Investigadores defendem endoscopia associada a colonoscopia a cada 5 anos

19 de Junho 2024

A adoção do rastreio do cancro do estômago com endoscopia digestiva associada à colonoscopia, de cinco em cinco anos, permitiria “reduzir significativamente o número de casos e de mortes”, revela um estudo a que a Lusa teve hoje acesso.

Os resultados deste trabalho mostram que, em Portugal, o rastreio permitiria reduzir a incidência de cancro gástrico de 2.950 para 2.065, já que uma percentagem significativa destas neoplasias, se detetadas precocemente, é tratável por métodos minimamente invasivos.

A medida permitiria reduzir o número de mortes anuais por cancro gástrico de 2.332 para 895.

“Vivemos num país com uma elevada incidência de cancro gástrico, um cancro com elevada letalidade, uma vez que, na maioria dos casos, é silencioso e diagnosticado em estádios avançados. A deteção precoce só é possível com o rastreio em pessoas sem sintomas e através da vigilância de indivíduos de risco”, explicou Diogo Libânio, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Como primeiro autor de um estudo publicado no European Journal of Gastroenterology & Hepatology, o investigador analisou a relação custo-efetividade (que examina tanto os custos como as consequências/desfechos de programas ou tratamentos de saúde) do rastreio do cancro gástrico em três países europeus com diferentes incidências desta doença, bem como o impacto da utilização da inteligência artificial na custo-efetividade deste rastreio.

Os países são Portugal (com uma incidência intermédia a elevada), Itália (com uma incidência intermédia) e Holanda (com uma incidência baixa).

“Verificámos que, em Portugal, com a incidência atual de cancro gástrico e os custos atuais, há três estratégias de rastreio que são custo-efetivas. Em Portugal e em Itália, a associação de endoscopia digestiva alta à colonoscopia a cada 5-10 anos é a estratégia mais adequada”, explicou o investigador.

Portugal é considerado um país de incidência intermédia de cancro gástrico quando comparado com outros países, com 11 casos por 100 mil habitantes.

No entanto, olhando para a incidência bruta (não ajustada à idade), o país tem valores muito superiores (26/100.000), o que classificaria Portugal como um país de incidência elevada.

Neste estudo foi também analisada a relação custo-efetividade do rastreio do cancro gástrico (com e sem utilização de inteligência artificial), utilizando dados de incidência de cancro gástrico e de custos dos cuidados de saúde de cada país.

“O nosso estudo mostra também que a Inteligência Artificial, ao melhorar a deteção de cancro gástrico e a diminuição dos falsos negativos, tornaria o rastreio mais custo-efetivo nos vários países, incluindo Portugal”, disse o investigador.

Para Diogo Libânio, “a incorporação da inteligência artificial na prática clínica pode ajudar na deteção de lesões precoces e na minimização de falsos negativos, especialmente em contextos em que haja pouco treino na deteção destas lesões”.

A inteligência artificial pode ainda “auxiliar no diagnóstico e caracterização de condições pré-malignas, permitindo uma melhor identificação de doentes em maior risco de cancro gástrico e que beneficiam de vigilância específica”.

O professor da FMUP lembra que existem “recomendações recentes da Comissão Europeia que estimulam a implementação de programas de rastreio de cancro gástrico” e diz que “devemos mover esforços e lutar pela sua implementação”.

Contudo, salientou que o rastreio é “apenas uma das armas” e que a prevenção deste cancro implica igualmente “pesquisar e tratar a Helicobacter pylori, não fumar, reduzir o consumo de sal, enchidos e fumados, aumentar o consumo de legumes e de fruta, perder peso, praticar exercício físico e evitar a obesidade”.

Além de Diogo Libânio, assinam o estudo Mário Dinis Ribeiro, também da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Miguel Areia, do IPO de Coimbra, e investigadores de universidades de Roma, Milão e Roterdão.

LUSA/HN

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