Investigadora pede mais literacia em relação ao assédio no trabalho

16 de Maio 2024

A coordenadora do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) defendeu hoje a necessidade de mais literacia em relação ao assédio no local de trabalho, lembrando que é um problema que afeta quase um em cada cinco trabalhadores.

“Custa muito dizer isto, mas ainda temos uma percentagem entre os 17% e os 19% de casos em que as pessoas dizem que foram alvo de ameaça ou de outra forma de abuso, físico ou psicológico, com insultos, ou que foram postas de lado. É muito”, afirmou Tânia Gaspar de Matos, que coordenou o estudo que será hoje apresentado sobre ambientes de trabalho saudáveis.

A investigadora disse que falta literacia sobre o assédio no local de trabalho e exemplificou: “Quando devolvo estes dados às organizações, elas ficam sempre admiradas”.

“Tem a ver também com literacia, é uma questão cultural. Às vezes as pessoas dizem: ‘tem aquele feitio’. Mas não pode ser”, constatou, referindo que, felizmente, as gerações mais novas “não estão para isto”.

A psicóloga disse que as mulheres são mais afetadas pelo assédio no local de trabalho e afirmou que, muitas vezes, a vítima “ainda fica com dúvidas sobre se está a interpretar bem”.

Insiste na importância de ensinar o que é o assédio, como se pode manifestar e que consequências tem para a saúde mental das pessoas.

“Nas escolas, começou a falar-se mais de bullying e a coisa melhorou (…). Se não tivéssemos feito esse caminho [de falar sobre bullying] isto não tinha acontecido”, exemplificou.

Tânia Gaspar de Matos referiu que quem sofre de assédio, muitas vezes, “não faz queixa porque acha que [a queixa] vai ficar numa gaveta, ou que ainda ficará prejudicada” e defendeu a existência de um canal de denúncias, “transparente e externo à empresa”, para que a pessoa “tenha segurança” no processo.

“Mesmo quando a queixa vai para a frente e a organização aceita, há outro problema jurídico: ou não há testemunhas, ou tem de se provar o assédio, o que não é fácil”, acrescentou.

A psicóloga disse que “existe um perfil de vítima”, sublinhando que as pessoas mais assertivas estão menos expostas ao risco.

“É preciso promover competências nas pessoas para serem mais assertivas e terem mais confiança, ganhando ferramentas para combater estas situações”, defendeu.

O assédio pode envolver ações ou comentários intencionais, ofensivos e repetidos destinados a rebaixar deliberadamente a vítima ou a causar humilhação pessoal e, por vezes, também pode incluir isolamento social e exclusão intencional, críticas constantes e desproporcionais, controle excessivo ou até mesmo ameaças de demissão ou outras represálias, explicou.

Esclareceu que o assédio moral pode ser ascendente (do subordinado para o superior hierárquico) ou descendente, entre colegas ou organizacional, que é o que ocorre quando a cultura, as políticas e as práticas de uma organização promovem ou toleram comportamentos abusivos e discriminatórios.

O assédio moral no local de trabalho “afeta a saúde mental e o bem-estar dos profissionais numa perspetiva biopsicossocial”, disse, referindo que pode provocar sentimentos de ansiedade excessiva e ‘stress negativo’ provocado por uma perceção de falta de controlo ou incapacidade de lidar com determinada situação.

Pode igualmente levar a situações de dificuldades de concentração e memória, distúrbios do sono, sintomas de tristeza ou depressão, mais ou menos graves, assim como de esgotamento físico e mental (‘burnout’) e, em casos extremos, pensamentos suicidas.

As mulheres, os trabalhadores com menor escolaridade, os profissionais com doença crónica, da função pública, pertencentes às gerações X (43 a 59 anos) e Y (29 aos 44 anos) e os que trabalham em organizações maiores são os que estão em maior risco.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Menezes exige esclarecimentos à ministra da Saúde sobre futuro da ULS Gaia/Espinho

O presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, desafiou a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, a esclarecer os planos para a ULS Gaia/Espinho, manifestando oposição a eventuais medidas de desvalorização da oferta de saúde. Em publicação nas redes sociais, o autarca alertou para a necessidade de tranquilizar autarcas, profissionais e cidadãos, sublinhando a importância de valorizar o maior centro hospitalar a sul do Porto.

Médicos aderem à greve geral em defesa do SNS e contra pacote laboral

Os médicos representados pela Fnam vão parar a 11 de dezembro, juntando-se à greve geral convocada contra as medidas do Governo. A decisão, tomada por unanimidade no congresso da federação, enquadra-se numa luta mais ampla por melhores salários e condições, bem como na defesa intransigente de um SNS público. A presidente da organização criticou veementemente a visão da ministra da Saúde

Diabetes: O Peso Silencioso na Mente

Mais de metade das pessoas com diabetes em Portugal sente que a doença afeta significativamente o seu bem-estar emocional. Um estudo revela um impacto mental profundo, com dois terços dos inquiridos a reportarem ansiedade. O sentimento de isolamento e a discriminação são realidades para muitos, agravando um quotidiano já de si complexo

Depressão Precoce e Risco de Suicídio: Estudo Revela Marcadores Genéticos Distintos

Um estudo internacional publicado na Nature Genetics identificou diferenças genéticas significativas entre a depressão de início precoce e a tardia. A investigação, que analisou dados de mais de meio milhão de pessoas, conclui que a forma da doença que surge antes dos 25 anos tem uma carga hereditária mais forte e está associada a um risco consideravelmente elevado de tentativas de suicídio, abrindo caminho a abordagens de medicina personalizada

PS de Gaia acusa Ministério da Saúde de desinvestir em pediatria local

A secção do PS em Vila Nova de Gaia acusou esta sexta-feira o Governo de planear a desclassificação da pediatria e da cirurgia pediátrica na ULS local. Os socialistas consideram a intenção inaceitável, alertando que obrigará milhares de utentes a deslocações ao Porto, com custos acrescidos e perda de qualidade no atendimento, saturando outros hospitais

Novo método permite localizar microplásticos em tecido humano sem o destruir

Investigadores da Universidade Médica de Viena desenvolveram um novo método que localiza microplásticos no interior de tecidos humanos sem os destruir. A técnica OPTIR identifica quimicamente partículas e preserva a estrutura do tecido, permitindo correlacionar a sua presença com alterações patológicas. O avanço técnico, já testado em amostras de cólon humano, pode impulsionar a investigação sobre os efeitos dos plásticos na saúde

Agricultor belga transforma adversidade em sorrisos com quinta multifuncional

Dois acidentes graves forçaram Marc De Boey e a mulher a repensar a sua quinta pecuária na Bélgica. Com assessoria especializada, converteram o negócio num caso de sucesso: uma exploração multifuncional com produção própria de gelados, visitas e uma cooperativa que junta onze produtores locais, demonstrando a viabilidade de novos modelos rurais

Proteína Vegetal nas Escolas Pode Reduzir Impacto Ambiental em 50%

Um estudo liderado pela Universitat Oberta de Catalunya, em colaboração com o ISGlobal e a ASPCAT, concluiu que as sucessivas atualizações das diretrizes para ementas escolares na Catalunha diminuíram o impacto ambiental das refeições em 40% desde 2005. A substituição de proteína animal por leguminosas e cereais diversificados pode levar a uma redução de até 50%, sem comprometer o valor nutricional

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights