“Informamos que, atualmente, no Hospital Beatriz Ângelo se registam constrangimentos na constituição da escala de urgência externa de cirurgia geral para o mês de novembro, impacto resultante das escusas ao trabalho suplementar para além das 150 horas, nesta especialidade”, disse fonte oficial deste estabelecimento hospitalar.
Em resposta à agência Lusa, fonte do Hospital Beatriz Ângelo deixou o apelo aos utentes para que “contactem o SNS24 através do 808 24 24 24 antes de se dirigirem ao hospital”.
Manifestando “grande preocupação” com a situação, o presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão (PS), disse à Lusa que “não tem nenhum dado que permita dizer que os tempos que aí vêm possam ser melhores”.
“Há meses, há bastante meses, que o Hospital Beatriz Ângelo está a funcionar muito aquém daquilo que é verdadeiramente necessário”, afirmou o autarca de Loures, referindo que os presidentes de câmara dos municípios que são servidos por este estabelecimento hospitalar aguardam há meses por uma reunião com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro (PS).
São quatro os municípios servidos pelo Hospital Beatriz Ângelo, nomeadamente Loures, Odivelas, Mafra e Sobral de Monte Agraço.
Em resposta escrita à Lusa, a Câmara Municipal de Odivelas, presidida por Hugo Martins (PS), referiu que o município se encontra a acompanhar a situação “com natural preocupação e em contacto permanente com as entidades competentes, reforçando a necessidade de uma solução urgente que permita ao Hospital Beatriz Ângelo retomar a sua importante atividade, tão breve quanto possível”.
Os autarcas destes municípios têm reunido com o Conselho de Administração do Hospital Beatriz Ângelo, mas “as respostas são sempre as mesmas, que está limitado e que há saída de médicos e etc., aquilo que infelizmente acontece pelo país fora”, indicou o presidente da Câmara de Loures, em declarações à Lusa.
Ricardo Leão disse estar “muito apreensivo” relativamente ao processo de negociações entre o Ministério da Saúde, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), esperando “que termine rápido, rapidamente, para se repor alguma normalidade dentro do Serviço Nacional de Saúde”.
Afirmando que o município de Loures está a fazer “um investimento como nunca foi feito antes” na construção de quatro novos centros de saúde, o autarca defendeu que “os centros de saúde têm de ser reforçados de meios e têm de passar para tipologia B, para poderem responder devidamente às pessoas, com horário alargado e com médicos”, de forma a diminuir a procura pelos serviços do Hospital Beatriz Ângelo.
“Os centros de saúde e unidades de saúde familiar têm de ser a primeira porta e, se estiverem a funcionar como deve ser, com horários mais alargados e com respostas mais abrangentes, vai permitir que as pessoas não recorram tanto às urgências do Hospital Beatriz Ângelo”, declarou Ricardo Leão.
Sem essa rede de saúde primária a funcionar convenientemente, “é difícil o Hospital Beatriz Ângelo, nas condições em que está, funcionar minimamente bem”, expôs.
“Esperamos rapidamente que um conjunto de centros de saúde e unidades de saúde familiar aqui do concelho de Loures passem para tipologia B, que permite de facto uma maior liberdade de atuação e autonomia, não só na gestão, mas também na relação monetária que os médicos e os profissionais dessas unidades de saúde familiar passam a ter, porque está relacionada com o desempenho de cada unidade de saúde familiar”, explicou o autarca, adiantando que as candidaturas já foram apresentadas, mas dependem da resposta do Ministério da Saúde.
Mais de 30 hospitais de norte a sul do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade das administrações em completarem as escalas de médicos.
Em causa está a recusa de mais de 2.500 médicos em fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias anuais a que estão obrigados.
Esta crise já levou o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, a admitir que novembro poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.
As negociações entre sindicatos e Governo já se prolongam há 18 meses e há nova reunião marcada para sábado.
LUSA/HN
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