Jovem são-tomense com traumatismo craniano espera há seis meses transferência para Portugal

21 de Agosto 2023

Um jovem são-tomense de 19 anos está há quase seis meses internado no hospital de São Tomé, com "traumatismo grave" na cabeça que poderá corromper parte do cérebro se não for transferido com urgência para tratamento em Portugal.

Danilo dos Ramos disse à Lusa que foi atingido por uma viatura, quando circulava de bicicleta e bateu com a cabeça no chão. Quando foi levado ao hospital fizeram análises e disseram que “estava tudo bem”.

O jovem contou que dias depois começou a ter inchaços na cabeça o que o obrigou a regressar ao hospital, tendo sido operado, mas nas semanas seguintes complicações corromperam-lhe toda a pele da parte detrás da cabeça, deixando parte do cérebro exposta e afetada há vários meses.

“Eu sinto que a cabeça, quando foi operada, fez como se estivesse a abrir-me a mente, como se alguém estivesse a meter a mão e a tirar algo lá de dentro. Quando fico deitado, sinto que a pessoa está a dar-me com ferro nas costas”, descreveu Danilo dos Ramos.

Deitado numa cama do hospital Doutor Ayres de Menezes, em São Tomé, com uma extensa ligadura na cabeça, Danilo dos Ramos clamou por uma evacuação médica para Portugal, para se encontrar solução para o problema.

“Espero que isso acabe logo, isso está a causar-me muita dor (…) Eu não quero mais essa dor, não quero mais essa aflição, eu não durmo há 15 dias”, apelou.

Um dos seus irmãos mais velhos, Temilson dos Ramos, enviou à Lusa fotografias que fez circular há uma semana nas redes sociais, expondo a “situação chocante” em que ficou a cabeça de Danilo, mas, ainda assim, não houve solução.

“Se o hospital aqui mexeu com a cabeça dele, sabiam que é uma situação que não pode ser operada aqui não mexiam, mandavam para casa assim como ele veio. Lá [em Portugal] iam ter solução para ele”, reclamou Temilson dos Ramos.

Segundo disse, a família já tratou todos os documentos que o hospital teria orientado para que Danilo dos Ramos seja transferido para tratamento em Portugal, mas até ao momento não tem uma resposta definitiva.

“Se eles não resolverem” e o jovem morrer, então “a família vai ter que rejeitar” o corpo, advertiu.

A Lusa esteve no hospital e tentou ouvir a direção da instituição e os serviços clínicos, mas foram recusadas explicações, com a orientação para que os esclarecimentos sejam solicitados por carta escrita à administração hospitalar.

No entanto, contactada pela Lusa, a médica são-tomense Ana Maria Costa, especialista em Medicina Interna, com valência em emergência pré-hospitalar, que trabalha no Hospital Dr. José Maria Grande, em Portalegre, Portugal, analisou a situação de Danilo dos Ramos através de imagens e admitiu tratar-se de um “traumatismo de auto nível”.

“A pergunta que eu coloco é se esse doente tem uma TAC [tomografia arterial computorizada] crânio encefálica feita antes e após a cirurgia?”, questionou, alertando que o paciente precisava de uma ressonância magnética nuclear, o que não existe nos serviços de saúde são-tomenses.

Ana Maria Costa admitiu que, na sequência da operação, terá havido “um crescimento de tecido cerebral”, “com uma ferida enorme na região cerebral”, que é preciso tratar ”com a máxima urgência”.

“O utente está há cinco, seis meses em sofrimento, com dor e a fazer sabe-se lá Deus o quê, e em São Tomé, com uma lesão dessa num organismo jovem (…) eu não consigo compreender que uma situação dessa esteja em São Tomé sem a devida solução”, lamentou a médica.

“A partir do momento que há lesão cerebral a imposição da assistência da neurocirurgia é mandatória”, acrescentou.

A médica disse esperar que a ferida “esteja a ser tratada como uma ferida cirúrgica operatória, em condições acéticas”, em que o médico e o material usado nessa cirurgia seja “todo ele devidamente esterilizado”.

“Eu espero e agradeço que as entidades de saúde ponham em marcha todo o mecanismo existente em São Tomé para a evacuação [médica] desse jovem e é para ontem. Eu não consigo aceitar que uma coisa dessa está numa cama do hospital há cinco, seis meses”, apelou Ana Maria Costa.

LUSA/HN

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