todo o intestino grosso e é construída uma bolsa na pélvis”.

Apesar de Clara ter referido que viveu a gravidez em pleno, admitiu ter sentido que serviu como “exemplo para o hospital”, pois os especialistas que a acompanharam não teriam tido uma outra paciente com DII. O facto de ter sido um caso-novidade, fez com que fossem sugeridas algumas alterações na terapêutica no período da amamentação.

“Recordo-me que os pediatras, na altura, não estavam muito confortáveis com a medicação que estava a fazer e chegaram a aconselhar-me para suspender a medicação”, revela.

Dividida entre as diferentes opiniões, Clara decidiu continuar a medicação durante a amamentação, pois sentia que era a decisão correta.

Surpreendida pelo testemunho da doente, a médica Joana Roseira fez questão de sublinhar a importância de continuar a terapêutica durante todo o processo da maternidade. “Quase toda a medicação que utilizamos para a DII é segura, tanto para a mãe, como para o feto. Aquilo que é realmente um risco é a atividade da doença e as agudizações que acontecem precisamente quando se suspendem os fármacos”.

Sobre a relação médico-doente, o psicólogo clínico da APDI disse ser fundamental nas mulheres com DII. “A comunicação é determinante durante todos os momentos de medo (…) Se existir uma boa relação com a equipa médica, significa que esta será a principal fonte de informação da doente”.

No final da sessão, Jorge Ascensão abordou a pergunta “A depressão no pós- parto é igual nas mulheres com DII? O especialista concluiu que a evidência não é clara, dependendo dos traços de personalidade de cada mulher. No entanto, defende que estas mulheres precisam de ter uma maior atenção a nível de acompanhamento psicológico.

Texto de Vaishaly Camões

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