Investigação da FMUP recomenda alargamento da vacina contra HPV a adolescentes e jovens adultos

6 de Setembro 2023

Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que o alargamento da vacinação contra o vírus do Papiloma Humano (HPV) em adolescentes e jovens adultos do sexo masculino deve estender-se até aos 26 anos.

Em causa está o alargamento da vacinação a adolescentes e jovens adultos do sexo masculino que não tenham iniciado a sua vida sexual.

Com este alargamento, acreditam os especialistas, poder-se-ia reduzir o risco de infeção pelo vírus e o desenvolvimento de doenças associadas, como o cancro.

“Na população masculina, a vacina contra o HPV é eficaz na prevenção de doenças associadas a este vírus. A eficácia da vacina é maior nos indivíduos que ainda não tiveram infeção por HPV, isto é, antes do início da atividade sexual. Contudo a sua eficácia mantém-se significativa nos homens, mesmo com infeção ou doença prévia por HPV, até aos 26 anos”, explica a investigadora Carmen Lisboa, citada num resumo do estudo partilhado com a Lusa.

Os dados deste estudo foram já publicados na revista científica Vaccines.

A equipa reviu dados a nível internacional que envolveram 14.239 participantes do sexo masculino, dos quais 1.076 eram rapazes com idades entre os 9 e os 15 anos, de vários países do mundo e com diferentes orientações sexuais.

Os resultados mostraram uma eficácia maior da vacina em homens sem infeção pelo HPV, o que corresponde aos rapazes mais novos, sobretudo crianças e adolescentes.

Ficou também evidente a eficácia da vacina em homens até aos 26 anos de idade, com ou sem história de infeção por HPV.

Carmem Lisboa acrescenta que “os estudos realizados e analisados nesta revisão sistemática não evidenciaram diferenças na eficácia da vacina na prevenção de infeção e doenças associadas ao HPV em grupos de homens com diferente orientação sexual ou homens com infeção por VIH, até àquela idade”.

Inicialmente, a vacina contra o HPV foi recomendada para administração a raparigas antes do início da atividade sexual, entre os 10 e os 12 anos.

Mais tarde, a investigação veio demonstrar a eficácia da vacina também nos rapazes e desde 1 de outubro de 2020, o Programa Nacional de Vacinação (PNV) alargou a vacinação contra o HPV aos rapazes, sendo administrada aos 10 anos.

A idade máxima para iniciar esta vacinação nos rapazes é 17 anos.

A infeção pelo HPV é a infeção de transmissão sexual mais frequente entre os mais jovens (dos 15 aos 25 anos de idade).

Até 80% dos homens e mulheres serão infetados pelo HPV em determinado momento da sua vida.

Além do trato anogenital, o vírus pode invadir a cavidade oral, orofaringe e laringe, provocando doenças malignas, como cancro anal e genital, bem como cancro da cabeça e pescoço.

A vacina é preventiva, não servindo para tratar a infeção em pessoas que já estão infetadas.

Dados da FMUP apontam que “a eficácia da vacina nos homens até aos 26 anos sem infeção prévia varia de 89% para as verrugas genitais e entre 90% a 92% na prevenção de lesões pré-cancerosas e cancro anal”.

“Dado que temos evidência da eficácia até aos 26 anos, a vacinação gratuita no PNV deveria contemplar estes jovens até aos 26 anos inclusive, ou seja, até ao dia antes de fazerem 27 anos”, defende Carmem Lisboa.

Reconhecendo que “o custo é uma das principais barreiras à vacinação contra o HPV”, a investigadora acrescenta que “o facto de ser divulgada como prevenção do cancro do colo de útero, direcionada ao sexo feminino, tornou mais difícil a sua implementação no sexo masculino”.

“A vacinação contra o HPV deverá ser neutra de género”, frisa.

O estudo “Impact of Human Papillomavirus Vaccination on Male Disease: A Systematic Review”, em português “Impacto da vacinação contra o papilomavírus humano nas doenças masculinas: uma revisão sistemática”, é também assinado por Catarina Rosado, Ângela Rita Fernandes e Acácio Gonçalves Rodrigues, docentes da FMUP e investigadores CINTESIS@RISE.

Esta investigação teve financiamento do programa Horizonte Europa e Norte 2020.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” foca cancro da bexiga para quebrar estigma

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde lançou uma nova temporada do projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” dedicada ao cancro da bexiga. Especialistas e doentes unem-se para combater o estigma em torno dos sintomas e alertar para a importância do diagnóstico atempado desta doença, que regista mais de 3.500 novos casos anuais em Portugal.

Maria Alexandra Teodósio eleita nova Reitora da Universidade do Algarve

O Conselho Geral da Universidade do Algarve elegeu Maria Alexandra Teodósio como nova reitora, com 19 votos, numa sessão plenária realizada no Campus de Gambelas. A investigadora e atual vice-reitora, a primeira mulher a liderar a academia algarvia, sucederá a Paulo Águas, devendo a tomada de posse ocorrer a 17 de dezembro, data do 46.º aniversário da instituição

Futuro da hemodiálise em Ponta Delgada por decidir

A Direção Regional da Saúde dos Açores assegura que nenhuma decisão foi tomada sobre o serviço de hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada. O esclarecimento surge após uma proposta do BE para ouvir entidades sobre uma eventual externalização do serviço, que foi chumbada. O único objetivo, garante a tutela, será o bem-estar dos utentes.

Crómio surge como aliado no controlo metabólico e cardiovascular em diabéticos

Estudos recentes indicam que o crómio, um mineral obtido através da alimentação, pode ter um papel relevante na modulação do açúcar no sangue e na proteção cardiovascular, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes. Uma meta-análise publicada na JACC: Advances, que incluiu 64 ensaios clínicos, revela que a suplementação com este oligoelemento está associada a melhorias em parâmetros glicémicos, lipídicos e de pressão arterial, abrindo caminho a novas abordagens nutricionais no combate a estas condições

Alzheimer Portugal debate novos fármacos e caminhos clínicos em conferência anual

A Conferência Anual da Alzheimer Portugal, marcada para 18 de novembro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai centrar-se no percurso que vai “Da Ciência à Clínica”. Especialistas vão analisar os avanços no diagnóstico, novos medicamentos e a articulação entre cuidados de saúde e apoio social, num evento que pretende ser um ponto de encontro para famílias e profissionais

Bayer anuncia redução significativa de marcador renal com finerenona em doentes com diabetes tipo 1

A finerenona reduziu em 25% o marcador urinário RACU em doentes renais com diabetes tipo 1, de acordo com o estudo FINE-ONE. Este é o primeiro fármaco em mais de 30 anos a demonstrar eficácia num ensaio de Fase III para esta condição, oferecendo uma nova esperança terapêutica. A segurança do medicamento manteve o perfil esperado, com a Bayer a preparar-se para avançar com pedidos de aprovação regulatória.

Hospital de Castelo Branco exige reclassificação na referenciação pediátrica

A Unidade Local de Saúde de Castelo Branco discorda da sua classificação como Hospital de Nível IB na proposta da Rede de Referenciação Hospitalar em Pediatria. A instituição alega que a categorização não reflete a sua capacidade assistencial e já solicitou formalmente uma reclassificação para Nível IIA, invocando uma estrutura pediátrica consolidada e uma oferta diferenciada.

Bupa avança em Portugal com primeira clínica dentária em Gaia

A Bupa inaugurou a sua primeira clínica dentária em Portugal, no El Corte Inglés de Vila Nova de Gaia. Com sete gabinetes e tecnologia de ponta, como TAC e scanner intraoral, a abertura marca a expansão do grupo no mercado português, que até agora se dedicava aos seguros de saúde. Iñaki Peralta, CEO para Europa e América Latina, destaca a aposta num modelo de cuidados inovador e personalizado.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights