Recentemente, Freiwald, da Universidade norte-americana de Rockefeller, descobriu uma área facial no cérebro especializada no reconhecimento de rostos familiares.
“Há áreas especializadas nos nossos cérebros que existem para um propósito, e apenas um propósito: reconhecimento facial. Estas áreas são feitas de células que são seletivas para rostos: respondem de forma diferente, normalmente mais, a rostos do que a outros objetos visuais”, explicou à Lusa, acrescentando que diferentes áreas faciais processam caras de modo distinto.
Por exemplo, células numa área facial são “muito seletivas para a orientação da cabeça”, enquanto numa outra são para a identidade do rosto.
“Estas áreas faciais estão ligadas para formar uma rede de processamento facial”, sublinhou o neurocientista.
Na realidade, segundo Winrich Freiwald, “a forma como o cérebro processa a informação que vem dos olhos sobre o rosto dos outros é surprendentemente simples”, apesar de o cérebro e a face dos humanos serem “muito complexos”.
Freiwald usa várias técnicas de trabalho, como imagens de ressonância magnética funcional, particularmente utilizadas para fazer o mapeamento da atividade cerebral, para localizar as áreas faciais.
Depois de localizadas, as diferentes áreas faciais no cérebro são objeto de registos eletrofisiológicos que permitem perceber como a informação é processada.
De acordo com Freiwald, o reconhecimento facial “mantém-se resiliente durante um longo período de tempo, provavelmente devido a alguma redundância no sistema”.
“Mas quando sucumbe à degeneração, e os entes queridos já não podem ser reconhecidos, é, figurativamente falando, uma primeira morte das nossas ligações sociais”, acentuou.
Winrich Freiwald admite que a ligação entre a perceção de um rosto e a memória – o reconhecimento de um rosto – acontece numa parte específica do cérebro, onde foi descoberta “uma área facial adicional cheia de células seletivas para pessoas familiares”.
Como interage com o “sistema de memória geral” é uma das questões que estão a ser estudadas pela equipa do neurocientista.
“Infelizmente, parte do circuito está localizado na zona do cérebro mais afetada por Alzheimer”, doença neurodegenerativa, frisou.
O laboratório que Winrich Freiwald dirige na Universidade de Rockefeller, focado no reconhecimento facial e na atenção, está a procurar, agora, “compreender como o cérebro gera sentimentos e como são alterados na depressão”, depois de ter descoberto “uma área no cérebro que processa expressões emocionais” dos rostos percecionados e uma “rede que controla a formação das expressões faciais”.
Freiwald também quer perceber como pessoas com autismo “têm grande dificuldade em reconhecer expressões emocionais nos rostos de outros”.
O neurocientista alemão espera poder fazer avanços neste campo juntamente com o neurocientista português Miguel Castelo-Branco, da Universidade de Coimbra, que se tem dedicado ao estudo do autismo, uma perturbação do neurodesenvolvimento que se caracteriza, nomeadamente, por dificuldade na interação e comunicação verbal e não verbal e por comportamentos e pensamentos restritos e repetitivos.
“Sei onde o reconhecimento das expressões faciais está a acontecer no cérebro e tenho as ferramentas para compreender como. O meu colega Miguel Castelo-Branco (…) tem ideias de como treinar pessoas com autismo para melhorar o reconhecimento de expressões”, disse Winrich Freiwald à Lusa.
LUSA/HN
0 Comments