Equipa comunitária de Gaia pede mais cuidados paliativos e ajuste terapêutico

11 de Setembro 2024

Um estudo da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos de Gaia defende o aumento dos recursos e o ajuste terapêutico ensinado aos cuidadores e familiares, para evitar mortes no serviço de urgência de doentes em fim de vida.

“O que percebemos com este estudo é que os doentes chegam aos cuidados paliativos bastante tarde e quando há esta transição de cuidados ela tende, também, a ser bastante abrupta, (…) as doses de medicamentos não estão ajustadas, as vias de administração não estão ajustadas e, porventura, algumas classes medicamentosas já estão inadequadas da função renal, hepática ou de composição corporal”, explicou hoje à Lusa o investigador e médico da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos de Gaia (ECSCP), Hugo Ribeiro.

O estudo, que decorreu durante todo o ano de 2021, abrangendo 64 doentes de ambos os sexos com uma faixa etária média de 73 ano, foi desenvolvido pela ECSCP, composta por Inês Rodrigues (médica da ECSCP Gaia), Hugo Ribeiro (médico da ECSCP Gaia e professor na faculdades de Medicina das Universidade Coimbra (FMUC) e do Porto (FMUP)), Carolina Costa (médica da Unidade de Saúde Familiar Barão do Corvo, em Gaia), João Rocha Neves (cirurgião vascular no Hospital Luz – Póvoa do Varzim e professor da FMUP) e Marília Dourado (professora da FMUP).

Segundo o membro da equipa, entre os doentes que participaram no estudo, “os que acabaram por falecer, e que estavam em cuidados de fim de vida, a variante mais relevante foi a medicação em SOS”, concluindo a investigação pela necessidade de “ensinar e capacitar os cuidadores e os familiares para identificarem algumas alterações que veem nos doentes e atuarem em casa, porque se o fizerem evitam uma escalada terapêutica e, inclusive, recorrer aos serviços de urgência, mantendo-se o doente confortável e com qualidade de vida em casa, evitando a morte no serviço de urgência”.

“Para tal, é preciso o reforço das equipas de cuidados paliativos”, enfatizou Hugo Ribeiro, que alertou ainda para outras metas: “os resultados que temos a nível nacional não são publicados e, se não são, temos dificuldades em fazer estudos comparativos pelo que, para além de mais equipas, de mais profissionais, são precisos também mais estudos publicados”.

Segundo o investigador, o estudo publicado no final de agosto na Pharmaceutics “uma das revistas mais relevantes da área da farmacologia” está incluído em “várias outras investigações” que a equipa fez “para avaliar a qualidade da transição de cuidados para uma equipa comunitária de doentes altamente complexos do ponto de vista clínico”.

“São doentes seguidos pela nossa equipa de cuidados paliativos e que acabam por ter vários tipos de doença, desde a oncológica, neurodegenerativa, insuficiência de órgão, e que são, ao mesmo tempo, doentes polimedicados, com várias necessidades”, acrescentou.

Os resultados do estudo foram enviados ao conselho de administração da Unidade Local de Saúde Gaia e Espinho, aguardando a equipa de investigadores pela reforma do sistema de saúde e de que forma ocorrerá “a reorganização dos cuidados paliativos e qual será a sua importância” e se haverá “especialidade em medicina paliativa”, um passo que Hugo Ribeiro classificou de “fundamental para aumentar a exigência e o critério de ajuste às necessidades dos doentes com um conhecimento vasto e aprofundado da farmacologia”.

LUSA/HN

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