Vocacionado para o diagnóstico e tratamento de doenças da glândula tiroide e da voz, a implementação do novo departamento surge da necessidade de integração numa secção única, por forma a dar uma resposta mais eficaz, assertiva e personalizada.
Carlos Nabuco, médico cirurgião da cabeça e pescoço e coordenador do departamento Tiroide e Voz do Instituto Português da Face, explica que “surge da necessidade de disponibilizarmos um atendimento médico que reúna, num único serviço, as valências relacionadas com as doenças da tiroide (hipertiroidismo, hipotiroidismo, bócio, etc.) e da voz (rouquidão, fadiga vocal, etc.). Habitualmente, estas patologias são abordadas separadamente por profissionais de saúde distintos, mas, e uma vez que ambas estão frequentemente interligadas, sentimos que é essencial termos estas especialidades juntas num só departamento por forma a conseguirmos dar uma resposta mais direcionada e eficaz. O nosso departamento foi, por isso, idealizado por uma equipa multidisciplinar vocacionada para acompanhar estes pacientes e assim conseguir avaliar, tratar e acompanhar todas as questões da voz e da tiroide. Por outro lado, queremos também ajudar a desmistificar alguns conceitos errados que muitos pacientes trazem quando chegam até nós, como, por exemplo, o facto de acharem que é normal, após uma cirurgia à tiroide, terem rouquidão. No fundo, o nosso objetivo é ajudar o paciente em diversas vertentes.”
A associação entre estas duas patologias é muito frequente, podendo ter diversas origens: a tiroide por estar aumentada (bócio) pode dar origem a nódulos ou ser diagnosticada com cancro, o que pode interferir em funções tão básicas como a fala, a deglutição e a respiração; já as alterações da voz podem surgir por excesso e deficiente utilização vocal, por lesão das cordas vocais, podendo também manifestar-se devido a um processo fisiológico de envelhecimento ou porque o indivíduo não se identifica com a própria voz. De salientar que estes problemas ocorrem, frequentemente, após cirurgia à tiroide, pescoço ou tórax.
Quanto aos sinais e sintomas da tiroide, estes podem manifestar-se de diferentes formas, nomeadamente tiroide aumentada (bócio), sendo visível ou palpável na região central do pescoço; alterações da função tiroideia, funcionando a mais (hipertiroidismo) ou a menos (hipotiroidismo), estando por diversas vezes associada a doenças autoimunes; e rouquidão/disfonia, dificuldade em engolir/respirar. No que diz respeito às doenças da voz, estas podem manifestar-se através de “cansaço fácil” quando se tenta falar por mais tempo ou com mais intensidade que o habitual; rouquidão ou disfonia; alteração da qualidade da voz ou dificuldade em se identificar com a sua própria voz, em termos de idade ou género; e dificuldade em engolir ou respirar.
Em termos de prevalência, Tiago Costa, médico de otorrinolaringologia e cirurgião da cabeça e pescoço no Instituto Português da Face, revela que “em Portugal, e segundo dados do Ministério da Saúde de 2020, o cancro da tiroide é o oitavo cancro mais incidente, com mais de 1600 casos a surgirem todos os anos. Apesar de não ser um cancro muito usual, em termos de prevalência o cancro da tiroide é o terceiro tumor mais prevalente na mulher, sendo três vezes mais frequente que no homem. A nível mundial, conforme informações divulgadas pelo The Global Cancer Observatory, prevê-se a confirmação de, aproximadamente, meio milhão de novos casos em mulheres.” São fatores de risco “a exposição à radiação, sobretudo se esta acontecer em idades mais jovens, nomeadamente na infância, mas também síndromes genéticos e o facto de existirem na famílias vários membros com cancro da tiroide. Sem dúvida que todos estes fatores acrescem a possibilidade de carcinoma da tiroide, por isso se sublinha a importância do diagnóstico precoce e acompanhamento médico.”
Para um diagnóstico preciso é fundamental que o paciente seja avaliado e acompanhado por uma equipa médica multidisciplinar onde se incluem diversas valências: otorrinolaringologia, cirurgia da cabeça e pescoço, endocrinologia e terapia da fala. Esta abordagem integrada vai possibilitar avaliar a tiroide e a voz no máximo da sua plenitude, possibilitando um tratamento mais eficaz e uma melhor reabilitação. Os procedimentos podem incluir terapia da fala e tratamentos mais ou menos invasivos, como são disso exemplo a tiroidectomia, a laringoscopia em suspensão para injeção de diversas substâncias nas cordas vocais, a laringoscopia em suspensão para a remoção de lesões nas cordas vocais, ou ainda a reinervação laríngea.
PR/HN
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