Presente na Conferência da NOVAFRICA 2024, sobre o desenvolvimento económico em África, na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE, na sigla em inglês), Magda Robalo declarou que a ciência é “a pedra basilar do desenvolvimento no mundo” e que esta “ajuda em políticas de saúde”.
“África precisa de ciência para avançar, para desenvolver, desde as infraestruturas à saúde”, disse a especialista em Saúde.
A antiga ministra deu ainda o exemplo da recente pandemia da covid-19 e da velocidade no desenvolvimento de vacinas, que “não teria sido possível sem ciência”.
“As pessoas vivem melhor e mais tempo devido à ciência e à tecnologia, mas África contribui apenas com 2% para o desenvolvimento científico mundial”, lamentou.
Para Manuel Araújo, presidente da câmara de Quelimane, a capital da província da Zambézia, em Moçambique, também presente na conferência, a ciência, que definiu como “a organização metodológica dos dados”, tem de estar na base das decisões políticas.
Araújo lamentou ser mais fácil colaborar com a Universidade Nova de Lisboa do que com as universidades do seu país, porque, disse, como faz parte de um partido da oposição, o Movimento Democrático de Moçambique, os académicos “receiam partilhar” informação consigo.
A ciência também foi apontada na conferência como um meio para empoderar as mulheres em África, com consequências positivas para as economias destas nações.
Todavia, para Vivian Onano, fundadora e diretora da “Leading Light Initiative”, no Quénia, uma organização não-governamental com o objetivo de ajudar as mulheres, nomeadamente as mais vulneráveis, o investimento em mulheres tem sempre de ser justificado.
“Ainda temos de justificar que investir nas raparigas é investir na economia do continente. As mulheres estão nas áreas marginais do continente”, lamentou.
A ativista deu o exemplo de uma realidade que presenciou numa visita ao Mali e ao Burkina Faso, onde as raparigas, quando começam a menstruar, abandonam as escolas porque não têm educação sexual nem infraestruturas adequadas, o que afeta a economia destas nações.
Para Onano, a ciência pode ser uma aliada para se combaterem hábitos, rotulados de sociais e culturais, mas que são “errados”, tais como a mutilação genital feminina e os casamentos infantis.
“Durante muito tempo a mutilação genital foi justificada como sendo algo social, mas ir aos líderes e explicar que é mau não ajuda, por isso tem de se usar a ciência como aliada para justificar o porquê de serem práticas terríveis, usando dados científicos que justifiquem essas informações que são passadas”, afirmou.
Relativamente a crenças, Magda Robalo frisou que a medicina tradicional e a moderna devem ser usadas em conjunto, o que seria mais benéfico para todos.
“A divisão entre a medicina tradicional e a medicina moderna tem de ser ultrapassada. Devemos desenvolver um trabalho conjunto. Há um hospital, no Gana, que tem as duas opções para os doentes: podem escolher uma das duas vias”, explicou.
Segundo a antiga ministra da Saúde da Guiné-Bissau, existem “práticas muito boas” em ambas as vertentes e “não se pode descartar o tradicional apenas porque a tecnologia chegou”, sendo que esta nação africana é conhecida por se socorrer dos chamados curandeiros.
“Na Guiné-Bissau usam os curandeiros antes de irem para os hospitais. Por um lado, porque a medicina atual não é acessível, e, por outro, porque são curados por alguém que eles [os doentes] conhecem”, concluiu.
LUSA/HN
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