Portugal Healthcare Summit 2024: Implementação de Iniciativas Inovadoras na Saúde

25 de Setembro 2024

No final da manhã de hoje, no Portugal Healthcare Summit 2024, que decorre em Lisboa, teve lugar uma mesa dedicada ao tema “Implementação de Iniciativas Inovadoras na Saúde”. A mesa teve seis convidados, o primeiro dos quais Fernando Almeida

Na sua intervenção, o Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde (INSA, I.P.) enfatizou três aspetos fundamentais para a transformação do sistema nacional de saúde:
Conhecimento: Almeida destacou a importância do conhecimento como base para qualquer ação efetiva no setor de saúde, defendendo que é essencial realizar estudos aprofundados e basear a inovação em evidências sólidas.
Impacto da inovação: O segundo ponto levantado por Almeida foi a necessidade de compreender e prever o impacto real das inovações propostas, garantindo que sejam não apenas inovadoras, mas também eficazes e eficientes.
Foco no doente: Por fim, Almeida ressaltou a importância de manter o foco no doente, advertindo contra a tendência de tratar o doente como um elemento central, mas na prática, apenas “girar em torno” dele sem resolver os seus problemas reais.
Fernando Almeida também abordou os desafios atuais enfrentados pelo sistema de saúde, incluindo:
• O aumento da procura por serviços de saúde
• As mudanças sociodemográficas, incluindo migrações e movimentos populacionais
• A escassez de recursos humanos, tanto em número quanto em qualificação
• A necessidade de investimentos financeiros
• A demanda por equipamentos e materiais adequados
Francisco Pavão, Chefe da Divisão da Cooperação em Saúde da Secretaria Geral do Ministério da Saúde, trouxe uma perspetiva sobre a importância da cooperação internacional no setor da saúde. O responsável explicou o papel da sua divisão na coordenação das relações internacionais e cooperação em saúde entre os diversos organismos do Ministério da Saúde português.
Pavão destacou a relevância da articulação com agentes internacionais, incluindo organizações internacionais, prestadores privados e públicos, e outros Estados, enfatizando que essa colaboração internacional é fundamental para:
• Compartilhar boas práticas;
• Manter-se em constante desenvolvimento frente à concorrência internacional;
• Participar em fóruns globais importantes, como a Cimeira do G20 e a Assembleia Mundial das Nações Unidas.
O orador também mencionou a celebração dos 45 anos do Serviço Nacional de Saúde português, destacando os seus desafios e conquistas e o reconhecimento internacional do sistema de saúde português, citando exemplos como:
• A participação de Portugal na luta contra a resistência antimicrobiana;
• O convite para participar, pela primeira vez, na Cimeira do G20;
• O reconhecimento internacional da transformação digital do sistema de saúde português.
Pavão também abordou a questão das alterações climáticas como um desafio crucial para os sistemas de saúde, enfatizando a necessidade de resiliência e sustentabilidade. Na sua intervenção, o especialista mencionou iniciativas como:
• O conceito de “hospitais verdes”;
• Esforços de descarbonização em instituições de saúde, como o Hospital de Santa Maria;
• Iniciativas de sustentabilidade ambiental no setor privado de saúde;
A Francisco Pavão seguiu-se Eduardo Antunes, Executive Board Member, na Glint Global, reponsável pela Glintt Life Hospitals, que na sua intervenção destacou três elementos fundamentais para promover a mudança necessária no setor da saúde: coragem, resiliência e financiamento. Segundo Antunes, o primeiro passo é ter a coragem de implementar mudanças significativas, mesmo que os resultados não sejam imediatos ou que os benefícios só sejam colhidos por administrações futuras.
“É preciso haver coragem para avançar sem medo e tomar decisões, mesmo sabendo que provavelmente essa iniciativa não vou ser eu a concluí-la. Serão outros, mas isto é positivo para o país, para a Europa e para os países em geral”, afirmou Antunes.
O especialista também enfatizou a importância da resiliência, reconhecendo que nem todas as iniciativas terão sucesso imediato. “Existem problemas, existem secções, existem situações que achamos que vão ter sucesso, mas quando avaliamos os resultados, vemos um insucesso enorme ou então um sucesso menor do que nós gostaríamos de atingir. É preciso resiliência, é preciso paciência, é preciso cair e voltarmos a levantar”, explicou.
O terceiro elemento crucial, segundo Antunes, é o financiamento que, argumentou, embora existam recursos disponíveis, muitas vezes eles são utilizados para fazer as mesmas coisas do passado, apenas com uma “cara lavada”. O especialista defende que é necessário usar o investimento para promover uma verdadeira transformação no setor.
Bruno Trigo, Diretor de Arquitetura, Negócio e Análise de Dados, dos Serviços Partilhados Do Ministério da Saúde, abordou a questão da inovação tecnológica na saúde, destacando que muitas vezes o foco excessivo na digitalização pode obscurecer problemas mais fundamentais nos processos de saúde. Trigo argumentou que, antes de desenvolver novas soluções tecnológicas, é crucial identificar e resolver lacunas nos processos existentes.
“Uma das questões ou uma das dificuldades que nós sentimos, principalmente nos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, em desenvolver soluções, é que, ao tentar identificar o caminho para desenvolver a solução, percebemos que o processo não existe”, explicou Trigo.
O especialista usou como exemplo o processo de renovação de medicação habitual, que foi digitalizado sem que houvesse um processo claro estabelecido anteriormente. Trigo enfatizou a necessidade de desenhar soluções que realmente resolvam problemas, em vez de simplesmente transferir a responsabilidade de um desafio para o meio digital.
Outro ponto crucial levantado por Trigo foi a importância da formação dos profissionais de saúde para lidar com as novas tecnologias, defendendo que o investimento na formação não deve ser visto como um custo, mas sim como um investimento no futuro do sistema de saúde e na retenção de talentos.
“O investimento na formação dos profissionais será, não um custo, mas um investimento, porque para mim, também aos profissionais terão na sua carreira mais um atrativo para, por exemplo, ficar em Portugal”, disse Trigo, referindo-se ao problema da fuga de cérebros no setor da saúde.
O especialista também destacou a necessidade de melhorar a comunicação com os cidadãos, garantindo que eles compreendam as mudanças e os novos recursos disponíveis no sistema de saúde. Trigo argumentou que não basta implementar novas tecnologias se os cidadãos não souberem como utilizá-las ou não entenderem os seus benefícios.
Seguiu-se a apresentação de Eliza Tarazona, Administradora Delegada do Grupo Ribera que enfatizou a importância da transformação cultural nas organizações de saúde. A responsável defendeu que, antes de implementar novas tecnologias, é necessário mudar a mentalidade e a cultura organizacional.
“Antes de transformar algo, devemos transformar culturalmente aquilo que queremos fazer”, afirmou a especialista, que também destacou a importância de superar resistências à mudança, tanto por parte das instituições quanto dos profissionais e doentes.
Como exemplo prático de inovação, a especialista mencionou o uso de uma “enfermeira virtual” chamada Lola, que utiliza tecnologia de voz e inteligência artificial para monitorar pacientes em suas casas. Este sistema tem demonstrado resultados positivos, reduzindo visitas desnecessárias a emergências e internamentos hospitalares, além de melhorar a satisfação dos pacientes e das suas famílias.
A conferência concluiu que o futuro da saúde depende de uma abordagem holística que combine coragem para implementar mudanças, resiliência para superar obstáculos, financiamento adequado, inovação tecnológica bem pensada, formação contínua dos profissionais e uma transformação cultural profunda nas organizações de saúde.

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