Número de adolescentes em Portugal com sintomas depressivos aumentou em 2022-2023

28 de Setembro 2023

O número de adolescentes em Portugal com sintomas depressivos aumentou para 45% no último ano letivo (2022-2023), revelam os resultados do programa de promoção da saúde mental e prevenção de comportamentos suicidários em meio escolar “Mais Contigo”.

Quase metade (45,4%) de uma amostra de 13 mil adolescentes no país apresentou sintomatologia depressiva, representando um aumento face aos números de anos anteriores, referiu hoje a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), responsável pelo programa, em comunicado.

No ano letivo anterior, em que o “Mais Contigo” se estendeu a mais escolas do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, abrangendo o maior número de adolescentes desde o início do programa (em 2021-2022, a amostra foi de 5440 jovens), subiram também os adolescentes com indícios e manifestações de depressão moderados (14,8%) ou graves (15,3%).

“Uma vez mais, foram as raparigas a manifestar piores indicadores de saúde mental – maior sintomatologia depressiva, menor autoconceito e menor bem-estar”, conclui o estudo feito pela equipa coordenadora do projeto, criado em 2009 pela ESEnfC e pela Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC), com a cooperação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

Segundo o comunicado, os resultados têm por base uma amostra de alunos com uma média etária de 13,4 anos (faixa compreendida entre os 11 e os 21 anos de idade) a frequentarem 153 agrupamentos de escolas, mais 197 escolas ou colégios, de norte a sul de Portugal (incluindo Açores e Madeira).

“No final da intervenção, foi possível diminuir a sintomatologia depressiva, aumentar o bem-estar e o autoconceito, sendo que 96 adolescentes foram referenciados e encaminhados para serviços de saúde mental e psiquiatria e outros 90 para cuidados de saúde primários”, lê-se na nota.

O coordenador nacional do “Mais Contigo” e professor de saúde mental e psiquiatria na ESEnfC, José Carlos Santos, salientou que o programa cumpriu a sua missão, embora haja ainda desafios pela frente.

Citado no comunicado, o docente frisou que foram reforçadas as “dimensões protetoras para o comportamento suicidário, autoconceito e bem-estar, e reduzidas as de maior risco, o estigma e a sintomatologia depressiva, que passou de 30,1% [no início da intervenção] para 26%, mesmo assim um valor alto”.

De acordo com o responsável, os resultados obtidos “apelam para a necessidade de acompanhamento e intervenção sistemática dos adolescentes em contextos comunitários, onde a escola emerge como contexto prioritário”.

“Essa é, de resto, a recomendação da Comissão Europeia ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, onde se reforça a necessidade de integrar a saúde mental em todas as políticas”, realçou José Carlos Santos.

Segundo o docente, as razões da existência do programa “Mais Contigo” são cada ano “mais aprofundadas”, já que “o impacto da pandemia, com mais procura de cuidados de saúde mental, com mais distúrbios de ansiedade, de sintomatologia depressiva e mais alterações comportamentais, reforçam a sua importância”.

O coordenador nacional do programa considerou que as recentes alterações da legislação em torno da organização dos serviços de saúde mental, “com mais proximidade e recursos comunitários, são razão para ter esperança”, embora “alguns desafios se mantenham”.

Entre os desafios, José Carlos Santos salientou a necessidade de “conquista de um lugar para a saúde mental” na formação dos adolescentes, o diálogo entre instituições ou o anonimato dos questionários, que impede uma intervenção individualizada quando identificadas necessidades.

Os resultados do estudo foram apresentados na quarta-feira, em Coimbra, no XII Encontro “Mais Contigo”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

APEF e Ordem dos Farmacêuticos apresentam Livro Branco da formação

A Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF) promove a 22 de novembro, em Lisboa, o Fórum do Ensino Farmacêutico. O ponto alto do evento será o lançamento oficial do Livro Branco do Ensino Farmacêutico, um documento estratégico que resulta de um amplo trabalho colaborativo e que traça um novo rumo para a formação na área. O debate reunirá figuras de topo do setor.

Convenções de Medicina Geral e Familiar: APMF prevê fracasso à imagem das USF Tipo C

A Associação Portuguesa de Médicos de Família Independentes considera que as convenções para Medicina Geral e Familiar, cujas condições foram divulgadas pela ACSS, estão condenadas ao insucesso. Num comunicado, a APMF aponta remunerações insuficientes, obrigações excessivas e a replicação do mesmo modelo financeiro que levou ao falhanço das USF Tipo C. A associação alerta que a medida, parte da promessa eleitoral de garantir médico de família a todos os cidadãos até final de 2025, se revelará irrealizável, deixando um milhão e meio de utentes sem a resposta necessária.

II Conferência RALS: Inês Morais Vilaça defende que “os projetos não são nossos” e apela a esforços conjuntos

No segundo dia da II Conferência de Literacia em Saúde, organizada pela Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS) em Viana do Castelo, Inês Morais Vilaça, da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, sublinhou a necessidade de unir sinergias e evitar repetições, defendendo que a sustentabilidade dos projetos passa pela sua capacidade de replicação.

Bragança acolhe fórum regional dos Estados Gerais da Bioética organizado pela Ordem dos Farmacêuticos

A Ordem dos Farmacêuticos organiza esta terça-feira, 11 de novembro, em Bragança, um fórum regional no âmbito dos Estados Gerais da Bioética. A sessão, que decorrerá na ESTIG, contará com a presença do Bastonário Helder Mota Filipe e integra um esforço nacional do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida para reforçar o diálogo com a sociedade e os profissionais, recolhendo contributos para uma eventual revisão do seu regime jurídico e refletindo sobre o seu papel no contexto tecnológico e social contemporâneo.

Lucília Nunes na II Conferência da RALS: “A linguagem técnica é uma conspiração contra os leigos”

No II Encontro da Rede Académica de Literacia em Saúde, em Viana do Castelo, Lucília Nunes, do Instituto Politécnico de Setúbal ,questionou as certezas sobre autonomia do doente. “Quem é que disse que as pessoas precisavam de ser mais autónomas?”, provocou, ligando a literacia a uma questão de dignidade humana que ultrapassa a mera adesão a tratamentos

II Conferência RALS: Daniel Gonçalves defende que “o palco pode ser um bom ponto de partida” para a saúde psicológica

No âmbito do II Encontro da Rede Académica de Literacia em Saúde, realizado em Viana do Castelo, foi apresentado o projeto “Dramaticamente: Saúde Psicológica em Cena”. Desenvolvido com uma turma do 6.º ano num território socialmente vulnerável, a iniciativa recorreu ao teatro para promover competências emocionais e de comunicação. Daniel Gonçalves, responsável pela intervenção, partilhou os contornos de um trabalho que, apesar da sua curta duração, revelou potencial para criar espaços seguros de expressão entre os alunos.

RALS 2025: Rita Rodrigues, “Literacia em saúde não se limita a transmitir informação”

Na II Conferência da Rede Académica de Literacia em Saúde (RALS), em Viana do Castelo, Rita Rodrigues partilhou como o projeto IMPEC+ está a transformar espaços académicos. “A literacia em saúde não se limita a transmitir informação”, afirmou a coordenadora do projeto, defendendo uma abordagem que parte das reais necessidades dos estudantes. Da humanização de corredores à criação de casas de banho sem género, o trabalho apresentado no painel “Ambientes Promotores de Literacia em Saúde” mostrou como pequenas mudanças criam ambientes mais inclusivos e capacitantes.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights