Estudo sugere diferentes indicadores que podem contribuir para a precisão do diagnóstico de hipertensão

27 de Setembro 2024

Um estudo internacional publicado na prestigiada revista científica The Lancet, que envolveu uma rede de colaboração de mais de 500 cientistas de todo o mundo, procurou compreender de que forma o Índice de Massa Corporal (IMC) e o Rácio Cintura/Estatura (WHtR) podem ajudar a distinguir pessoas com ou sem diagnóstico de hipertensão.

A investigação revela que os dois indicadores – IMC e WHtR – podem ajudar a diferenciar pessoas com ou sem diagnóstico de hipertensão, alertando, no entanto, para as diferenças existentes em diferentes regiões do mundo na análise deste problema de saúde.

Foram analisados dados de 837 estudos epidemiológicos anteriores, referentes a cerca de 7,5 milhões de pessoas adultas, com idades compreendidas entre os 20 e os 64 anos de idade, oriundas de 181 países, para compreender a associação entre o IMC e a relação cintura-estatura, entre os anos de 1990 e 2023.

O IMC é uma medida que usa informações do peso e da altura, em função da idade, e que pode ajudar a identificar problemas relacionados com a desnutrição e/ou obesidade. Já o WHtR utiliza informações sobre o perímetro da cintura e estatura para analisar a distribuição de gordura e, consequentemente, o potencial risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

A investigação foi realizada pela rede de cientistas da área da saúde NCD Risk Factor Collaboration, em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), e coordenada pelo Imperial College London. Contou com a participação de três investigadores da Universidade de Coimbra (UC): do docente da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Aristides Machado-Rodrigues; da docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia e coordenadora do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), Cristina Padez; e da docente do Departamento de Geografia e Turismo e investigadora do CIAS e do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, Helena Nogueira.

O estudo revela que “o Índice de Massa Corporal pode ser usado como um indicador com precisão moderada a elevada para a diferenciação de pessoas adultas jovens e de meia-idade, com maiores e menores quantidades de adiposidade abdominal”. Os investigadores da UC explicam que, no entanto, “para o mesmo valor de IMC, as pessoas do Sul da Ásia, da América Latina e das Caraíbas, bem como da região da Ásia Central, Médio Oriente e do Norte de África, apresentam valores do rácio cintura/estatura mais elevados comparativamente às outras regiões do globo”.

Estas informações podem, futuramente, “justificar valores de corte diferenciados de rastreio se, ao nível dos cuidados de saúde primários, forem considerados limites específicos de adiposidade abdominal em função do sexo e da região geográfica”, avançam Aristides Machado-Rodrigues, Cristina Padez e Helena Nogueira.

O artigo científico General and abdominal adiposity and hypertension in eight world regions: a pooled analysis of 837 population-based studies with 7·5 million participants está disponível em https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(24)01405-3/fulltext.

UC/PR/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Um terço dos portugueses desconhece direito a segunda opinião médica

Trinta por cento dos cidadãos inquiridos num estudo pioneiro não sabem que podem solicitar uma segunda opinião médica. O desconhecimento dos direitos na saúde é particularmente preocupante entre doentes crónicos, que são quem mais necessita de navegar no sistema

Internamentos sociais disparam 83% em dois anos e custam 95 milhões ao SNS

A taxa de internamentos considerados inapropriados – situações que poderiam ser tratadas em ambiente não hospitalar – cresceu quase 20% nos últimos dois anos. Os custos associados a estas permanências dispararam 83%, pressionando a sustentabilidade financeira do sistema de saúde e revelando falhas na articulação com a rede social

Quase 15% dos utentes continuam sem médico de família atribuído no SNS

Apesar de uma ligeira melhoria em 2024, 14,5% dos utentes inscritos nos cuidados de saúde primários continuam sem médico de família atribuído. As assimetrias regionais são gritantes, com Lisboa e Vale do Tejo a concentrar a maior fatia desta carência, levantando sérias questões sobre a equidade no acesso à saúde

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights